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Quinta-feira, Abril 25, 2024

O editor da Revolução de Abril

Paulo Vieira de Castro
Paulo Vieira de Castrohttp://www.paulovieiradecastro.pt
Autor na área do bem-estar nos negócios, práticas educativas e terapêuticas. Diretor do departamento de bem-estar nas organizações do I-ACT - Institute of Applied Consciousness Technologies (USA).

Era o tempo das músicas, dos filmes e dos livros proibidos. No final dos anos 50, um homem do norte, Arnaldo Trindade, dava corpo à utopia fundando no Porto a editora discográfica “Orfeu”.

Este selo  está na origem da “Canção de Intervenção” portuguesa. Editou discos de Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Fausto, Vitorino, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, José Mário Branco, José Jorge Letria, Luís Cília, etc… Todos eles  cantores malditos para o regime de Salazar e, depois, de Marcelo Caetano.

As artes da revolução de Abril

Curiosidades muitas. Editou “E depois do adeus” (1974), senha musical do Movimento da Forças Armadas e “Grândola vila morena” (1971), o hino da revolução de Abril. Visionário, foi responsável pela edição do único disco de rock sinfónico português a fazer parte do ranking dos 10 melhores álbuns de todos os tempos:” 10.000 anos depois entre Vénus e Marte” (1978), de José Cid. Também uma década antes, levara José Afonso a gravar a Londres no mesmo  estúdio dos Beatles.

Arnaldo Trindade era, igualmente, exigentíssimo com o arranjo gráfico das capas dos discos que editava. De modo a garantir que cada um destes fosse uma peça de arte escolheu nomes maiores da fotografia e do design. São disso exemplo Fernando Aroso, Patrick Ullman, João Paulo Sotto Mayor, Moreira Azevedo, José Brandão, Manuel Vieira, José Santa-Bárbara, Maria Keil, ou  Rogério Ribeiro, de entre tantos outros.

“ORFEU” em Matosinhos

Em Maio, Matosinhos será palco da mostra  “ORFEU | imagens, palavras, sons (1956-1983)”. Isto,  na Casa do Design, com inauguração marcada para  dia 04, pelas 17 horas.

A  história  da “Orfeu” é aqui dada a conhecer através de cinco núcleos principais: No Início era o Verbo (1956-1959); Trovas do Vento que Passa (1960-1967); Vozes da Revolução (1968-1975); Entre Vénus e Marte (1976-1979); O Fim da Aventura (1980-1983).

Com Arnaldo Trindade aprendi que a vida nada nos tira. Vai-nos desatando de tudo, impedindo que nos transformemos, apenas, nas coisas. Quando o visitei pela primeira vez em sua casa, há poucos anos, fiquei perplexo pelo seu desprendimento e altruísmo. Dos mais de 500 discos produzidos pela sua editora nada conservava consigo.

Uma exposição a não perder. Um exemplo para todas as idades.

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