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Quinta-feira, Abril 18, 2024

Turquia: ditadura à vista

Mendo Henriques
Mendo Henriques
Professor na Universidade Católica Portuguesa

… que o fracassado golpe de 15 de julho não foi ordenado por Fetullah Gülen; que a purga pós-golpe visou aprofundar o poder de Erdoğan. E contudo, a Europa protestou tarde e a má horas.

Agora, a 21 de janeiro, o Parlamento turco aprovou um pacote de reformas que, a passar num referendo em abril, fará de Erdoğan um ditador, com controlo dos poderes executivo legislativo e judicial.

O presidente eleito pelo povo será o chefe do executivo. Continuará a ter ligações com o partido. Como presidente e parlamento nomearão os juízes e procuradores dos tribunais superiores, controlarão a justiça. A Turquia ficará um regime sem controles nem contrapesos.

Quando se trata de adular o poder, a Turquia é Próximo Oriente puro. Há mulheres que se oferecem para co-esposas do líder e deputados no parlamento que dizem que tocar no líder é sinónimo de oração. Como diz o provérbio O dervixe voa por causa de quem o adora.

Erdoğan já lançou a campanha de referendo. O Partido de Justiça e Desenvolvimento (AKP) e o novo parceiro de coligação, o Movimento Nacionalista (MHP) organizarão inaugurações em cadeia, usando os fundos públicos para a propaganda.

O parlamento tem dois partidos e alguns resíduos. À esquerda, o Partido Republicano (CHP) faz má figura. Por outro lado, Erdoğan tentará afastar em novas eleições os partidários de Fetullah Gülen – alegadamente perdoados em troca do sim à emenda constitucional.

Boas notícias? O declínio da lira turca abrandou. O mercado será inundado com moeda. Mas os incidentes terroristas serão um argumento a favor dos superpoderes presidenciais.

A Turquia é como um autocarro sem travões com uma parede de cimento à frente.

A qualquer momento, o estado profundo turco ou, como diz o relatório do INTCEN, o AKP profundo pode atear fogo a uma mesquita, bombardear um monumento a Atatürk e culpar as hordas fascistas grego-cipriotas, como em Chipre.

As ações provocadoras e a fabricação de provas tornaram-se uma especialidade como nos casos Ergenekon e Sledgehammer; centenas de pessoas desapareceram na prisão. Houve tempo em que os gülenistas serviram de forma piedosa para o AKP se vingar dos secularistas. Os tempos mudaram. Agora os gülenistas enchem as prisões.

66 anos depois de aderir à NATO, a Turquia voltará à regra de partido único que foi obrigada a abandonar em nome do respeito à lei e ao direito?

Estará a Turquia a caminho de uma ditadura de facto? O autoritarismo quer ser a Nova Ordem Mundial? Será que se desvaneceu a memória coletiva dos anos 30, e o planeta precisa de aprender de novo a lição?

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

Nota do Director

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