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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 18, 2024

Desvarios ministeriais

José Pacheco
José Pacheco
Educador e aprendiz de utopias.

Será, sobretudo, através da educação, que o nosso país poderá ambicionar emergir da crise em que está atolado. Mas é preocupante o modo como a educação vem sendo (mal) tratada.

A conceituada revista Science, publicação da Associação Americana para o Avanço da Ciência, deu a conhecer um estudo, que contraria tendências reveladas em recentes decisões de política educativa.

Ao cabo de 35 anos de pesquisa, Deborah Stipek, docente da Universidade de Stanford, denuncia o facto de os jovens serem treinados para obter bons desempenhos em testes e afirma ser aberrante uma educação centrada em resultados mensuráveis e em rankings. Acrescenta que a preparação para exames sufoca a formação de uma personalidade madura e equilibrada.

Não se trata de uma afirmação leviana, ou da autoria dos “adeptos do eduquês”. Deborah Stipek sublinha o facto de o sistema de exames produzir especialistas em provas, prejudicar vidas promissoras, sublinhando que um ambiente escolar competitivo, voltado para testes e exames é prejudicial à aprendizagem.

O editorial da revista Science, que tem por título “Educação não é uma corrida”, denuncia mudanças pontuais e afirma ser urgente mudar o modo como funcionam as escolas. Escutemos a pesquisadora: o sistema actual, baseado no desempenho em testes, pode prejudicar muito a formação de grandes pensadores.

Essa forma de ensino promove um verdadeiro extermínio de grandes mentes. A maneira como a educação é organizada na actualidade faz com que potenciais vencedores do Prêmio Nobel sejam perdidos antes mesmo do fim da educação básica, já que o modelo de ensino massacra qualquer outro interesse que não seja cobrado nos exames. E conclui: É importante desenvolver talentos. Isso, sim, tem um papel importante no futuro de alguém.

Na Finlândia, o país dos primeiros lugares do PISA, apenas existe um exame no final dos estudos. Por cá, a tendência é contrária. O actual ministro é um acérrimo defensor dos exames, que talvez considere serem antídotos para o descalabro da educação, não conseguindo compreender que não é a preocupação com o termómetro que fará baixar a tempratura…

Será, sobretudo, através da educação, que o nosso país poderá ambicionar emergir da crise em que está atolado. Mas é preocupante o modo como a educação vem sendo (mal) tratada.

Recentemente, os nossos (des)governantes ressuscitaram o exame de 4º ano, algo que nem ao diabo lembra! É lamentável que os equívocos ministeriais adiem as transformações que, desde há muito tempo, a educação requer.

Uma transformação que não passa pelo aumento do número de aulas de determinadas disciplinas, ou pelo incremento de exames. Na contramão da História, o ministério parece estar alheio à pesquisa no campo da ciência (ou ciências) da educação, quando, por exemplo, apoia a formação de mega-ajuntamentos, pratica bricolage curricular e reforça modelos obsoletos de avaliação.

Em Portugal, há (pelo menos) uma escola que, no exercício de uma autonomia assente na fundamentação científica das suas práticas, concretiza uma avaliação formativa, contínua e sistemática, que remete o exame para a condição de imperfeito e falível instrumento de avaliação. O projecto dessa escola confirma a possibilidade de aliar excelência académica à inclusão social e vem sendo referência de qualidade para muitas escolas, no nosso país e no estrangeiro. Saberá o leitor que o Ministério da Educação está empenhado em destruir esse projecto?

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