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Quinta-feira, Março 28, 2024

Trump retira EUA de acordo nuclear multilateral com Irã

O presidente Donald Trump anunciou na tarde dessa terça-feira (8) que retirará os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã e que retomará as sanções econômicas contra o país. Pressionado por Israel e sem o apoio do resto dos países signatários, Trump sai do acordo firmado em 2015.

“Anuncio hoje que os Estados Unidos se retiram do acordo nuclear com o Irã”, disse Trump. “Dentro de momentos vou assinar um memorando presidencial que começa a repor as sanções contra o regime iraniano. Vamos instituir as mais pesadas sanções econômicas”, disse, segundo a Reuters.

No centro do acordo com o Irã está a ficção de que o Irã procura um programa nuclear para fins pacíficos”, disse Trump. “Temos provas de que esse programa é uma mentira”. Mencionou como prova os documentos mostrados há dias pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que disse que Teerã mantém, desde o acordo, um programa nuclear secreto.

Na realidade, a apresentação feita por Netanyahu, perseguido por investigações de corrupção e enfraquecido pelas dissidências dentro de sua base da direita e extrema-direita, não conseguiu provar nada. Os documentos são 55 mil páginas e 183 CDs; esses arquivos mencionam um programa secreto de desenvolvimento de armas nucleares batizadas de “Amad”, e seu objetivo seria construir cinco ogivas nucleares. Mas, como o próprio presidente israelense admitiu, esses documentos são de um programa arquivado no outono de 2003, ou seja, mais de uma década antes do Irã se comprometer a não desenvolver armas nucleares e se submeter a inspeções da ONU.

Inclusive, apesar das suspeitas carentes de fundamentos de Trump e de Israel, em uma vistoria realizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e publicada no dia 5 de março desse ano, contendo dez relatórios, foi comprovado que o Irã cumpriu integralmente seus compromissos listados no acordo (conhecido como Plano Abrangente de Ação Conjunta).

Os arquivos apresentados por Netanyahu (que vieram em ótima hora, uma vez que Trump tomaria a decisão no dia 12-que foi adiada para essa terça) só poderiam provar que mentiram quando disseram que seu programa sempre foi totalmente pacífico e que jamais cogitou ter armas nucleares. Mas esses documentos são do governo anterior ao de Hassan Rouhani, considerado mais reformista e principal articulador do acordo. Além disso, se foi feito o pacto, é porque essa questão de 2003 foi finalmente resolvida. Se Israel, com os seus serviços de espionagem super avançados, detectaram apenas esse deslize, é porque “o Irã não pesquisa o tema há muito tempo”, como colocou o jornalista Antonio Luiz Costa. “”Provas”, fragéis ou sólidas, só contam na política internacional como pretexto público para sanções, ações militares e outras intervanções”, alertou ainda Costa, de forma bastante esclarecedora, em sua matéria para a CartaCapital.

Existe um motivo para Israel se incomodar tanto com o Irã. O país, que antes era a única potência do Oriente Médio, não gosta da ideia de ter que dividir esse reconhecimento com o Irã, que aumenta cada vez mais a sua influência na região. O país liderado por Netanyahu (que, aliás, ao reunir todas as suas forças para “combater”o Irã desvia a atenção de problemas internos preocupantes) possui um forte lobby no Congresso norte-americano, além de ser o principal aliado dos EUA no Oriente Médio, o que explica parte da iniciativa de Trump.

Costa também aponta uma hipocrisia impossível de não ser destacada. Usar a justificativa de que o Irã mentiu no passado quanto às suas intenções bélicas e nucleares para retaliar o país e anular o acordo é rídiculo se lembrarmos de como Bush e Tony Blair mentiram sobre as “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein (usadas de premissa para invadir o Iraque) ou como Obama mentiu sobre a existencia de mísseis nucleares iranianos para instalar na Europa, em 2009, um sistema anti-mísseis contra a Rússia. Isso sem contar o fato de que Netanyahu mente desde 1992 sobre a iminência da ameaça iraniana, sendo que seu país mente desde 1960 sobre o seu próprio programa nuclear e suas bombas atômicas, como conclui Costa.

Nem a França, nem a China, nenhum outro signatário do acordo deu legitimidade às “denuncias” israelenses, e todos tentavam convencer Trump a permanecer no acordo. Antonio Guterres, secretário geral da ONU, afirmou, inclusive, que o acordo é essencial para a paz.

Em sua declaração Trump chamou o Irã de “regime de terror”, ao passo em que fecha os olhos para a violência que Israel utiliza para promover um verdadeiro massacre de palestinos na Faixa de Gaza. Com a retomada das sanções contra o Irã, os Estados Unidos irão dificultar para o Irã a venda do seu petróleo e a utilização do sistema bancário internacional. Contudo, trata-se de uma retirada unilateral, já que o restante dos signatários do acordo (Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) mantém o seu compromisso com Teerã.

Segundo informações do jornal Publico, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, pediu à comunidade internacional para se manter no acordo, apesar da decisão de Trump. “Estou particularmente preocupada com o anúncio de novas sanções”, disse. “A União Europeia está determinada a preservar o acordo. Juntamente com o resto da comunidade internacional, vamos preservar o acordo sobre o nuclear”, concluiu.

Hassan Rouhani já respondeu à decisão de Trump. Acusou os Estados Unidos de nunca cumprirem com seus compromissos, e assegurou que o Irã continuará a cumprir os termos do acordo nuclear. “O Irã é um país que cumpre os seus compromissos e os EUA são um país que nunca o faz”, disse o presidente iraniano.

Por Alessandra Monterastelli Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV  / Tornado

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