Dele, apenas lhe conhecia o amor à poesia e a militância colocada na sua divulgação. Não conhecia até onde humildade lhe ia, a ponto de ele esconder que se tratava do seu aniversário. Os que sabiam foram coniventes naquela omissão ou não fosse a cumplicidade a regra sagrada da amizade.
À minha chegada, a apresentação dos que estavam ia-se fazendo com troca de sorrisos depois do anfitrião dizer, com um gesto alargado: “é tudo gente boa”. E passado pouco tempo íamos trocando palavras falando sobre tudo: sobre poesia (sem meter no mesmo saco Alegre, Ary e Sophia); sobre a net e o facebook, considerando este o eucalipto que vai secando tudo à volta, tal e qual as grandes superfícies secando o pequeno comércio, onde as pessoas conversavam com tempo e com afecto; sobre o comportamento dos pássaros que fogem dos espelhos, da luz brilhante e reflectida como se lhes corresse risco a própria vida; e da excepção do melro.
Falando de melros, Fernando Cid lembrou Guerra Junqueiro e perguntou-me se conhecia “O Melro”, quase envergonhado por me ter perguntado. Disse-lhe que sim e que já o tinha citado lá no “Conversa”.
Depois, depois foi um desbobinar de memórias da juventude daqueles homens (e também da minha). Do papel que cada tinha tido na cultura e na resistência, do trabalho extraordinário das colectividades da margem sul, sem exaltar outra coisa que não fosse a gratificante adesão do povo de então.
“Sem o trabalho de homens assim, não teria acontecido Abril. Sem este legado, não seria possível construir a Festa”, pensei.
Quando me despedi com um abraço, Fernando Cid, se despedia e dizia: “Espero que tenha gostado, eu sou isto: eu e os meus amigos!”
“Somos os amigos que temos!” – respondi.
Artigo publicado originalmente no blog Conversa Avinagrada