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Quinta-feira, Março 28, 2024

A coligação na Alemanha está formada, falta apenas a aprovação do SPD

A negociação da aliança para formar um governo na Alemanha já foi concluída entre os líderes Angela Merkel, dos conservadores (CDU), e Martin Schulz, dos sociais-democratas (SPD), que abandonou na quarta-feira (14) o cargo de líder do partido – a sucessora poderá ser Andrea Nahles, primeira mulher a liderar o SPD. As discussões causaram alguns descontentamentos, e agora falta apenas o resultado do referendo interno do Partido Social Democrata.Em setembro de 2017, Angela Merkel foi reeleita, mas sem maioria parlamentar; já o SPD teve o seu pior resultado nas eleições desde a Segunda Guerra. Ambos os partidos decidiram reativar sua coligação para fazer com que fosse possível governar. E agora os termos da nova coligação estão prontos, o que falta é apenas a aprovação dos militantes do SPD no referendo interno do partido.

O percurso não foi fácil. Merkel evitou acordos com a extrema-direita alemã, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que conseguiu 12% dos votos nas eleições de setembro, uma porcentagem alarmante- já que com ela a extrema-direita voltou a ter voz no parlamento desde a queda do nazismo no país. O Ministério das Finanças ficou sob controle dos sociais-democratas, o que aumentou as críticas dos conservadores em relação à Merkel. O deputado Christian von Stetten, em declarações a TV ARD, considerou que a formação do governo “é um grave erro político”, e publicações em jornais como o Bild e o Süddeutsche Zeitung criticaram fortemente a primeira-ministra, acusando-a de querer conservar o seu cargo “a qualquer preço”.

Mais do que na ala dos conservadores, o maior rebuliço atingiu os sociais-democratas, e mais especificamente seu ex-lider e principal figura a favor da coligação, Martin Schulz. Logo após o resultado das eleições de setembro (preocupante para o seu partido), Schulz anunciou que não negociaria com a CDU, e que seu partido voltaria a fazer oposição ao governo após reorganizar suas pautas conforme sua linha ideológica (em tese mais à esquerda). Pouco depois voltou atrás e defendeu que uma coalização que permitisse a participação do SPD na administração governamental possibilitaria a aplicação de medidas mais voltadas para o cunho social, sendo possível uma guinada à esquerda nas decisões do Estado.

O SPD ficou dividido: enquanto parte dos seus componentes apoia os argumentos de Schulz, a outra parte, especialmente os militantes jovens do partido, é contra a coalização com os conservadores. Segundo eles, ao fazer isso, o SPD deixa o caminho livre para que a AfD se torne a principal força de oposição ao governo, adotando a imagem de “alternativa” e de representação do “novo”.

Na semana passada, as críticas sobre Schulz dentro do seu próprio partido aumentaram drasticamente, após este aceitar o cargo de Ministro das Relações Exteriores em um governo com Merkel. Como informa o Publico, o ato fez com que a juventude partidária colocasse sua credibilidade em dúvida. “ deveria saber que isso iria enfurecer as bases, tendo em conta o atual estado de espírito do partido. Foi um erro não ter elaborado uma narrativa qualquer para explicar a decisão de entrar no governo, depois de originalmente ter dito que não o faria”, apontou ao Financial Times o deputado do SPD Jens Zimmermann. Após as criticas, Schulz renunciou ao cargo: anuncio a minha renúncia em me juntar ao Governo federal, ao mesmo tempo que desejo sinceramente que ponha fim aos debates dentro do SPD” Esperando que essa sua decisão convença os militantes do SPD a votarem a favor da renovação da “grande coligação”. O resultado do referendo interno do partido será divulgado no dia 4 de março.

Segundo uma sondagem da Emnid para o jornal Bild am Sonntag, divulgado pelo Publico, 84% dos simpatizantes do SPD na Alemanha apoiam a nova coalização. Já o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, aponta que o número de apoiantes de uma “grande coligação” entre os entrevistados em geral é de 57%. Contudo, a divisão entre os membros do partido é grande, tornando difícil a previsão de qual será o resultado.

Andrea Nahles poderá ser a primeira mulher a liderar o SPD

Agora, Martin Schulz deixou a liderança dos sociais-democratas antes do previsto, justificando a decisão dizendo que o SPD precisa de renovação tanto em termos de pessoas, quanto em termos de programa. Uma possível sucessora é Andrea Nahles, antiga ministra do trabalho (foi durante seu mandato no cargo que a Alemanha aprovou o salário mínimo a nível nacional) e líder da bancada parlamentar do SPD. Como explica o Publico, ela é conhecida pela sua postura inconformada e pelos seus discursos incisivos, vista como uma das pessoas mais capazes para revitalizar o partido de centro-esquerda diante da sua maior crise de identidade até o momento. Se for legitimada pelos militantes em um próximo congresso, esse será seu maior desafio.

Por Alessandra Monterastelli | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

Imagem de destaque: Michaela Rehle/Reuters

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