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Sexta-feira, Março 29, 2024

Memórias cinéfilas a propósito da morte de Jerry Lewis

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Uma cena hilariante… ao vivo e a cores!

Setembro de 1990. Era a minha terceira presença no Festival de San Sebastián.

O Festival

O ano anterior tinha sido “o de Bette Davis”. Assim ficou conhecido por nele ter acontecido a última aparição pública da diva norte-americana. A actriz faleceu em Paris escassos dias depois de ter recebido na cidade basca o Prémio Donostia e ter tornado completamente irrelevante a campanha de promoção do primeiro “Batman” que incluía a presença no Festival de Tim Burton e Michael Keaton e um painel que cobria, a toda a altura, a fachada lateral do Teatro Victoria Eugenia.

Em 1990 a destinatária do prémio de carreira do certame ‘donostiarra’, então a celebrar a 38.ª edição, era Claudette Colbert, a francesa-americana a quem Frank Capra proporcionou o Oscar de Melhor Actriz em “Uma Noite Aconteceu”, no longínquo ano de 1934.

Mas, por esses dias, outras vedetas passaram por San Sebastián: Jane Russell, Peter O´Toole, a Cyd Charisse de “Serenata à Chuva”, Mariel Hemingway, António Banderas e Emma Suárez (numa fase inicial das suas carreiras), Augusto Coppola (produtor, irmão do Francis), o já então comprometido e interveniente, Ken Loach, e… Jerry Lewis. O vencedor do Festival haveria de ser o basco Montxo Armendariz, com “Cartas de Alou” um interessante filme sobre um refugiado africano que procurava uma vida melhor em Espanha… Já naquele tempo…

Mas vamos então ao ‘encontro imediato’ com Jerry Lewis

Para a conferência de imprensa uma sala cheia no Hotel Maria Cristina. Na véspera, a chegada ao dito hotel já tinha sido apoteótica.

Orgãos de informação de muitos países (na altura eu representava o ‘Jornal de Notícias’) e as perguntas habituais naquelas circunstâncias: as diversas vertentes do trabalho do artista – actor de teatro e de cinema, argumentista, produtor, realizador –, os trabalhos mais relevantes, a influência da censura no trabalho do comediante, os períodos de paragem, a então recente colaboração com Scorsese em “O Rei da Comédia” e os projectos para o futuro.

A certa altura um jovem ‘periodista español’ ao serviço de uma revista chamada “Hola” – especializada em fofocas e mexericos e em fotos e festas da aristocracia do país vizinho – , já conhecido dos circunstantes pelas suas habituais perguntas provocatórias, resolveu questionar Jerry Lewis sobre a suposta má relação que este teria com um dos seus filhos. O actor respondeu que não estava ali para se pronunciar sobre esse assunto e a sessão continuou normalmente.

Alguns minutos depois, nova investida com a mesma pergunta. E a mesma resposta, ainda cortez mas já com alguma irritação latente.

O pior estava para vir. O rapaz não se conteve e questionou pela terceira vez. Aí Jerry Lewis, que já tinha esgotado a paciência, deu a resposta definitiva:

– Se não te calas, levanto-me desta mesa e vou aí partir-te a cara!…

O “enfant terrible”, que não aguentaria por certo um murro daquele sexagenário em boa forma física, meteu a viola ao saco e saiu sorrateiramente pela porta dos fundos…

Ao vivo e a cores

Jerry ficou a posar para umas fotografias, como as que colhi e aqui reproduzo, e a dar alguns autógrafos.

E aqui está como Jerry Lewis proporcionou, ao vivo e a cores, a mim e a muitos outros, uma cena hilariante que muito bem poderia constar de algum dos seus filmes.

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