Os decretos do presidente da República, Jair Bolsonaro, que facilitam o acesso a armas e munições revelam a essência truculenta do seu governo que, ao mesmo tempo, tem demonstrando muita dificuldade com medidas para agilizar a vacinação e o atendimento às demandas da crise sanitárias.
Diante dessa medida inconstitucional, que agride os direitos humanos e fomenta ainda mais o ambiente de violência, a sociedade reage por meio de parlamentares e de entidades sociais.
Por trás dessa atitude bolsonarista pulsa a lógica de que as consequências de um país marcado por profundas desigualdades devem ser combatidas somente com repressão. É a causa da violência que combate a violência. Essa bandeira havia perdido terreno em uma grande porção da sociedade, tida como coisa de gente truculenta, e voltou com força. O ponto de vista social — a forma correta de encarar o problema — passou a ser atacado violentamente.
Essa tese ganhou terreno com o aumento das taxas de criminalidade, decorrência do agravamento das desigualdades econômicas e sociais. A causa social passou a ser considerada sinônimo de conivência com a criminalidade. Foi assim que se abriu caminho para o discurso de candidatos adeptos da truculência, a defesa da prática de executar sumariamente no lugar de investigar e punir pelas normas do Estado Democrático de Direito.
Bolsonaro é um típico representante desse pensamento. Para ele, o combate ao crime, ao invés de seguir os parâmetros do equilíbrio social, deve movimentar-se à margem da lei, ameaçando a própria sociedade com o uso indiscriminado da violência. Seria o reforço da prática da tortura e do desrespeito aos direitos civis — legado dos anos de ditadura militar —, a ratificação de um sistema de repressão que, sob o pretexto de combater o crime, adota o crime como método.
É evidente que entre os alvos do bolsonarismo estão os que lutam contra a desigualdade social e pela democracia de massas, e suas organizações. Para esse pensamento truculento, quem luta pela posse da terra, pelas conquistas trabalhistas, contra as discriminações sociais — por direitos humanos, numa definição — pode ser enquadrado na categoria de “bandidos”, ou “defensores de bandidos”.
Esse pensamento é tipicamente fascista. Ele não considera que os excluídos, sem cidadania e com baixo poder aquisitivo — ou mesmo sem poder aquisitivo —, são gerados por uma máquina que concentra renda e explora força de trabalho numa velocidade cada vez mais alucinante. A acumulação de capital numa velocidade estonteante pela dominação do sistema financeiro internacional dos Estados nacionais é a verdadeira causa da desigualdade social e de suas consequências.
O governo Bolsonaro é um retrato nítido dessa constatação, da lógica de trucidar as vítimas dessa dominação e deixar incólumes os mecanismos do Estado a serviço dos que se beneficiam com essa situação decorrente da estrutura social que tem por norma produzir excluídos em massa. Que a violência precisa ser combatida, não há dúvida. Mas por trás dessas medidas bolsonaristas há interesses muito poderosos, que passam pela indústria armamentista e pela do Estado com perfil autoritário, truculento, além de fomentar a barbárie nas relações sociais, com o estímulo ao uso indiscriminado de armas.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado