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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Mário de Azevedo Gomes

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1885 – 1965)

Notável silvicultor, botânico e professor universitário, foi uma figura emblemática da Resistência à Ditadura. Presidiu à comissão central do MUD. Esteve preso por duas vezes, em 1948 e 1958. Em 1946, quando era docente do Instituto Superior de Agronomia, foi-lhe instaurado um processo disciplinar por ter redigido um manifesto crítico sobre o posicionamento de Portugal face à ONU, e dele resultou a sua demissão do lugar de professor da Universidade Técnica de Lisboa; foi readmitido em 1951, jubilando-se em 1955. Da multifacetada obra do Professor Azevedo Gomes ressaltam dois grandes contributos: o estudo e protecção da floresta portuguesa, (tema tão actual), e o papel dos intelectuais, em especial dos académicos, na defesa da Democracia e da Liberdade.

Protecção da floresta portuguesa

Nasceu nos Açores, em Angra do Heroísmo, em 22 de Dezembro de 1885, mas veio para Lisboa com três anos. Fez o curso dos liceus em colégios particulares e no antigo liceu do Carmo e, seguidamente, matriculou-se no Instituto de Agronomia e Veterinária, onde se formou em Engenharia Agronómica, em 1907. Entrou para funcionário do Estado, em 1908, como preparador, no Laboratório de Nosologia Vegetal do Instituto Superior de Agronomia e Veterinária. Por aprovação em concurso de provas públicas, não tardou a passar a professor da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra, mantendo-se em funções nessa escola desde 1909 até 1914. No ano lectivo de 1914-1915 ingressou, como docente, no Instituto Superior de Agronomia e Veterinária. Começou por reger o curso de Biologia Geral, mas seria nomeado, em 1915, Professor Catedrático de Silvicultura.

Defesa da Democracia e da Liberdade

Foi responsável pelo Ministério da Agricultura durante escassos meses, na I República, no Governo de Álvaro da Costa. Foi fundador e primeiro director da Estação Agronómica Nacional. Dirigiu os programas de extensão rural (“instrução agrícola”), entre 1919 e 1925. Logo após o golpe de 28 de Maio de 1926, aderiu à oposição democrática, indo tornar-se uma personalidade muito conhecida e respeitada. Foi colaborador da “Seara Nova” e fez parte do grupo dos “seareiros”, entre 1924 e 1940. Em 1946 presidiu à Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática (MUD), que integrou com importantes figuras da Cultura portuguesa .


Membros da Comissão Central do MUD. Da esquerda para a direita, sentados: Maria Isabel Aboim Inglês, Mário de Azevedo Gomes, Fernando Mayer Garção; em pé: Gustavo Soromenho, Mário Soares e Manuel Mendes. Bento de Jesus Caraça não estava presente devido a doença. 1945. (Fotografia da Fundação Mário Soares)

Em 1948, já depois da extinção do MUD, presidiu à comissão central da candidatura à Presidência da República do General Norton de Matos. Depois dessas eleições, subscreveu o manifesto da criação da União Democrática Portuguesa e continuou a participar activamente em diversas actividades da oposição, através de manifestos, proclamações, abaixo-assinados; intervindo nas campanhas políticas e na Comissão Promotora do Voto; participando na fundação e direcção da Causa Republicana, da Frente Nacional de Libertação Democrática e do Directório Democrata-Social. Deu também apoio à reorganização do Partido Republicano Português. Em Novembro de 1958, foi novamente detido , por promover a vinda a Portugal de um deputado trabalhista inglês, para proferir uma série de conferências. Foi libertado sob caução e encabeçou os protestos contra as perseguições sofridas por Humberto Delgado que culminaram no pedido de asilo deste na embaixada brasileira.

Foi o primeiro subscritor do Programa para a Democratização da República (1961), um histórico manifesto da oposição democrática, assinado por diversas figuras de grande prestígio nacional.

Durante a década de 50 e início dos anos 60, e no âmbito dos seus interesses profissionais, orientou e elaborou vários estudos dedicados ao Parque da Pena (solos, clima e aspectos dendrológicos-florestal). Em 1960, publica a obra que veio eternizar a sua paixão pelo Parque da Pena (Monografia do Parque da Pena), na qual descreve detalhadamente o património natural e edificado do Parque, bem como de espaços adjacentes, como a Tapada do Mouco, o Castelo dos Mouros, a Tapada do Inhaca e outros.

Faleceu em Lisboa a 12 de Dezembro de 1965, na sequência de um acidente de viação.

