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Quinta-feira, Março 28, 2024

Venezuela – o negócio do petróleo e os seus militares

Carlos de Matos Gomes
Carlos de Matos Gomes
Militar, investigador de história contemporânea, escritor com o pseudónimo Carlos Vale Ferraz

A questão do regime na Venezuela é simples e vulgar: O regime será o que os militares quiserem. Vale para a Venezuela e para qualquer regime e para qualquer época da história.

Na Venezuela, como na Roma de César, a questão é a percepção que os militares (neste caso os venezuelanos) tiverem do seu papel no exercício do Poder.

A questão é: o de que tem Maduro a oferecer aos seus militares e o que tem Juan Guaidó a oferecer-lhes.

 Qual é a análise de situação que os militares venezuelanos fazem?

Eles sabem que:

  • os Estados Unidos são a potência dominante do continente americano, norte e sul. Mas que já não são a potência dominante mundial.
  • os Estados Unidos estão em competição mundial com a China. O que quer dizer que estão em competição mundial por recursos. O recurso decisivo para os EUA continua a ser o petróleo.
  • os Estados Unidos continuam a apostar no petróleo como recurso energético decisivo para o desenvolvimento  e a China aposta na energia eléctrica (leia-se o artigo sobre mobilidade baseada no motor a combustão e motor eléctrico do El Pais de 25 de Janeiro (El coche europeo se asoma al abismo)
  • a Venezuela é o segundo país do planeta com maiores reservas de petróleo, a seguir à Arábia Saudita e situa-se no continente americano – área de influencia dos EUA. O militares venezuelanos sabem da importância da Venezuela como produtor de uma matéria-prima para os EUA…

Mas os militares venezuelanos também sabem que os EUA apoiaram o golpe dos militares brasileiros (golpe Bolsonaro) e atribuíram aos militares brasileiros o papel de seus agentes para a América do Sul.

Isto é: Os militares venezuelanos sabem que são os sentinelas (os donos do paiol) do recurso essencial para os seus soberanos, mas que os soberanos querem que eles sejam subalternos dos brasileiros para chegarem até eles e receberem a sua parte dos despojos.

Os militares venezuelanos sabem que o jovem Juan Guaidó é um bonifrate, uma criação dos EUA, que só tem a oferecer-lhes a obediência aos EUA através dos militares brasileiros.

Os militares venezuelanos sabem que Maduro está nas suas mãos, é uma criatura sua. E que com Maduro podem ser interlocutores entre os EUA e a China e que com Maduro podem não ser subalternos dos militares brasileiros – que eles detestam. E com razão.

A questão venezuelana resume-se à escolha que os militares venezuelanos fizerem dos seus interesses. O que é um risco para eles. Daí as suas hesitações e divisões. Ou escolhem jogar pelo seguro, serem os subalternos da sub-potência brasileira, para obterem vantagens dos EUA. Ou escolhem ser actores e arriscarem-se.

A questão está neste dilema dos militares venezuelanos: ou optam por negociar o petróleo da Venezuela sendo subalternos dos brasileiros, ou jogam a cartada de serem eles a negociar directamente com as super-potências – que é o que Maduro lhes oferece.

Tudo se decidirá segundo o uso e o costume: quanto estão dispostos a pagar os EUA para comprarem os militares venezuelanos?

Uma pergunta final: O que tem a União Europeia a ver com este negócio entre os militares venezuelanos, os EUA e a China?

O que tem a Portugal a ganhar tomando posição entre vendedores e compradores de petróleo?

Responda o ministro Santos Silva…


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