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Quinta-feira, Abril 25, 2024

O direito à preguiça!

Paulo Vieira de Castro
Paulo Vieira de Castrohttp://www.paulovieiradecastro.pt
Autor na área do bem-estar nos negócios, práticas educativas e terapêuticas. Diretor do departamento de bem-estar nas organizações do I-ACT - Institute of Applied Consciousness Technologies (USA).

Esta ideia partilhada por Paul Lafargue em manifesto, corria o ano da graça de 1880, opunha-se à jornada de trabalho de 12 a 17 horas diárias, isto numa França onde imperava a doutrina do trabalho dignificante e benéfico.

Hoje, alguns sabem já que o trabalho é, apenas, um cadáver adiado. Outros, a maioria, continua a acreditar que “poder viver” está “condicionado pelo trabalho”. Não havendo “direito à vida onde esta condição não estiver preenchida”.

Assim pensava Johann Gottlieb Fichte, nos seus Fundamentos do Direito Natural segundo os Princípios da Doutrina da Ciência, em 1797.

O momento presente obriga à redescoberta de valores e sentimentos ancestrais na busca de uma nova economia moral. Tal mudança não depende de dinheiro, do regime político ou económico. Isto será o mesmo que dizer que não depende de condições materiais. Necessitará exclusivamente da bondade dos povos. E onde se aprenderá tal mester? Infelizmente, penso que em nenhuma das nossas escolas…

Estar consciente disto traz-nos uma acrescida responsabilidade. Perceber a sociedade do trabalho é já julgar homens e mulheres implicados num contexto que não escolheram mas que ilusoriamente tomam como seu. Frustrados, concedem viver em vão, aceitando o trabalho como o fim último do delírio civilizacional.

Em Os Apologistas do Trabalho, de 1881, Nietzsche afirmava “que um tal trabalho é a melhor polícia, que retém cada indivíduo pelo freio e que sabe impedir com firmeza o desenvolvimento da razão, do desejo e do prazer da independência. Pois faz despender enorme quantidade de energia nervosa, e subtrai essa energia à reflexão, à meditação, ao sonho, à inquietação, ao amor e ao ódio”.

O ócio, como o vejo, é absolutamente essencial para o desenvolvimento humano, por isso proponho que “o direito à preguiça” seja consagrado na constituição da República Portuguesa. Só a preguiça, enquanto elogio fundamental do ser humano, nos desafia perante a ideia maior de Agostinho da Silva, “o homem não nasce para trabalhar, nasce para criar”…

Viva a Preguiça!

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores.

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