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Sexta-feira, Abril 26, 2024

A Esquerda e o costume

Carlos Narciso
Carlos Narciso
Jornalista

angelo-passos

 

Há vícios comportamentais que perduram no tempo e por mais licenciados ou doutorados que o país tenha, o modo de estar na vida não muda.

Amiguismo

Encontrar emprego para a família ou amigos é uma espécie de desígnio nacional que os portugueses perseguem com afinco e esperteza. Isso reflecte-se na qualidade dos políticos que temos, mas também se nota noutras esferas de acção, nomeadamente nas empresas públicas onde existem agregados familiares inteiros ali vinculados profissionalmente. Nos privados o fenómeno também se nota, mas aí o problema é do dono da empresa e não tem custos para o erário público.

O amiguismo e o clientelismo infectou as elites ligadas ao Poder e nenhum partido político escapa a esta doença. As juventudes partidárias e os clubes de acesso restrito servem de estágio para filhos e enteados de ministros, generais e bispos até surgir a oportunidade de trepar.

Um bom patrono partidário encaminha os seus pupilos durante anos, ensina-lhes os truques utilizados para imiscuir negócios na política e vice-versa, empurra-os escada acima até às comissões políticas, às secretarias de Estado, aos ministérios, às organizações internacionais.

Sempre que penso nisto vem-me à lembrança o amparo dispensado pelo dirigente do PSD e empresário Ângelo Correia, durante anos e anos, a Pedro Passos Coelho… No meio disto, pouco importa se o putativo executivo é competente ou sequer inteligente. Basta que seja esperto e tenha aprendido bem as lições dispensadas.

Moralizar

Moralizar a política tem sido uma promessa eleitoral sucessivamente quebrada, a tal ponto que o eleitorado já não presta atenção a discursos ocos e há cada vez menos gente a votar. O chamado critério da “confiança política” tem servido de capa para conluios entre amigos e clientelas políticas e, é evidente, nestas circunstâncias, torna-se difícil ter governantes capazes, sinceramente empenhados no serviço público e no bem comum. Problema que afecta a governação em todos os níveis, das freguesias ao governo central.

Acredito que esta é uma das razões de Portugal ser desde há décadas um país de emigrantes. Porque fugir disto pode ser, por vezes, a única solução encontrada pelo cidadão para ter oportunidades de trabalho, de sucesso, uma vida digna. O resultado imediato é que a competência nacional não vive aqui… o que é uma desgraça.

Mudar o enquadramento acima descrito é obrigação dos governos, mas em especial de um governo como o actual. Ser de esquerda não é só regredir privatizações manhosas, suspender o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde ou da rede pública escolar. Isso é aquilo a que poderemos chamar de serviços mínimos de um governo de esquerda. Mas nós precisamos de mais.

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores e não reflectem necessariamente os pontos de vista da Redacção ou do Jornal.

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