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Quinta-feira, Março 28, 2024

Pesadelo americano!

João de Almeida Santos
João de Almeida Santos
Director da Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração e do Departamento de Ciência Política, Segurança e Relações Internacionais da ULHT

pesadelo americano

E a sua eleição não foi como a de Hitler, que se seguiu a anos de tumultos desordeiros pelas cidades da desordenada República de Weimar. Foi formalmente eleito, embora com menos alguns milhões de votos do que Hillary Clinton, e de acordo com as regras constitucionais.

No meu artigo anterior (American dream!) deixei claro que a sua política será uma política muito à direita, ao ponto de inverter conquistas civilizacionais que já não deveriam ser postas em causa. Mas esta semana, com a catadupa de disruptivos decretos presidenciais, a gestão do Presidente conheceu uma verdadeira aceleração, demonstrando que está a levar demasiado a sério o que os Spin Doctors lhe haviam sugerido para ganhar as eleições e se impor no topo da agenda pública. Será que ele pensa que estes truques são mesmo para levar a sério?

“Una ne pensa, cento ne fa”

O que estamos a ver é uma estratégia política do tipo “guerra de movimento” por uma pesada potência que determina muito do que se passa no mundo. Mas ninguém ainda lhe explicou que esta potência só pode agir na lógica de uma “guerra de posição”, de uma guerra de trincheiras, vistas as suas pesadas responsabilidades no plano mundial, no curto, no médio e no longo prazo?

Sim, estamos na primeira semana de uma inacreditável aceleração política. De Andreotti, velho sábio de direita, diziam os humoristas que “cento ne pensa una ne fa” (“pensa cem e faz uma”). De Trump poder-se-á dizer que “una ne pensa e cento ne fa” (“pensa uma e faz cem”)? Trata-se daquilo que os italianos designam por “cacate”, erros, numa tradução algo benévola e eufemística. Seria o abismo entre a sabedoria milenar da Europa e o, digamos, “empirismo” secular da América!

“Hotel California”!

Sim, as manifestações têm lugar e querem dizer algo! São saudáveis para a democracia porque demonstram vitalidade orgânica, com os cidadãos a saírem das suas zonas de conforto e a virem para a rua protestar contra aquilo que não aceitam. Mas quando é o Governador, Jerry Brown, da sétima potência industrial mundial, a Califórnia, a dizê-lo a coisa torna-se mais séria. E, neste caso, não será o Governador da Califórnia a temer o Governo federal. Será este a temer o estado federado. Até porque tem razão o Governador. Trata-se de matéria que está ancorada na Constituição dos Estados Unidos, designadamente na sua primeira Emenda. E de matérias que merecem um largo consenso internacional, seja no plano das migrações, do ambiente ou da saúde.

Foi o Governador a deixar claro que a coisa pode tornar-se muito séria para Trump se insistir nas suas idiossincrasias. O Presidente dos Estados Unidos não é uma inteligência singular, subjectiva ou intimista, mas uma inteligência colectiva que deve obedecer a rigorosos padrões de racionalidade. Nem poderia ser de outro modo: o mundo andar a reboque dos humores matinais ou vespertinos (com twitter ou sem twitter) de um qualquer Presidente – ser humano como qualquer outro – tornar-se-ia extremamente perigoso, sobretudo quando se trata de uma potência mundial como os Estados Unidos. Ora acontece que essa inteligência colectiva que forma o pensamento de Trump pelos vistos é composta por radicais que acabam por reintroduzir um perigoso subjectivismo idiossincrático na política americana e mundial.

Sim, a este governador poderão seguir-se outros. E então a coisa poderá tornar-se perigosa para a Administração Trump. Impeachment? Já foi pedido por muito menos. Que o diga Bill Clinton, não por ter mantido relações com uma estagiária adulta (a senhora Lewinsky) na  Casa Branca, mas por ter negado a relação, ou seja, por mentir. Os tempos mudaram, ao que parece, uma vez que o actual Presidente ainda não foi seriamente ameaçado de processo. Mas, a continuar assim, não seria estranho que o viesse a sofrer.

A pergunta

A pergunta é a seguinte: virá  o Presidente eleito, Donald John Trump, nos termos da XX Emenda (de 1933) da Constituição dos EUA, a demonstrar possuir “os requisitos necessários” para exercer as funções de Presidente dos Estados Unidos? Esta é a hipótese que figura na Constituição. E esta é a pergunta que muitos já se fazem? E quando for o establishment, político e mediático, que ele, como todos os populistas, tanto vitupera, então o caso será para levar mais a sério do que já é, vistas as reações em cadeia que já estão a animar não só os corredores das diplomacias, mas também o próprio palco diplomático internacional!

God Bless America!

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores.

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