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Quinta-feira, Abril 25, 2024

O dinheiro caído do céu pode ajudar a sair da crise?

Jorge Fonseca de Almeida
Jorge Fonseca de Almeida
Economista, MBA, Pos-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança, Auditor do curso de Prospectiva, geoeconomia e geoestratégia, Doutorando em Sociologia

helicopter-money

 

O dinheiro caído do céu, ou na expressão anglo-saxónica “Helicopter Money” criada por Milton Friedman o famoso economista monetarista norte-americano, voltou ao centro da discussão das políticas económicas ao dispôr do Banco Central Europeu para sair da crise em que as suas políticas anteriores colocaram a economia europeia.

Poderá ser esta a cura para os males da economia? Comecemos por ver em que se substancia a política do dinheiro caído do céu.

Trata-se de uma estratégia concebida para resolver um problema muito concreto: a armadilha da liquidez.

De acordo com a Lei da Oferta e da Procura sempre que as taxas descem o investimento deve subir. Assim, de acordo com as teorias liberais, quando é necessário relançar a economia, fazer crescer o investimento e criar emprego os Governos e o Banco Central baixam as taxas de juro.

As receitas monetaristas, assentes em pressupostos errados, falham e existem numerosos casos em que apesar das taxas serem muito baixas não provocam qualquer acréscimo de investimento.

Nestes casos diz-se que a economia está em plena armadilha da liquidez.

As taxas do Banco Central Europeu são negativas, as taxas sobre a dívida pública dos países centrais são negativas e mesmo as taxas da nova dívida de países como Portugal são muito baixas. No entanto, essa drástica redução das taxas não induziu qualquer crescimento da produção ou da criação de emprego.

O esgotamento da actual política é claramente evidente

Poderá o dinheiro caído do céu resolver o problema? Trata-se de fazer chegar o dinheiro directamente do Banco Central ao Estado, aos empresários e mesmo aos indivíduos, induzindo o consumo e o investimento. Não se trata de empréstimos mas sim da mais pura e simples criação e distribuição de dinheiro.

Com esse dinheiro extra os empresários e os particulares endividados saldariam total ou parcialmente as dívidas e os restantes investiriam o dinheiro ou aumentavam o consumo fomentando, também por essa via, a produção que cresceria para se ajustar à maior procura.

Os que saldassem as dívidas ficariam também em melhor posição para se aproveitarem das taxas baixas e recomeçar a investir. Desta forma seriam criados novos empregos que sustentariam a procura inicialmente aumentada pelo dinheiro caído do céu.

Os detractores afirmam que tal política daria lugar a uma explosão da inflação que não resolveria o problema.

Como pode ser implementada a estratégia do dinheiro caído do céu? A Austrália fê-lo em 2009 com uma devolução parcial de impostos, suportada pelo seu Banco Central. O resultado foi parcialmente positivo para a economia australiana. Não houve qualquer explosão da inflação como previam os catastrofistas.

Na Europa poderia ser utilizada para reduzir ou eliminar a dívida pública

O Banco Central Europeu poderia comprá-la e de seguida perdoá-la ou de forma mais sofisticada trocando a actual dívida por dívida perpétua e sem juros comprada pelo Banco Central Europeu. Desta forma os investidores não perderiam o seu dinheiro e os Estados ficariam em situação financeira melhorada.

Sem o peso da dívida os Estados poderiam desenvolver o investimento público e privado, dinamizando a produção e o emprego com direitos.

Se Portugal mantivesse a sua liberdade monetária, perdida com a desastrada adopção sem preparação do Euro, teria esta opção para tentar sair da crise. Assim não tem.

É necessário repensar a permanência do país na zona Euro.

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