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Quarta-feira, Março 27, 2024

Um Cutileiro pró Hassan

João Vasco AlmeidaHassan, camarada, se vieres a Lisboa não temos hipótese de tapar nada, por causa do Cutileiro. Uma vergonha. Imagina tu que quando ele levantou a magna-coisa no alto do Parque para celebrar Abril, houve aqui gente que, como tu, sem suportar ver pilinhas ao alto, quis dar cabo do falo. Puseram-lhe um lençol por cima, Hassan, mas aquilo ainda era mais explícito, parecia um convite em noite de sexta-feira.

Eu percebo o teu pudor, camarada Hassan. Cá agora tudo nu! A gente veio ao mundo logo de xador. A gente sabe que lá na religião que professas não se permite que os fiéis mostrem em público as “partes íntimas” – para os homens, a região entre o umbigo e o joelho; e, para as mulheres, o corpo inteiro, excepto o rosto e as mãos.

(c) Pedro Ribeiro Simões
(c) Pedro Ribeiro Simões

Mas camarada, os Cutileiros não têm religião nenhuma e, ainda por cima, são calhaus! Olha lá o azar se a Pérsia estivesse cheia de menires… Hassan, escuta, o povo não está na gruta – há muito que saiu desses preconceitos. O teu país condena à guilhotina os produtores de filmes pornográficos. Tirando o Sá Leão, não vejo razão para este disparate. O teu país condena a 100 vergastadas a relação sexual entre dois adultos não casados. Como se, depois de casados, passados uns anos, as tivessem, ó Camarada!

No teu país, camarada Hassan, a vida da mulher vale metade da de um homem. Está no artigo 209 da tua Constituição. E ainda por cima lá se diz que o marido pode impedir a mulher de trabalhar, só porque sim.

Camarada Hassan, tu é que devias vir coberto de vergonha para estas paragens. O teu dinheiro não vale um valor civilizacional progressista – embora na bela Pérsia que vocês tomaram considerem que são de esquerda e revolucionários e amigos do internacionalismo.

A gente tem por cá muita coisa para cobrir, mas nunca os valores da igualdade e da liberdade. Se os fraquinhos europeus te cedem, desde o filho de Ratzinger aos Mastroiannis das jotas, é porque não estão longe dos carochos que por dez euros fazem o pino invertido.

E atenta: o meu problema não é nem o islão nem a Pérsia. Ainda esta semana os outros, os teus inimigos sunnis, proibiram o xadrez, coisa que foi inventada por árabes. A nossa capital já foi Damasco e a nossa cultura tem mais de árabe do que a tua. Os árabes somos nós, camarada Hassan, com a gastronomia, a poesia, a cultura, as ruas estreitas.

Se vieres a Lisboa eu mostro-te o Cutileiro e o Tejo. É que não acredito que, como homem, sejas tão taralhouco que penses mesmo que chicotadas e guilhotinas, que a nudez das pedras seja o problema do mundo. Mas se o pensares, pouco há a fazer senão entregar-te a uma família de acolhimento a ver se te dão educação. A Pérsia era linda, o Irão também. A Europa, reconheço, é que não se anda a sentir nada bem.

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