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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Em política não se morre (com facilidade)

Alexandre Honrado
Alexandre Honrado
Historiador, Professor Universitário e investigador da área de Ciência das Religiões

DO AVESSO

Em política poucos são os que morrem. Alguns descem aos mausoléus, amortalham-se como podem e regressam quando querem. São múmias com pactos apurados, como Paulo Portas e Miguel Relvas, ou airosos trapezistas quase bonacheirões, como Santana Santa Casa Lopes, que parecia alérgico ao sol mas, subitamente volta à luz do dia.Há ainda os que acusam outros síndromas, como Rui Rio, que ficou à espera do seu momento num vão de escada mais ou menos lúgubre, ou António José Seguro, que conta os dias até transformar o seu tempo de martírio numa cavalgada de Valquiria. Sim, escolha propositada, o termo – é que no nórdico antigo valkyrja significa “a que escolhe os mortos”. Ou mais inteligentes, como Fernando Nogueira, um ex-presidente do PSD de que já (quase) ninguém se lembra e que fez uma boa vida desde a sua (parcial) retirada destas coisas. Ou Luís Amado, cuja metamorfose ao jeito Ranidae (família das rãs, em biologia), levou, como a Cinderela, de escrava das meias-irmãs, isto é de Ministro, a noiva de príncipes, entenda-se: a Banqueiro.

Na plateia destes espectáculos ficam dois tipos de espectadores.

Os ignorantes, que desdenham, dizem com garbo e idiotice que não lhes interessa este tipo de coisas e que são capazes de opinar mesmo quando passaram o dia de voto nas eleições no casamento de um casal amigo – de costas voltadas para o País, que tomou por inimigo. E aqueles que formam opinião com o material que lhes vai chegando, através de uma imprensa duvidosa, ou de redes sociais muito mais incríveis.

Conhecendo, como espectador, a figura de Miguel Relvas, não se estranha que tenha pedido uma entrevista ao jornal Público. (Seria lógico que fosse o contrário, mas, no caso, sendo quem é, duvida-se muito).

Relvas é como certos colchetes de soutien antigo, pequeno, resistente, muito difícil de tirar do caminho e até perigoso, pois um colchete desses quando enferruja pode picar e provocar o tétano. Em qualquer dos casos, é sempre uma barreira para chegar ao que interessa, por ter interesses muito próprios.

O colchete, perdão, o ex-ministro que deixou de o ser por indecente e má figura – apareceu numa entrevista. Com honras de diretor de jornal a dialogar com ele, sem fazer aquelas perguntas estranhas, de que é que vive, já devolveu o dinheiro que a União Europeia lhe pediu da Tecnoforma, sempre se inscreveu para acabar o curso? Mas sabemos que o próprio já disse, por exemplo, que é “”despropositado e malicioso associar o meu nome a eventuais atos concretos de aplicação dos programas, realizados pela empresa”, e que o procurador do DCIAP  disse que “o único crime que poderia ser imputado a Miguel Relvas, mas não foi, seria o de abuso de poder, uma vez que havia vários indícios nesse sentido. Mas para que houvesse acusação era necessário que a investigação reunisse prova suficiente do crime…

José António Cerejo do Público foi desmentido pelo próprio em “direito de resposta” e que agora surge a entrevista e… Sabemos algumas coisas, das possíveis de saber. E somos doutos a ignorar o que não sabemos, não há dúvida.

Deste lado, na plateia, queríamos mais. Mas não há.

Há uma entrevista engraçada. E sabendo que Relvas põe, desde sempre, redes sociais, assessores de comunicação e jornalistas em grande azáfama, a coisa não é surpreendente.

Mig, que apoia Santana, sabe que o Partido não vai ter um líder para os próximos dois anos, mas um passadiço, desses de tábua velha – não sei se de laranjeira – que se poem sobre a lama. É que em política poucos são os que morrem e esses dois anos são fulcrais para os que vão renascer. Santana andará por lá, perderá daqui a dois anitos, e dois toca a trabalhar.

Na entrevista, Mig retira crédito e apoio ao seu amigo e associado P.P. Coelho. Tenta voltar à carga de uma velha angústia: “temos um PM que não ganhou as eleições”, esquecendo-se que quem deu o poder ao PM foi uma maioria que ganhou as eleições, bem somados os resultados. Não fala em geringonça, belo termo de outro associado, mas chama engenhoca à ideia – de Rui Rio? – de um bloco Central. Preconiza um PS vencedor, sem maioria absoluta, a governar com o BE, isto é, assume a derrota do novo líder laranja daqui a dois anos. E admite que o pequeno CDS da mais pequena Cristas é hoje o líder da oposição. Refere um dos clássicos como ator, com papel decisivo, no futuro do seu partido – o já antes destituído Marques Mendes. E aponta, por descargo de consciência, alguns dos mais novos, como entidades laranjas do futuro.

Delicadamente, Mig endeusa o Presidente. E põe os olhos em si próprio, como uma Kardashian ao espelho, ou Kim Jung-un e Trump ávidos dos seus botõezinhos – desses que disparam…migs e nos podem tramar a todos.

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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