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Sexta-feira, Março 29, 2024

Decorreu em Maputo a Conferência da lusofonia sobre o ensino superior

Guilherme Alpiarça, em Maputo
Guilherme Alpiarça, em Maputo
Jornalista; voluntário em Moçambique desde 2012

Académicos e políticos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Macau, Moçambique, Portugal e Timor-Leste discutiram durante três dias o papel do ensino superior para o desenvolvimento dos países e regiões de língua portuguesa.

Esta Conferência Internacional foi organizada pelo Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa (FORGES), em parceria com cinco universidades moçambicanas, e realizou-se nos dias 29, 30 de Novembro e 1 de Dezembro de 2017, na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique.

A importância da Conferência foi visível pela qualidade científica e intelectual dos professores e investigadores intervenientes, pela presença de políticos, nomeadamente o Ministro do Ensino Superior de Moçambique, a Vice-Ministra da Educação e Cultura de Timor-Leste, Lurdes Bessa, e o Secretário de Estado do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação de Angola, Eugénio da Silva, para além da presença activa de reitores de cinco Instituições de Ensino Superior moçambicanas, mas também de reitores e vice-reitores de universidades brasileiras e portuguesas.

Os três dias de debates distribuídos por três painéis, “Desafios da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa em Tempos de Austeridade: Experiências e Lições. Os desafios do Desenvolvimento. Qual o Papel das Instituições de Ensino Superior?”, “Expansão, Relevância, Qualidade e Empregabilidade dos Graduados do Ensino Superior dos Países e Regiões de Língua Portuguesa” e “Os desafios do Desenvolvimento da Pesquisa e da base de conhecimento sobre o Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa”, tendo havido um Workshop (Cooperação Académica para o Desenvolvimento: Redes, Parcerias e Financiamento) no primeiro dia, outro no segundo (A Gestão da Internacionalização na Educação Superior e a Formação de Líderes em Cooperação Internacional Universitária), bem como, sessões paralelas com muitas comunicações científicas.

Na Sessão de Abertura houve intervenções dos governantes de Angola, de Moçambique e de Timor-Leste, bem como da Presidente do FORGES, Luísa Cerdeira, e do Reitor da Universidade Eduardo Mondlane. Os académicos intervenientes foram muitos e a título de exemplo destacamos algumas das preocupações apresentadas.

De Angola

Eugénio Silva, Secretário de Estado do Ensino Superior de Angola

Alfredo Buza, docente do Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, e ex-Director do Departamento de Formação Avançada do Ministério de Ciência e Tecnologia, com base em um estudo realizado em Luanda, referiu que foram «identificados desafios como uma maior divulgação da produção científica, mais socialização entre os investigadores e melhoria do acesso ao conhecimento que tem sido produzido». Na opinião do académico angolano é preciso haver «mais inter-acção entre investigadores e docentes nacionais, aumento da cooperação institucional entre as instituições locais ou nacionais e a definição de linhas de investigação e de grupos de investigação nas instituições».

Do Brasil

Aldo Nelson Bono, Presidente da Associação Brasileira das Universidades Estaduais e Municipais, no seu discurso, salientou o facto de «apesar da melhoria dos níveis de educação superior no país nas últimas décadas, constata-se que o Brasil possui índices inferiores aos de países desenvolvidos e, além disso, as importantes acções de inclusão social têm se mostrado insuficientes para atender à totalidade dos alunos com dificuldade de acesso ao ensino superior». Na opinião de Aldo Bono, por esta razão, «torna-se evidente a instauração de políticas públicas de estado para a garantia dos avanços obtidos, bem como para a ampliação do acesso e permanência dos estudantes, promovendo assim a equidade social no âmbito do Ensino Superior».

De Cabo Verde

Vitor Borges, ex-Ministro da Educação e Cultura, referiu que «a qualidade, a relevância e empregabilidade (adequação/eficácia) são inseparáveis da organização e gestão de todo o sistema educativo cuja estruturação não pode ser domínio reservado da academia, de ministros da educação e de burocratas». Segundo Borges, «outros sectores e actores da sociedade são partes interessadas e, por conseguinte, devem ser envolvidos no processo de estruturação e de prestação do serviço de ensino superior».

De Moçambique

Jorge Nhambiu, Ministro da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional de Moçambique

Ana Piedade Monteiro, Vice-Reitora da UNIZAMBEZE, alertou para o facto de «a expansão não poder estar somente direccionada para a abertura de novas Instituições de Ensino Superior, e muitos menos novos cursos, ou ainda ao incremento do número de candidatos, mas sim responder a uma planificação a qual deve ir para além dos modelos próprios de gestão Universitária, assim como, a observância dos programas dos governos e comunidades locais».

De Portugal

Júlio Pedrosa, ex-Ministro da Educação, e ex- Presidente do CRUP, referiu que em «Portugal o número de estudantes quadruplicou nos últimos 25 anos (80919 estudantes em 1980 e 349658 em 2015) através de ofertas proporcionadas por universidades e Instituições Politécnicas, da responsabilidade do Estado, bem como de entidades do sector Privado e Cooperativo», contudo, Pedrosa realçou a importância de que “o desenvolvimento do Ensino Superior em Portugal deve ter em devida conta factores de contexto como a demografia e a ocupação dos territórios, a qualificação da população adulta e as escolhas das vias de educação secundária pela população jovem”. Na opinião do antigo governante português, “reconhece-se também que há espaço para diversificados contributos das Instituições de Ensino Superior para o desenvolvimento local e regional com o envolvimento de parceiros e grupos de interessados”.

De Timor-Leste

Lurdes Bessa, a Vice-Ministra da Educação e Cultura de Timor-Leste, e Luísa Cerdeira, Presidente da Direcção do FORGES

M. Azancot de Menezes, Assessor Nacional do Ministério da Educação, e ex-Pró-Reitor da Universidade de Díli, começou por alertar para a importância de se «perspectivar a universidade de forma complexa, com a inclusão de várias dimensões que a circundam, num processo dinâmico». Segundo Azancot de Menezes, Timor-Leste precisa de «promover Programas de Iniciação científica em todas as Instituições de Ensino Superior, sendo por isso uma questão central e estratégica a contratação de docentes que sejam pesquisadores e contribuam para um ambiente institucional que potencie a pesquisa científica». Nesta linha de raciocínio, o académico timorense referiu que «é urgente a criação de um Repositório Nacional de Ciência e Tecnologia de livre acesso público, para que se possa conhecer os estudos científicos». Uma outra chamada de atenção foi o alerta para a necessidade de «se realizarem cursos de pós-graduação» e para o papel determinante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) «no desenvolvimento e disseminação do conhecimento científico em Timor-Leste».

O Encontro foi concluído com a excelente Conferência de Encerramento de Maria Helena Nazaré, Presidente da European University Association 2012 – 2015 e Reitora da Universidade de Aveiro 2002 – 2010, com as palavras de agradecimento proferidas pelo Reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Orlando Quilambo, e por Luísa Cerdeira, Presidente da Direcção do FORGES.

A 8ª Conferência FORGES terá lugar em 2018, no Instituto Politécnico de Lisboa, com o apoio do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e de outras instituições.

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