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Sexta-feira, Abril 19, 2024

Brasil e Irão com presença marcante na competição

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

61º SEMINCI | Cinema de autor | Brasil - Irão

Como já referimos num dos textos anteriores sobre esta mostra de Valladolid, o facto de a SEMINCI não pertencer ao grupo de festivais europeus de primeira grandeza (Berlim, Cannes, Veneza, Karlovy Vary, San Sebastián,…) permite-lhe incluir na sua secção oficial competitiva muitos filmes que concorreram (e em alguns casos foram premiados) noutras paragens. É o  caso das quatro películas de que falamos hoje.

Filmes Brasileiros

Aquarius

Aquarius | Filmes Brasileiros

Comecemos com “Aquarius” – aqui baptizado de “Doña Clara” – película brasileira que brilhou, no passado mês de Maio no Festival de Cannes – e que já foi, nessa altura, objecto de tratamento circunstanciado nestas páginas. O realizador é Kleber Mendonça Filho, cineasta pernambucano (Recife, 1968), crítico de cinema e responsável da Fundação Joaquim Nabuco com a qual já tivemos, de resto, ocasião de colaborar no âmbito do programa “Cumplicidades” promovido há alguns anos pela portuense ‘Gesto-Cooperativa Cultural’. Com uma obra muito centrada na sua cidade natal, Kléber Mendonça Filho teve já retrospectivas em Toulouse, Roterdão e Santa Maria da Feira e é, na actualidade, um dos mais prestigiados autores brasileiros. “Aquarius” é um filme de intervenção e de resistência mas está muito longe de ser um panfleto. Pelo contrário é um trabalho muito cuidado e de grande beleza, uma afirmação de luta por valores e memórias (familiares, musicais, de oposição à ditadura, …).

Uma Sónia Braga madura, mas ainda esplendorosa de talento, dá corpo a uma personagem que resiste à prepotência e às diatribes da especulação imobiliária e que quer apenas continuar a viver na casa em que sempre viveu, na marginal da Praia da Boa Viagem, na capital de Pernambuco. Muito admirados ficaremos se “Aquarius” não vier a constar do palmarés desta edição da SEMINCI.

Mãe há só uma

Mãe há só uma | Filmes Brasileiros

O outro filme brasileiro presente no Festival é “Mãe há só uma” de Anna Muylaert, a autora de “Que horas ela volta?” estreado em Portugal em Dezembro passado, premiado em Sundance e em Berlim e candidato do Brasil ao Oscar para o Melhor Filme Estrangeiro. Em “Mãe há só uma” conhecemos o drama de um rapaz que aos 17 anos se vê confrontado com a descoberta de ter sido roubado do hospital, aquando do seu nascimento, pela mulher que desde sempre conheceu como sendo a sua mãe.

Todo o seu mundo se desmorona e os desafios que se lhe deparam são múltiplos: a mudança de nome, o conhecimento de uma nova família (cultural e socialmente muito diferente da anterior) e a dificuldade em afirmar a sua personalidade marcada por uma orientação sexual que não é a maioritária. Baseado em factos reais que abalaram a sociedade brasileira, tendo até sido tratados em telenovelas, o filme trata de forma muito interessante temas que são transversais a todas as geografias, como o direito à afirmação da personalidade individual, o direito à diferença e o debate recorrente da oposição (muito frequente) entre a família afectiva e a biológica.

Filmes Iranianos

Outra filmografia em grande destaque na SEMINCI é a do Irão, com dois títulos em competição e com o ciclo/retrospectiva “Querido Abbas” dedicado à obra de Abbas Kiarostami, vencedor por duas vezes da “Espiga de Ouro”, prémio maior deste certame.

Forushande

 

Forushande | Filmes Iranianos

Asghar Frahadi é, hoje em dia, a par de Jafar Panahi,  e depois do desaparecimento de Kiarostami, um dos nomes mais conhecidos do cinema iraniano. Desta vez trouxe-nos “Forushande” (O Viajante), um filme com algo de “thriller” e policial que confirma as suas qualidades de realizador. Vencedor dos prémios para o melhor guião e para o melhor actor (Shahab Hosseini) em Cannes o filme conta a história de um professor de literatura que também é actor e está a ensaiar “Morte de um caixeiro viajante” de Arthur Miller.

A trama da peça de teatro e acontecimentos (alguns dramáticos) da vida pessoal dos actores entrecruzam-se num argumento que, a exemplo das obras anteriores de Farahdi, explora as relações familiares e interpessoais com assinalável maestria. Sem chegar ao brilhantismo de “A Separação” – Oscar para o melhor filme estrangeiro em 2011 – “Forushande”/O Viajante, é um trabalho que enriquece sobremaneira a programação da SEMINCI.

Dokhtar

Dokhtar | Filmes Iranianos

Igualmente de nível muito razoável “Dokhtar”/A Filha, de Reza Mirkarimi, a história de uma filha que procura afirmar a sua vontade e identidade perante um pai fortemente marcado por uma cultura patriarcal e autoritária. O inevitável (e inadiável ?) conflito entre modernidade e tradição e a perservação da unidade da família são temas fundamentais desta obra que nos dá a conhecer outro promissor cineasta iraniano.

 

Os filmes em vídeo

“Aquarius”

“Mãe há só uma”

“Forushande”

https://youtu.be/wgPdkCB7sKY

“Dokhtar”

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