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Sexta-feira, Março 29, 2024

Na Itália, a direita quer o Senado e os populistas a Câmara

O Governo italiano está longe de ser formado. Em todo caso, a coligação de direita (extrema-direita de Salvini e os conservadores de Berlusconi), que teve a maioria dos votos, reivindicou na quarta-feira (21) o Senado, oferecendo ao populista Movimento 5 Estrelas (M5E), o partido com mais votos, a Câmera.Se Salvini respeitar a sua aliança com Berlusconi, dará ao Força Itália (FI), partido do empresário. fique com algum cargo alto. É porvável também que Luigi Di Maio, líder do M5E, aceite a proposta- durante a campanha, seu partido apostou na imagem de “antissistema”, negando qualquer aliança com outros partidos; mas agora, aparentemente, voltou atrás diante da impossibilidade de governar sozinho. Para Di Maio, a Câmara dos Deputados tem “mais problemas para resolver”.

“O centro-direita propõe aos chefes dos grupos parlamentares um percurso institucional comum que permita à coligação vencedora apresentar o presidente do Senado e ao primeiro grupo parlamentar, M5S, o presidente da Câmara”, lê-se no comunicado saído do encontro entre Salvini, Berlusconi e Giorgia Meloni, líder dos Irmãos de Itália (extrema-direita, como a Liga). Para aligeirar o processo, propõe-se que os líderes dos grupos parlamentares se reúnam nessa quinta-feira (22) e cheguem a acordo sobre os nomes.

Espanto até para os italianos

Todos estão acostumados com as “emoções italianas”, ao alarmismo político, às “ressurreições” de Berlusconi ou às comédias de Beppe Grillo (fundador do M5E), mas, desta vez, “a realidade exagerou”, como ironiza o jornalista português Jorge Fernandes. Os partidos anti-sistema, o Movimento 5 Estrelas e a Liga (extrema-direita) somaram mais de 50% dos votos. Representam duas opções da antiglobalização e euroceticismo, embora com algumas ideias conflituosas, uma vez que à Liga cabe um forte discurso nacionalista e xenófobo, enquanto que o M5E evitou se colocar sobre qualquer discussão polêmica (apesar de também ser abertamente anti-imigração).

A crise economica e o alto desemprego, especialmente entre os jovens, deu força para o surgimento do M5E, que endossou as dores e a insatisfação dos “excluidos”, especialmente no Sul do país. Enquanto isso, a Liga conquistou o Norte, com seu discurso pró “revolta fiscal”, anti-imigração e pelo reforço da segurança. O Partido Democratico, que estava no poder, teve uma enorme derrota, especialmente pela adoção de políticas fortemente neoliberais e pelo seu afastamento da esquerda.

Segundo o jornal português Publico, em uma pesquisa recente mostrouse que há retomada do crescimento no país, mas que “o rancor é grande e cresce”. Os males são o declínio demográfico, a pobreza do capital humano imigrado e a polarização do emprego que penaliza a ex-classe média; 87% dos membros de grupos populares pensam que é difícil subir na escala social, como 83,5% da classe média. A crítica da política é devastadora: 84% não têm confiança nos partidos, 78% no Governo, 76% no Parlamento. E 60% dizem-se insatisfeitos com o funcionamento da democracia.

Mas a moeda tem outra face, conforme mostra o Publico: 78,2% dizem-se “muito ou bastante satisfeitos” com a sua vida. “Depois dos anos de severa restrição dos consumos, volta o primado do estilo de vida e do bem-estar subjectivo, da estética aos tempos livres.” Entre 2013 e 2016, a despesa das famílias cresceu 4% em termos reais.

O que vale, agora, é refletir sobre a conclusão deixada por Fernandes: mais do que as longas manobras para constituição de um governo, importa repensar o que está acontecendo na Europa. Os quadros tradicionais de interpretação do populismo estão falhando. O atual fenômeno da antipolítica tem as principais raízes na ‘Europa do protesto’ contra os efeitos da globalização lançada após o fim da Guerra Fria”.

Por Alessandra Monterastelli | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

Imagem: Berlusconi, líder do Força Itália, secando a testa de Matteo Salvini, da Liga (extrema-direita) / ANSA

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