O que Trump revela

O que a ascensão/eleição de Trump veio dizer é uma coisa simples de entender mas também decisiva.

No ponto a que as coisas chegaram (uma ‘globalização’ em crise estrutural) e com o preço que apresentam (a desestruturação das sociedades ocidentais pelo brutal aumento das desigualdades), a “liberal democracy” ou a “liberal order”, até agora dominantes, são já apenas “narrativas” impotentes para fornecer o “road map” que a hegemonia americana necessita para se manter e desenvolver.

Funcionaram durante algumas décadas, mas a evolução do mundo pós-11.09.2001 e, sobretudo, pós-15.09.2008 já as tornou “has been”…

A elite política americana que vem dos anos 90 do século passado mostra (tal como outras elites políticas ocidentais…) uma total incapacidade para o entender e integrar e, face à vitória de Trump, adopta a atitude dos franceses face à vitória de Portugal no “europeu-2016″…

Ou seja, adoptam a via mais rápida para a irrelevância. E, se os deixarem, pelo caminho, tornarão também irrelevante (ou, pelo menos, muito relativa) a potência americana. Aliás, já estão a fazê-lo.

Veja-se, por exemplo, o recente texto de Bill Hayton, da Chatham House, com um título enganador mas com um foco acertado: The Week Donald Trump Lost the South China Sea.

O título é enganador porque quem perde o Mar do Sul da China não é Trump mas sim os Estados Unidos com a sua “dysphoria”, como diz Angela Stent, directora do Center for Eurasian, Russian and East European Studies at Georgetown University.

Trump ganhou porque a “liberal democracy” ou a “liberal order” falhou. Esgotou-se e é agora uma espécie de motor que só produz “rateres”. A ordem dos factores não é arbitrária… Vêm aí dias perigosos, muito perigosos.