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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Jornalismo de investigação

Rogério V. Pereira
Rogério V. Pereira
Estudou Engenharia Química no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. Começou a trabalhar como Técnico de Organização Industrial e terminou no topo da carreira, como sénior manager, nas áreas da consultoria em organização e gestão.

O relatório final do inquérito a 1.500 jornalistas portugueses e o jornalismo de investigação.
Diz quem sabe que a ignorância é atrevida. Assim o reconhecendo, não devia ter tido o atrevimento de ter considerado lá no meu espaço que o último do “Sexta às 9” seria quase, quase, jornalismo de investigação.

No programa, Sandra Felgueiras, que fez o trabalho de casa, apertava com o responsável máximo pela gestão financeira da Cáritas. O responsável máximo das “massas” amealhadas pela generosidade dos crentes, lá ia, respondendo como podia, com uma tensão, umas vezes mal contida, noutras fracamente dissimulada.

E eu interrogava-me se estava perante o tal jornalismo que enobrece a profissão, que dá credibilidade à imprensa e que nos permite o sentimento de estarmos em democracia. Mantenho a dúvida. Do lado em que estaria inclinado a aceitá-lo, está o saber aproveitar um facto e espremê-lo até que se escoe o sumo. Do outro, está a habilidade oportunista, no aproveitamento da notícia.

Relembrando, o trabalho do jornalista Óscar Semedo – “Os dez pontos da grelha que permite identificar um jornalismo de investigação” – mantenho a dúvida. Dúvida que não é esclarecida pelo agora publicado “Relatório Final” do inquérito a 1 500 jornalistas pois, nem a pergunta foi feita nem o “jornalismo de investigação” é um tipo de conteúdo considerado (conforme figura 22, pág. 17 do relatório).

De tudo isto, do ser ou não, não é essa a verdadeira questão. Mesmo que seja o trabalho da Sandra “jornalismo de investigação” ele, o trabalho, será tal única árvore que está longe de fazer a floresta. A verdadeira questão é se há condições ou não para que a imprensa, os 1.500 jornalistas inquiridos, terão condições para desenvolver trabalho sério.

Passem os olhos pelo relatório, e avaliem pela “Síntese dos principais resultados a reter” se é possível ter trabalho jornalístico profundo, sério e isento:

Já pelas conclusões do Congresso de Jornalistas tinha tido a mesma conclusão: com a precariedade instalada, com o desencanto que grassa, a imprensa afunda-se e sem ela a opinião pública é aquilo que a manipulação determina que seja.

“Síntese dos principais resultados a reter”

  1. A distribuição por sexo é relativamente equilibrada. O grupo etário com maior proporção é o que compreende os jornalistas inquiridos dos 35-44 anos. A idade média cifra-se nos 40 anos;
  2. Dois terços dos jornalistas inquiridos têm formação superior em Ciências da Comunicação ou Jornalismo;
  3. O rendimento médio mensal cifra-se nos 1113 euros;
  4. 81,9% afirma não lhe serem pagas horas extraordinárias;
  5. 57,8% não progride na Carreira Profissional há pelo menos sete anos;
  6. O designado jornalismo online/site é o meio de comunicação secundário que regista maior proporção de inquiridos;
  7. Os inquiridos (48,8% dizem-se extremamente insatisfeitos) em termos gerais sentem-se insatisfeitos com a evolução das condições de trabalho no sector nos últimos cinco anos;
  8. Aproximadamente dois terços (69,2%) dos jornalistas entrevistados referem ter feito pelo menos um estágio. Nesta linha, 30,4% mencionam que o seu estágio teve um período superior a dez meses. A maioria (59,2%) diz não ter sido avaliado por um orientador ou editor;
  9. 64,2% assume que já ponderou o abandono do jornalismo. Entre as razões encontram-se o baixo rendimento, degradação da profissão ou condições de trabalho, precariedade contratual e ainda stress;
  10. Quase 40% (39,2%) afirma já ter estado desempregado ao longo do seu percurso profissional de jornalista;
  11. Existe uma maioria de jornalistas inquiridos que pensa ser provável ficar desempregado (40,9%) e que ficando nestas condições dificilmente conseguiria ter nova oportunidade num meio de comunicação social (67%);
  12. Existe um sentimento de autonomia entre a maioria dos entrevistados nos seguintes aspectos: apresentação de propostas de trabalho, selecção de informação, pressões das fontes e pressões oriundas do poder político ou outros;
  13. Quase 40% dos inquiridos não voltava a optar pelo Jornalismo se essa possibilidade lhe fosse dada actualmente;
  14. 46% Afirma ser difícil conciliar a vida pessoal com a vida profissional;
  15. Só 29,6% afirmam trabalhar um número de horas similar ao previsto no contrato de trabalho.

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