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Quinta-feira, Março 28, 2024

Por que sofremos nas organizações?

Paulo Vieira de Castro
Paulo Vieira de Castrohttp://www.paulovieiradecastro.pt
Autor na área do bem-estar nos negócios, práticas educativas e terapêuticas. Diretor do departamento de bem-estar nas organizações do I-ACT - Institute of Applied Consciousness Technologies (USA).

E, o bem-estar parece, em muitos casos, apresentar já alguns dos tiques da sociedade de consumo, concorrendo para esse mesmo espaço de manipulação. E, bem-estar é bem-existir, bem-viver, nada tendo a ver com sofrimento.

Deste modo o bem-estar mercantilizou-se a um mesmo ritmo que a sua expressão está cada vez mais ligada a símbolos de status económico. O mesmo acontece no ensino, nas famílias, nas empresas,…

A perda da identidade dos povos está na origem desta inquietação. Transformando o bem-existir em algo que se pode imaginar como um bem de consumo vamos perdendo as nossas raízes, as nossas estratégias de origem, o nosso ser.

A sociedade de consumo introduz-nos aquilo que eu chamo de mundo sem função. No caso do bem-estar será o mesmo que dizer ausência de uma dimensão da existência concretizadora de propósito humano. E, daqui nasce todo sofrimento.

Assim se permite que muitos entre nós se tenham transformado em espectadores de si mesmo, ignorando, apesar da evolução tecnológica, a responsabilidade de ser e existir como humano. Certo é que quando isto se observa nas famílias, nas escolas,…, já pouco há a bem-viver.

Quanto vale o tempo passado nas organizações?

Pelo que tenho apreciado a resposta a esta questão não poderia ser mais desanimadora…

Para justificar as horas passadas nas organizações como tempo de não bem-existir lanço , habitualmente, uma outra pergunta: imagine que tem 24 horas de vida. O que faria com esse pouco tempo que lhe resta?

Não encontrei um único exemplo que tivesse referido o tempo de trabalho como fazendo parte da lista de prioridades perante tal desafio. Então, por que razão a vida profissional é, tantas vezes, entendida como o horário nobre das nossas vidas?! Por que a colocamos à frente de tudo?

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“Evolução do código de barras” – estúdio Davis Byg

A resposta é dolorosa. Afinal, somos escravos, prisioneiros por dívidas sem dar por isso. E, esta é uma condição que nos leva a perder o rumo do bem-estar. Porquê?

Um mundo sem função…

Para perceber o quanto o mundo mudou, e nós com ele, devemos estudar as palavras. No caso em mãos o exemplo que costumo dar é “lar”. Todos sabemos o que é. A palavra tem a sua origem no conjunto de deuses romanos protectores do domicílio familiar. Onde é que eu quero chegar?

É que o nosso lar tem hoje, sabe se lá porque diabo, uma energia que não tem mais a ver com a família, com a nossa origem. A nossa casa passou a ser um activo financeiro! Por isso aceitamos ser escravos das nossas mais incompreensíveis dívidas… Por isso, apesar de mais ricos materialmente somos cada vez mais infelizes, mais sofridos.

Mas, voltemos às nossas 24 horas de vida. Por norma, as respostas a esta questão são muito comuns no âmbito e no modo. Desde logo, importa salientar que muito poucos são os que dependem de excepcionais condições materiais para realizar os seus últimos sonhos ou enfrentar os seus medos mais profundos.

Só assim compreenderão a importância do perdão, da gratidão, da honra, do amor, do compromisso, do abandono da culpa e do medo, do quanto somos corajosos, etc. Por tudo isso, poderemos dizer que, no essencial, para estar realizados, dependemos de pouco, que é afinal, ainda, muito…

Solução: mudar as razões pelas quais estamos nas empresas, nos mercados, nas equipas, nas famílias, na vida… É uma questão de tempo e todos perceberemos isso muito bem. Por exemplo, ter dinheiro não nos enobrece, apenas o que fazemos com ele poderá dar-nos a felicidade de nos sentirmos mais úteis.

Concluindo, face ao momento presente, o bem-estar nas organizações, nas sala de aula, nas famílias depende disso mesmo: de muito pouco. Por que nos dispersamos em guerras, sentimentos que não são de união? O bem-estar é a única dimensão que poderá concorrer para este fim de forma cabal.

A espiritualidade, o desporto ou a arte são apenas formas de expressão deste algo maior, ou seja, elas não são um fim em si mesmas, apenas a ponte para cada um de nós próprios. Para o nosso bem-estar. E esta é uma experiência exclusivamente individual.

Lamentavelmente, vivendo, agora, de certezas incontornáveis, refugiando-se na ansiedade e na neurose, o homem moderno esquece-se – tantas vezes – de procurar a harmonia como o seu meio de vida. Esse é o grande desafio do bem-estar.

E, isso é já uma forma de transcendência, i.e. de vivenciar o seu lado espiritual. Não se esqueça. Ser criativo é ter já um pé do lado de Deus, seja lá o que isso (Deus) quer dizer.

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