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Sexta-feira, Março 29, 2024

América Latina: um conto de dois modelos

João Ricardo Costa Filho
João Ricardo Costa Filho
Professor do Mestrado Profissional em Economia da Fundação Getúlio Vargas/EESP e Professor da Faculdade de Economia da FAAP

Transcorrida quase uma década após a maior crise financeira desde a Grande Depressão assolar o mundo (especialmente os países desenvolvidos), a experiência do pós-crise tem sido muito distinta dentre os países que compõem a chamada América Latina.

Escrevi três rápidos comentários sobre o assunto recentemente (Macroeconomic models in Latin America: choices and consequences (I), Macroeconomic models in Latin America: choices and consequences (II) e Macroeconomic models in Latin America: choices and consequences (III)) e este artigo é uma forma de continuar o debate.

Podemos perceber que existem fundamentalmente dois tipos de países: aqueles que se veem aprisionados em uma espiral de baixo crescimento e alta inflação e outros que possuem um melhor desempenho nos dois quesitos. Claro que cada país possui as suas idiossincrasias e, portanto, um artigo apenas seria muito pouco para aprofundar a análise sobre todos os países. Mas sobressai a alta correlação entre países orientados ao mercado e os orientados aos negócios com a dinâmica das supracitadas relações de crescimento-inflação.

No primeiro caso, os países que privilegiam as soluções de mercado (em termos relativos, claros) registraram um pós-crise melhor, ao passo que os gestores dos países que escolheram o outro modelo não podem dizer o mesmo. A orientação ao mercado está longe, muito longe de um laissez-faire. Têm mais uma relação com o liberalismo que entende a importância do Estado em corrigir falhas de mercado e não escolher os vencedores, quando não ser o próprio protagonista da vitória. Embora essa relação pareça mais um “sabor”, porque é difícil defender que um governo seja (ou tenha sido) realmente liberal na região.

Produtividade total dos fatores

Paul Krugman já nos disse que a produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. Quando tomamos o Brasil como exemplo, tanto a foto quanto o filme preocupam. Com base nos dados da Penn World Table 9.0, o crescimento da chamada produtividade total dos fatores (PTF) tem decepcionado no pós-crise:

PTF – Penn World Table
Brasil Colombia Paraguay Venezuela
2000-2004 0.1% -0.1% 0.4% -0.7%
2005-2009 0.6% 0.8% 0.3% 1.5%
2010-2014 -1.0% 0.9% 2.8% -1.9%


A produtividade decresceu em média 1% no período de 2010 a 2014. No mesmo período, a produtividade da Colômbia cresceu em média 0,9% e do Paraguai 2,8%. Acompanhando o Brasil temos a Venezuela, com queda de 1,9%, em média.

Acemoglu e Robinson já nos mostraram que o fracasso das nações está, em geral, associado às escolhas em relação às instituições. A organização da economia e o protagonismo dos agentes são cruciais para essas escolhas. No curto prazo, os grupos de interesse que se apropriaram do Estado para manter a sua posição social relativa podem muito bem utilizar o aparato governamental para sustentar a sensação de bem-estar social. Mas no longo prazo fica difícil que a realidade econômica não se imponha.

No momento que a América Latina deixar as (momentaneamente) confortáveis práticas populistas e fizer as escolhas, embora difíceis, poderá haver alguma esperança de que a chamada “armadilha da renda média” deixe de ser uma realidade. Uma vez ou outra alguns países fazem escolhas nessa direção, mas os custos no curto prazo fazem com a que população traga de volta ao poder governantes que desviam o país da rota do desenvolvimento e os países da região ficam, na melhor das hipótese, oscilando entre os dois modelos. É a economia política, estúpido!

O Autor escreve em português do Brasil

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