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Quarta-feira, Março 27, 2024

A grandeza do banquinho que permite chegar ao pote

Alexandre Honrado
Alexandre Honrado
Historiador, Professor Universitário e investigador da área de Ciência das Religiões

Trump, Presidente dos Estados Unidos da América

Já escrevi e partilhei publicamente reflexões sobre a eleição do construtor civil Donald Trump que agora é o 45º presidente dos Estados Unidos da América, país que é uma reunião de estados feito às costas dos emigrantes e da multiculturalidade e que agora trai os seus princípios, depositando o seu destino nas mãos de um programa político de contaminação social feito de chavões racistas, xenófobos e extremistas.

Como todos os construtores civis, Trump não vive do que ergue mas daquilo que, antes destruído, dá lucro a erguer. Mesmo assim, gaba-se de ter sido ele a construir quase todos os prédios novos que hoje encontramos nos bairros do Brooklyn e do Queens, em Nova York.

Trump faz parte de uma família unida que gosta da perseguição dos mais fracos, ganhando com eles; que gosta e cria os cenários de guerra – pois quem demoliu sabe que será preciso depois construir novos espaços para viver, pagos a peso de ouro . Uma família que controla os destinos do mundo e que conhece tão bem a arte do biscate como a do orçamento forjado e a procura de vantagens fiscais inexploradas.

Trump não fez fortuna sozinho. Para além das ajudas do sistema, herdou-a do pai, Fred Trump. (Fred costumava terminar as obras por um valor abaixo do orçamento financiado pelo governo. Sendo assim, embolsava a diferença, prática que, apesar de legal, acabou por obrigá-lo a prestar depoimento perante um comité do Congresso americano).

ADN Trump

ADN Trump - Trump Towers | Trump Presidente

É com este ADN que Trump chega ao topo do mundo. Mas não só por causa da genética. O mundo já anda há muito a mostrar sintomas da sua incompetência. Todavia não há memoria de que um diagnóstico conduza à cura do paciente, sem recorrer a outros recursos eficazes. Criando gerações de semianalfabetos e massas desinteressadas do seu próprio destino, massas fragilizadas pelo quotidiano miserável que lhes sobra, os que detêm o poder gerem o mundo e, ao mesmo tempo, as figuras de animação de corte como os bobos Trump. Os Trump são fundamentais para a perseguição de objectivos do grande capital: parecem grandes, mas a sua grandeza é a mesma do banquinho que permite chegar ao pote das bolachas em cima do armário.

Trump cumpre o destino que os grandes monopólios lhe indicaram. Fazendo-o apostar nas guerras, no armamento (nos Estados Unidos a arma serve para a Guerra, para a exportação e para consumo interno a um nível que há muito já ultrapassou a paranóia), e ser a porta aberta para os tráficos mais variados – em resumo para os filões aparentemente inesgotáveis de lucro.

Putin está feliz, era a sua aposta; mas também os extremistas mais radicas, como os que minam a segurança do mundo, porque sabem ter agora um dos seus iguais num posto chave, que continuará a permitir os grandes negócios, muitos deles em torno dos combustíveis fósseis, e as linhas de crédito com que vestem e armam os seus exércitos radicais.

Mobilização da Europa?

Ao mesmo tempo, a vitória de Trump pode servir de mobilização da Europa: ou se ergue uma nova vontade de progresso ou cedemos aos fundamentalistas que ganham terreno, da senhora Le Pen às outras figuras que nos condenam à derrota e explodem a sociedade da paz, do laicismo e da cultura que ainda teima em resistir em nome de um Humanismo que nos una.

Nos primeiros dias da I Guerra Mundial o povo andava em bailarico, achando que esta era a salvação. Morreram milhões – que nunca mais dançaram. Os seus descendentes, deram a vitória a Hitler nas eleições, tornaram Mussolini chefe de Estado, permitiram Franco e Salazar… Morreram muitos mais milhões – que nunca mais decidiram nada.

A vitória de Trump é ainda a derrota de Obama

Obama teve como pontos fortes a retoma de algumas esperanças e a recondução de outras tantas utopias. Falhou nos dois mandados – principalmente porque há um muro intransponível na América, nesta que se acha dona do mundo: um Senado que bloqueia e é extrema e inflexivelmente resistente às reformas; e os patrocinadores que de facto mandam nessas pobres marionetas do serviço público: presidentes, senadores, aparelho de Estado. É um muro. E, não sei se sabem, Donald Trump, o construtor civil que se torna não só o 45º presidente dos Estados Unidos mas o portador de novos muros, é eleito no dia em que em Berlim, há 27 anos, caiu outro muro. Que pelos vistos não trouxe ao mundo mais do que um momento extremo que a história já esqueceu.

Nota do Director

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