Na sua vasta obra publicada destacam-se:

  • Aspectos da questão do açúcar. O abastecimento de Portugal pela produção nacional e pela importação. – Lisboa, Instituto Geral das Artes Gráficas, 1907.
  • Utilidade das árvores – (Os livros do povo – 11ª secção – Vida do Campo). Lisboa, Editor Pedro Bordallo Pinheiro – Livraria Profissional. Of. «Ilustração Portuguesa», 1916.
  • Situação económica da agricultura portuguesa. Memória – Comissão Executiva da Conferência da Paz. Lisboa, Instituto Superior de Comércio de Lisboa – Oficinas da Secção de Publicidade, 1920.
  • Culture (La) des céréales ao point de vue économique et social – Portugal. (XIIIeme Congrès International d’Agriculture – Rome – 26 Mai – 1er Juin – 1927). (Em colaboração com Nuno de Gusmão). (Existe tradução em italiano).
  • Contribuição para o estudo da arborização florestal de Cabo Verde. (Separata dos Anais do I. S. A. – Vol. IV). Lisboa, Imp. Limitada, 1931.
  • Função social do agrónomo na actualidade. O caso português – Conferência realizada em 22 de Julho de 1932 no Instituto Superior Técnico. (Separata do volume «Conferências realizadas no ano lectivo de 1931-32»). Lisboa, Of. Gráficas do I. S. C. E.F., 1932.
  • Comércio dos resinosos em Portugal – Cadernos da «Seara Nova» – Estudos Económicos. Lisboa, Tip. Da «Seara Nova», 1934.
  • Notícia sobre a Tapada da Ajuda. (Separata do «Agros». Ano XVII – II série, nº 2-3), Lisboa, Tip. «Portugal Novo», 1935.
  • Estudos dendrológicos. I – O Género «Pseudotsuga» no Parque da Pena (Sintra). (Em colaboração com Fernando Raposo). (Separata dos Anais do I. S. A. – Vol. X).Lisboa, «Gráfica Lisbonense», 1939.
  • Ciclone (O) e a produção das matas portuguesas. (Separata dos Anais do I. S. A. – Vol. XI). 1941.
  • Produção, consumo e balança comercial para os produtos agrícolas. Condições de exportação – Conclusões. (Texto publicado nos Anais do I. S. A. – Ano I – Vol. I – 1920). 2ª Edição, Lisboa, «Gráfica Lisbonense», 1941.
  • Estudos dendrológicos. II – A formação do lenho em árvores seculares. (Texto publicado nos Anais do I. S. A. – Vol. XIII). (Em colaboração com Fernando Raposo). Lisboa, «Gráfica Lisbonense», 1942.
  • Estudos dendrológicos. III – A formação do lenho no Eucalyptus Globulus Labill, na região do Ribatejo. (Texto publicado nos Anais do I. S. A. – Vol. XIII). (Em colaboração com Fernando Raposo). Lisboa, «Gráfica Lisbonense», 1942.
  • Engenheiro (O) silvicultor em serviço nas matas considerado como obreiro da investigação. (Separata dos Anais do I. S. A. – Vol. XIV). Lisboa, Sociedade Astória, Lda., 1943.
  • Obra (A) do Instituto Superior de Agronomia nos últimos 25 anos. (Separata dos Anais do I. S. A. – Vol. XIV). Lisboa, Sociedade Astória, Lda., 1943.
  • Estudos dendrológicos. IV – Sobre um possível híbrido natural a partir das espécies Cupressus Macrocarpa Hartw e Cupressus Lusitanica Mil. (Separata dos Anais do Instituto Superior de Agronomia – Vol. XIV). (Em colaboração com Firmino Costa). Lisboa, Sociedade Astória, Lda., 1943.
  • Evolução da Agricultura Portuguesa entre as duas guerras mundiais. (Separata da Revista do Centro de Estudos Económicos). (Em colaboração com Henrique de Barros e E. de Castro Caldas). Lisboa «Gráfica Santelmo», 1945.
  • Duas defesas. (Em colaboração com Bento de Jesus Caraça). Edição dos Autores, Lisboa, «Gráfica Lisbonense», 1946.
  • Caso (Um) de rearborização difícil, com pinheiro bravo, em areias do Plioceno a Sul do Tejo. (XIII Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências). (Separata do Tomo X – 9ª secção – Engenharia, Arquitectura e outras Ciências aplicadas).

Comissão executiva para as Comemorações do Cinquentenário da República, num almoço que decorreu no restaurante Colombo. De pé: Areosa Feio, Armando Adão e Silva, Nuno Rodrigues dos Santos, Carlos …?, Homem Figueiredo, José Rodrigues dos Santos, Piteira Santos, Rui Cabeçadas, Joaquim Bastos. Sentados: Mário Soares, Acácio Gouveia, Mário de Azevedo Gomes, Mayer Garção, Armando Castanheira. (Fotografia da Fundação Mário Soares)

Apresentação das candidaturas da oposição Centro Republicano José Estevão. Mário Soares no uso da palavra. À sua esquerda: António Macedo, Mário de Azevedo Gomes, Helder Ribeiro, Dias-Amado, Mayer Garção e Armando Adão e Silva. Na segunda fila: Artur Santos Silva, Olívio França, Acácio Gouveia, Catanho de Menezes, Paradela de Oliveira, Medeiros Ferreira e Sottomayor Cardia, 1965. (Fotografia da Fundação Mário Soares)

Biografia em co-autoria de A. S. Curvelo-Garcia e Helena Pato

Dados biográficos:

  • Ignacio García PEREDA; Mário de Azevedo Gomes (1885-1965). Mestre da Silvicultura Portuguesa. Sintra: Parques de Sintra.
  • «Ficha histórica: Lusitania : revista de estudos portugueses (1924-1927)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa.
  • Manuel Loff e Ana Sofia Ferreira. Mário de Azevedo Gomes, Cronologia-Centenário da República.

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