A nossa avaliação ***
Apesar de estar mesmo aqui ao lado, o cinema espanhol só muito raramente consegue chegar aos ecrãs portugueses. A estreia deste filme em Portugal é, por isso, um facto que merece ser saudado.
Icíar Bollaín, actriz e realizadora
Icíar Bollaín é uma actriz e realizadora madrilena que está prestes a chegar aos 50 anos. Tem no seu currículo interpretações em mais de uma vintena de filmes de cineastas espanhóis (Victor Erice, Manuel Gutiérrez Aragón, Felipe Vega, Pablo Llorca, José Luís Cuerda,…), mas também em ”Jangada de Pedra” de George Sluizer e em “Terra e Liberdade” de Ken Loach.
Como realizadora, destacam-se na sua filmografia “Flores de otro mundo” (1999) – melhor filme da Semana da Crítica no Festival de Cannes, “Mataharis” (2007), “También la lluvia” (2010), “En tierra extraña” (2014) e, sobretudo, “Dou-te os meus olhos” (2003) – Prémio Goya para o melhor filme, uma excelente abordagem do tema da violência doméstica.
Iciar Bollain é uma personalidade do cinema espanhol com uma obra comprometida, do ponto de vista social, político e de defesa do ambiente. O mesmo acontece com o seu companheiro, o escocês (nascido na Índia) Paul Laverty, assíduo colaborador de Ken Loach para quem escreveu, entre outros, os guiões de “A Canção de Carla”, O Meu Nome é Joe”, “Ventos da Liberdade” ou “Eu, Daniel Blake”, os dois últimos Palmas de Ouro de Cannes.
A Oliveira do Meu Avô, o filme
Em “A Oliveira do Meu Avô” estão reunidas a direcção de Icíar Bollaín e o argumento de Paul Laverty.
Tudo terá começado quando, há uma dúzia de anos, Laverty leu num jornal noticias do arranque e venda – por dezenas de milhares de euros – de oliveiras com milhares de anos, em alguns locais da Espanha rural. Árvores que já existiriam no tempo da ocupação romana. Os múltiplos projectos em que o guionista esteve envolvido foram adiando o tratamento deste tema que nunca deixou cair no esquecimento. Até que finalmente surgiu uma oportunidade.
“A Oliveira do Meu Avô” conta a história de uma jovem de 20 anos, Alma, que trabalha numa instalação de criação de frangos. O avô deixou de falar e perdeu a alegria de viver quando, há anos, os filhos venderam, contra a sua vontade, uma oliveira antiquíssima. O avô é, para Alma, a pessoa mais importante e aquela que mais admira. Quando descobre que a árvore foi transladada para a Alemanha e está no átrio da sede de uma grande empresa que faz passar a ideia de ter uma política ambiental inatacável, Alma resolve empreender uma “missão impossível”: fazer uma viagem a terras germânicas e trazer a oliveira de volta.
Direito das pessoas à sua individualidade
Poder-se-á dizer que, num registo de comédia dramática, o filme tem muito de quixotesco e de inverosímil e que explora (ou manipula) os sentimentos do espectador. Mas também tem aspectos muito meritórios, tanto na forma como no conteúdo: por exemplo, a qualidade das interpretações mas também a expressão de valores como defesa do direito das pessoas à sua individualidade, à sua ligação à terra e às memórias; a defesa do equilíbrio do homem com a natureza que o rodeia; o respeito e a afectividade das relações humanas em oposição à especulação desenfreada ou ao lucro fácil.
Em resumo, “A Oliveira do Meu Avô” é uma obra com algumas fragilidades, mas muito fiel à trajectória dos seus autores e, sem dúvida, portadora de valores que, em nossa opinião, deverão sempre ser defendidos.
O filme é candidato aos Prémios Goya (a atribuir em 4 de Fevetreiro de 2017) para a Melhor Actriz Revelação (Anna Castillo), para o Melhor Actor Secundário (Javier Gutiérrez), para o Melhor Guião (Paul Laverty) para a Melhor Música Original (Pascal Gaigne).
Trailer
https://youtu.be/6u-DI_eTzdc
Nota: A nossa avaliação de * a *****