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Sexta-feira, Abril 19, 2024

O Beijo!

João de Almeida Santos
João de Almeida Santos
Director da Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração e do Departamento de Ciência Política, Segurança e Relações Internacionais da ULHT

Poema de João de Almeida Santos,
ilustrado com um inédito de Filipa Antunes
(“O Beijo”, inspirado em Rodin)

Os Beijos escritos não chegam ao destino?
São bebidos pelos fantasmas durante a viagem?

No DIA INTERNACIONAL DO BEIJO, ou ”Stolen Kiss Day” (comemorado a 6 de Julho – o dia que eu prefiro e que celebrarei sempre, cada ano – ou a 13 de Abril), proponho um POEMA, inspirado no Thomas Mann de “Lotte em Weimar. O Regresso da Bem-Amada” (1939), a obra que continuou “A Paixão do Jovem Werther” (1774), de Wolfgang Goethe (1749-1832):

Ist die Liebe das Beste im Leben, so in der Lieb das Beste der Kuss – Poesie der Liebe…”. “Kuss ist Glueck, Zeugung Wollust” (O amor é o melhor na vida, assim no amor o melhor é o beijo – Poesia do amor…”. “Beijo é alegria, procriação é luxúria”).

O BEIJO é a Poética do Amor! Transcende o sexo, o acto da procriação ou o puro prazer. Eleva-se à ternura, ao afecto espiritual e evolui subtilmente para a identidade sensual. Aflora o corpo sem o possuir. Toca a sensualidade sem a capturar…

POEMA inspirado também em algumas frases célebres:

  1. “Geschriebene Küsse kommen nicht an ihren Ort, sondern werden von den Gespenstern auf dem Wege ausgetrunken” – F. KAFKA.
    (“Os beijos escritos não chegam ao destino, mas são bebidos pelos fantasmas ao longo do trajecto”).
  2. “If I were to kiss you then go to hell, I would. So then I can brag with the devils that I saw heaven without even entering it” – W. SHAKESPEARE.
    (“Se para te beijar devesse, depois, ir para o inferno, fá-lo-ia. Assim, poderia vangloriar-me, com os diabos, de ter visto o paraíso sem nunca lá ter entrado”).
  3. O primeiro beijo não é dado com a boca, mas com os olhos” – O. K. BERNHARDT.

O BEIJO

Foi o que nunca te dei
A não ser com o olhar!
O primeiro, esse Beijo,
Dei-to, pois, sem te tocar!

E dei-te mais, com palavras,
Quando olhar já não podia.
Foste embora, não estavas
E eu, triste, não te via!

Foram Beijos que sonhei
Na rotina dos meus dias
E desejos que enfrentei
Quando tu mais me fugias!

Mas dou-te Beijos escritos
Que se perdem no caminho…
E quando o verso me falta
Fico ainda mais sozinho!

É alegria d’amor,
É suave respirar,
É encontrar-te no céu,
É vontade de te amar!

O Beijo é despedida
Mas sentir qu’estamos perto
E é a justa medida
De coração descoberto
À mercê da tempestade
Navegando em mar aberto
Sob olhar de divindade…
……………………………
Mas contigo ali por perto!

É desejo e é procura
É sinal e é mensagem
É razão suficiente
P’ra te ter como Paisagem!

O Beijo é emoção,
É razão descontrolada,
Se não for dado a tempo
Pouco mais será que nada!

Sem Beijo não há Amor
Sem Amor perde-se o Beijo
Nada tem qualquer sentido
Quando falta o Desejo!

Aqui o lanço ao vento,
Que atinja como brisa
E suave melodia
Banhe rosto que precisa
De afecto em Poesia!

Esse Beijo que me falta
De que nunca fui capaz
Voa p’ra ti em palavras
Põe-me sereno, em paz!

Desejo que, no trajecto,
Voe, voe em grande altura
Que fantasmas não o bebam
E minha dor tenha cura!

Mas sei dos escolhos da via
Dos perigos que ele corre
Capturado por fantasmas
É mensagem que me morre!

Porque o repito agora?
Há sempre um dia p’ra isso
No dia do Beijo é hora
De te propor compromisso
E de cantar em voz alta
A poética do amor
P’ra que não nos faça falta
Se for grande a nossa dor!

E porque este dia é teu
Ganha força, intensidade,
Mesmo que fantasmas o bebam
É um Beijo de verdade!

Esse Beijo que não dei
Foi pecado original
Hei-de sofrê-lo p’ra sempre
Como chaga corporal!

Não há palavras que bastem
P’ra repor o que não dei
Elas voam, mas não chegam
E mesmo assim eu tentei!

É certo que sempre o quis
Só que nunca to roubei,
A culpa foi desse tempo,
Dos dias em que te amei,
Um tempo em diferido
Sem presente nem futuro
Talvez Beijo sem sentido
Porque queria do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas do Paraíso,
Um Beijo de divindade…
……………………………
Mas simples com’um sorriso!

Esse Beijo impossível
Que não é do foro humano
Vou tentando construí-lo
Cada dia, cada ano
Perdendo-me pelo caminho
Como sagrado em profano!


Ilustração: Inédito de Filipa Antunes,  “O Beijo” – aguarela, tinta-da-china e barra de sépia -, inspirado em Rodin.

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