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Sexta-feira, Abril 19, 2024

De volta às fogueiras da inquisição

Christiane Brito, em São Paulo
Christiane Brito, em São Paulo
Jornalista, escritora e eterna militante pelos direitos humanos; criou a “Biografia do Idoso” contra o ageísmo.  É adepta do Hip-Hop (Rap) como legítima e uma das mais belas expressões culturais da resistência dos povos.

Christiane de BritoAs chamas que a envolvem, na verdade, são da tocha olímpica, que chegou ao Brasil nesta terça (03) e vai percorrer o país até voltar ao ponto de partida, Brasília, e dar início aos Jogos Olímpicos de 2016.

Nos meus primeiros tempos no jornalismo, estudamos muito as capas censuradas pela ditadura e as fotos, geniais, que driblavam proibições, escancarando ideias de liberdade por meio do olhar artístico. A mensagem era positiva.

Por mais que todos os que tinham senso de justiça execrassem o regime e, sobretudo, os torturadores, o jornalismo de oposição, subliminar, não sugeria violência, não transformava violência inconcebível (como a que levou mulheres às fogueiras da inquisição) em espetáculo digno de aplausos.

Não sei se os opositores da Dilma se divertiram com a cena, talvez sim, talvez nem saibam o quê e quanto está em jogo no Brasil e no mundo.

olimpicoNa Europa, os chamados partidos de família sombria, que representam a extrema direita, estão dominando, triunfaram há dois dias na Alemanha lançando manifesto contra o Islã, querem fronteiras fechadas para estrangeiros, fuzis contra os que desobedecerem as regras, querem a proibição da prática do islamismo no seu território, o fim das burkas…estão despertando o passado que atormentou a memória dos alemães desde o fim da segunda guerra: o nazismo.

As feridas de quem sofreu em guerras e ditaduras estão sendo reabertas por conjunturas/manipulações políticas e por jornalistas que não têm conhecimento ou percepção dos alçapões em que podem cair, na história, por galgarem caminhos tão perigosos em direção a perseguições e condenações sem provas.

O mundo está indo para o lado da sombra, basta ler manchetes de jornais do mundo todo, inclusive do Brasil. É urgente resgatar alguma luz, como o discernimento político e a solidariedade. Chega de facções, de fundamentalismo, principalmente, chega de piadas com coisas sérias.

Tiraram a Dilma e agora? Vamos queimá-la na fogueira e ficar com o prazer dessa diversão enquanto durar? Pois durará muito pouco e a realidade que nos espera é a de tirar os ladrões do poder e encontrar novos líderes que nos representem.

Eliseu Padilha, possível novo ministro do governo Michel Temer, fez menção ao “absurdo número de desempregados”, segundo ele, que temos hoje no Brasil. Blefou, não vai conseguir diminuir esse número com a plataforma política que defende (“ponte para o futuro”).

Em vez de ouvir pessoas como Padilha e suas promessas vazias, vamos buscar representantes que já tenham honrado, com seu passado, o compromisso de lutar pelo povo, pelos direitos humanos. Não é assim que as empresas contratam seus melhores profissionais?

Vamos ver o currículo (não o acadêmico) dos políticos em que votarmos, vamos ocupar nosso espaço e reivindicar a riqueza desse país para nós.

Sem levar ninguém para a fogueira que ressuscita a idade das trevas.

 

Nota: A autora escreve em português do Brasil

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