De há uns anos a esta parte temos vindo a assistir, e a “beneficiar”, de um aumento significativo do tempo médio de vida. Um aumento relevante, quiçá pernicioso, impensável, mesmo sabendo nós que um dos sonhos do Homem sempre foi o de se eternizar, sem levar em conta a sustentabilidade dos ciclos ativos e interativos da vida: a sua e a do meio em que se insere.
Impensável porque se o tivesse sido pensado e previsto a tempo, não teríamos as dificuldades que hoje em dia se colocam às civilizações:
- O equilíbrio ambiental necessário para a sustentabilidade da vida no Planeta.
- A biodiversidade; a demografia; as alterações climáticas; a instabilidade da massa líquida; a instabilidade da massa rochosa; a instabilidade das placas tectónicas; a interação espacial; o efeito estufa; um rol enumerável de implicações e de consequências.
Temos também, um tempo de acesa disputa pela razão entre economistas e sociólogos. Sendo que estes últimos têm vindo a perder essa “batalha” por mera questão de mediatismo e também porque a sociologia acompanha o percurso de vida dos Homens e a economia acompanha o percurso de tudo aquilo de que os Homens se servem por necessidade existencial.
Sejam do foro das necessidades materiais ou do foro das necessidades do equilíbrio mental necessário.
A economia e a sociologia são áreas distintas do saber. São áreas com alcance visionário diferenciado sobre cenários hipotéticos do percurso dos Homens de hoje e do futuro. Da sua organização social; política; económica, em que se inserem todos os recursos, e outros.
Desta disputa: a da razão. Resulta superioridade para a componente que envolve a economia: micro; macro; e também a intermédia, pelo simples facto de a transição mercantil ao longo da existência de sociedades organizadas, sempre ter condicionado a detenção dos bens através do domínio político e por via deste implementar um conjunto de regras a que todos estão sujeitos.
Neste contexto a economia sempre fez um percurso ruidoso ao longo da História por em sua volta se digladiarem todos os interesses em disputa e que determinam a qualidade de vida individual e coletiva das sociedades, mas também dos efeitos colaterais que provocam no meio.
A sociologia que não é uma constatação científica tão recente quanto se equaciona, continua a fazer o seu caminho silencioso, aprofundando o estudo, lançando e relançando motivos e relatando os factos que nunca são conclusivos por não serem óbvios, de alteração permanente na relação social dinâmica de vida. Factos complexos e que exigem qualidade superior de discernimento ao cidadão comum. Uma condicionante que limita esta sua tarefa sociológica.
Até porque, enquanto que, aos agentes económicos o desenvolvimento da cognição não lhes interessa. E por isso não deixam a componente educativa das sociedades acontecer com a naturalidade que uma visão civilizada nesta vertente exige.
À sociologia e vertente educativa é de superior interesse para uma melhor cognição, um fator relevante para a complementaridade da sua tarefa científica de analise critica das sociedades e das civilizações em todos os domínios e em todos os seus estádios.
A longevidade trouxe assim um novo ciclo de vida e um enorme desafio aos sociólogos contemporâneos:
- Um novo ciclo para o qual a organização social em Estados não está preparada.
- Um ciclo de retração na rotatividade do seu tecido social e do consequente ajustamento intelectual das gerações.
- Rotatividade evolutiva dos agentes económicos, pensando exclusivamente nas necessidades casuísticas das gerações do presente (no tempo) sem ter em conta a componente da envolvência.
- As mudanças operadas no território e no tecido social.
- O entrelaçar de várias gerações.
- A multiplicidade cultural.
- A disparidade racional em resultado das memórias e da aprendizagem.
- Entre muitos outros fatores relevantes para o ora abordado problema da longevidade.
Pelas razões expostas e outras, a longevidade trouxe problemáticas específicas para as quais se deve olhar pelo lado sociológico sob pena de se perder a razão ao circunscrever o interesse económico sem aprofundar as causas e as consequências.
Um lado que não devendo ser de interesse unilateral, antes pelo contrário, deve contemporizar a educação de forma a manter os afetos e resolver as necessidades. Articulando os efeitos do tempo do limite de cada geração de forma transversal através da partilha e do senso.
Este novo ciclo de vida veio para ficar. Daí que se deva olhar a sociologia com a atenção devida e travar a intrincada teia manipulada pelos economistas que não trazendo nada de novo -a inovação é uma consequência da necessidade- servem interesses retrógrados em que a longevidade surge como um problema e nunca como uma benfeitoria a bem da Humanidade.
“Diabolizar” a longevidade ou pensar que adiando em anos de trabalho o merecido descanso num tempo em que as soluções passam pela diminuição dos horários laborais assim como uma maior eficácia em atividades a partir da residência em domínios do manuseamento de ferramentas eletrónicas, a racionalização da prestação de serviços indiferenciados e de serviços especializados, da manufatura na produção, das redes de distribuição, desde a matéria prima ao consumo, inclusive no tratamento dos manuseados, dos transgénicos, entre outros, é não perceber que os sonhos dos Homens são a garantia de uma vida melhor para todas as gerações vindouras.
É ter vistas curtas e capacidade de raciocínio limitado. Porque tem sido os sonhos do Homem que tem concretizado todos os acontecimentos que nos trouxeram até hoje!
A longevidade conseguida pelo Homem é uma odisseia no tempo e na História.
É uma vitória conseguida a pulso!
Por isso, tanto a economia como a sociologia devem articular-se em complementaridade inteligente.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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