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Sábado, Abril 20, 2024

Pedro Janela, um criador de ambientes sonoros

Carlos Fragateiro
Carlos Fragateiro
Professor Universitário

Já lhe chamaram um compositor de sonhos, cenários e ambiências., ou um compositor que esculpe com notas, ritmos e instrumentação as ambiências que imagina e para onde nos transporta com a sua Música.

Compõe música para filmes, teatro, videojogos e é um autor de canções. É o mentor da banda The Casino Royal e tem um estúdio onde ajuda muitos outros projectos a concretizarem-se.

Foi meu aluno na Universidade de Aveiro e fez a música duma canção que oferecemos ao Eusébio nos seus 70 anos.

Considero-o como um dos protagonistas do futuro e daí esta entrevista.

Jornal Tornado: Disseste numa entrevista há uns anos.

“Quando faço música para imagem tento perceber de que forma é que a música pode pontuar dramaticamente. No fundo tento criar contextos que ajudem a contar uma história. O meu desafio é colaborar com o realizador no sentido de criar um contexto próprio ao filme, mas ao mesmo tempo, enquanto compositor, construir uma identidade  própria”.

Podes explicar a partir de exemplos concretos?

Pedro Janela – Do meu ponto de vista um compositor de música para cinema é alguém que tem que saber interpretar uma espécie de voz que ressoa dentro da cabeça do realizador. Esse é o desafio primário.

Depois vem a reinterpretação dessa voz através dos nossos filtros. A apropriação de uma determinada ideia, que sendo sucessivamente filtrada de acordo com aquilo que è o nosso legado emocional, acaba por ser “re-escrita” de forma pessoal.

Quando fiz a música para a cena de abertura no filme “Quinze Pontos Na Alma” tinha escrito um tema demasiadamente expressivo, segundo a opinião do Vicente. Reescrevi um novo tema, mas também não era essa voz que ele pretendia. Acabámos por avançar com o resto do filme. Esta cena foi a última a ser composta. No decurso do trabalho fui construindo novas vozes para diferentes personagens e situações que acabaram por sua vez por acrescentar novas dinâmicas ao tema inicial.

O teu verdadeiro desafio enquanto músico consiste em dominar a arte de combinar timbres e, nesse sentido, a tua constante “inquietação” tem origem na busca da perfeita combinação tímbrica.

Sentes que tens conseguido esta perfeita combinação tímbrica e quando é que isso aconteceu?

Esta é uma equação sem fim à vista, desde logo porque a cada minuto são criados novos timbres que se somam aos já existentes. Com o aparecimento da electrónica, e com a “apropriação” desta no contexto da música de cinema, as possibilidades são infinitas e a paleta sonora vai-se expandindo. Deste modo a fronteira entre música escrita de forma tradicional e o sound design é muito ténue. A “voz” do compositor acaba por ser a soma destes dois universos.

Seria demasiado ambicioso afirmar que alguma vez consegui a combinação tímbrica perfeita, sendo que considero que esta não é de todo dissociável do próprio contexto narrativo.

Em “O Amor É Lindo… Porque Sim!” pretendi transmitir um ambiente mediterrânico. Socorri-me do acordeão e do bandolin e misturei-os com os timbres da orquestra clássica. Penso que construí um “voz” que foi de encontro aquilo que era contexto narrativo próprio desta comédia romântica.

Em “República” a escolha foi pelos timbres mais clássicos. A acção decorre em 1910 e a narrativa é mais “institucional”. O tema principal desta série é uma espécie de um hino à nação.

O que é que é comum e também diferente no trabalho de composição para cinema, para teatro, e, mesmo, para o videojogos?

Que perspectivas abre o trabalho para os videojogos?

Como é que essa diversidade enriquece o trabalho para “The Casino Royal”, que é, na verdade, o projecto que te permite ir para o palco. E o palco, como já li numa entrevista, é para ti a festa, a libertação, o contacto com as pessoas, por vezes a catarse.

Trata-se da mesma coisa mas em contexto e suporte diferentes.

A música, de algum modo acaba por emprestar a todas esta artes um lado emocional que sublima o contexto narrativo.

Do ponto de vista racional a música acaba por ser o elemento mais artificial quando se trata de transmitir uma narrativa através de imagens. Na vida real quando nos apaixonamos não temos um essemble de violinos a tocar para nós, acontece porém que sem esse elemento muitas vezes determinada cena não funciona. Há uma espécie de uma música interior que ressoa em nós e cabe ao compositor interpretá-la. Ao ver o documentário “Alive Inside”, dei por mim a pensar se não seria esse o mesmo mecanismo, um espécie de gatilho que é ativado através da música e que faz com que as nossas emoções despertem.

Foi depois de eu ter lançado o primeiro álbum dos Casino Royal que surgiu antes do convite para fazer música para cinema. Uma coisa foi consequência de outra. Digamos que já havia cinema na música dos Casino Royal, e, se uma coisa influenciou outra, foi o cinema que veio a seguir.

Sim, é bom ir para palco sair do estúdio mostrar a minha música às pessoas, conversar com elas no final dos espectáculos… Os Casino Royal permitem-me isso mesmo.

Vamos avançar ou não com o grande musical? A primeira canção já está feita e a partir daí há toda uma infinidade de roteiros e saídas possíveis. Podemos falar também dos génios que o Eusébio inspirou, do Ronaldo, do Renato Sanches, do Quaresma, do Eder, sei lá.

Podemos continuar a sonhar com essa utopia que pode ter uma dimensão universal?

Para mim seria um desafio muito interessante poder dar voz a um projecto dessa natureza.

Teria que ser algo que sublimasse a grandeza dessa figura, pelo que não podemos ficar pelo meio termo. Imagino um espectáculo com uma dimensão cénica grandiosa, mas que fosse ao mesmo tempo suficientemente “portátil” para o podermos levar a outros cantos.

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