Diário
Director

Independente
João de Sousa

Sexta-feira, Abril 19, 2024

Depois das baterias dos seus telefones, o império ameaça explodir

samsung-note-seven-1

Para a Samsung Electronics, o ramo high-tech do conglomerado sul-coreano, as dificuldades acumulam-se desde a rentrée, no preciso momento em que os herdeiros do patriarca Lee Kun-hee devem retomar as rédeas da empresa.

Esta semana (29/11), a empresa anunciou que pretende dividir-se em duas, a fim de criar, por um lado, uma holding financeira e, por outro, uma unidade industrial. Uma iniciativa que lhe foi sugerida por um fundo americano em Outubro passado.

Fiasco do Galaxy Note 7

samsung-note-7-problemas-bateriaA Samsung está sob pressão, incitada a rever a sua governance depois do escândalo do Galaxy Note 7, o seu smartphone topo de gama que acabou por retirar definitivamente do mercado após os numerosos incêndios de baterias, e de duas recolhas sucessivas de mais de 2,5 milhões de aparelhos. A juntar à confusão, as conclusões do inquérito conduzido no sentido de conhecer as causas deste sobreaquecimento não são ainda conhecidas; segundo o Korea Herald, deverão ser tornadas públicas no próximo mês, o que já tarda pois, neste caso, a Samsung passou a imagem de nada controlar, especialmente em termos de comunicação.

A imagem desastrosa projectada pela empresa durante esta “sequência” foi agravada por outro rude golpe, o das máquinas de lavar. Cerca de três milhões de máquinas de lavar roupa foram retiradas do mercado nos Estados Unidos, no início de Novembro, após quase uma dezena de casos de ferimentos nos utilizadores, mais uma catástrofe comercial para os coreanos que prejudica doravante a componente industrial.

Escândalo de corrupção na Coreia

coreiaContudo, a maldição não é apenas económica, é também institucional. De facto, a justiça coreana descobriu, no contexto de uma investigação sobre um escândalo político que envolve a presidente do país, Park Geun-hye, o envolvimento da Samsung Electronics. Magistrados do Ministério Público ordenaram buscas à sede da empresa a 8 de Novembro, tentando encontrar vestígios de um montante entregue a uma amiga da presidente, Choi Soon-sil.

Segundo a imprensa sul-coreana, esta terá recebido 2.8 milhões de euros através de uma doação fraudulenta para financiar a formação equestre da sua filha na Alemanha. Os magistrados querem saber se a Samsung subornou Choi Soon-sil a fim de obter luz verde do governo numa fusão controversa, realizada em 2015.

Choi Soon-sil está acusada de fraude e de abuso de poder. Esta questão de corrupção está na origem das manifestações que se sucedem no país ao longo de várias semanas exigindo a saída da presidente, tanto mais que a oposição iniciou um processo de destituição.

Crise de governance

A empresa precisa de retomar o bom caminho, mas, para isso, necessita de ter um verdadeiro dirigente. Segundo a KBS World Radio (ex-Radio Coreana Internacional), citada pela AFP, para suceder ao seu pai e assegurar um controle estável da sociedade, Lee Jae-Yong, o actual vice-presidente da Samsung Electronics deve aumentar o capital. No novelo de participações através das quais a família controla o “chaebol” (termo coreano para os grandes conglomerados que dominam a economia coreana em cerca de 90% do PIB), na realidade apenas detém 5%.

Ora, no estado actual da valorização bolsista (211 milhões de euros), Lee Jae-Yong não pode aumentar a sua participação. A criação de uma holding financeira permitiria à dinastia Lee tornar-se o accionista principal, apesar de à custa de um investimento de 8 milhões de euros. São necessários, pelo menos, seis meses para estudar esta opção, afirmou a Samsung esta terça-feira.

Pressão dos accionistas

samsungA cisão permitiria ainda, não só satisfazer as exigências dos acccionistas que reclamam maior visibilidade sobre os seus investimentos, mas também mais dividendos e uma cotação em Bolsa de acordo com os valores comparáveis dos sectores. O fundo de investimento americano Elliott, gerido pelo bilionário Paul Singer, que detém cerca de 0,6% do capital da Samsung Electronics, está a conduzir o processo. Singer advoga uma cisão e a entrada na Bolsa de Nova Iorque e pede um dividendo excepcional de 24,2 milhões de euros.

A Samsung anunciou nesta Terça-feira que aumentará os dividendos, ainda este ano, em mais de 3,2 milhões de euros (+30% num ano). Está empenhada em redistribuir 50% da sua liquidez em 2016 e 2017. A empresa vai também nomear um administrador com o pelouro internacional. O conselho de administração é actual e integralmente composto por coreanos. Demasiado ligado ao poder, demasiado dinástico, demasiado coreano. A Samsung terá que se transformar para vencer a crise.

Fonte: AFP

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -