A “esquerda”, desde os anos 70, parece a Marie Antoinette, a tal rainha francesa que perdeu a cabeça… na guilhotina da revolução dos “sans culotte”, os “deplorables” da época. A guilhotina é, agora, eleitoral… E a democracia está a tornar-se perigosa: tem eleitores e eles decidem. E isso, pior que um perigo, é uma ameaça pois, como toda a gente sabe ou suspeita, os eleitores não são suficientemente esclarecidos e inteligentes para terem essa prerrogativa da decisão! Aliás, já o dr. Salazar e o seu epígono dr. Caetano o sabiam e se fartavam de o repetir! A vitória de Trump e o Brexit ou a ameaça da Le Pen, a vitória recente de um jovem populista na Áustria, a ascensão imparável da AfD na Alemanha (já passou o SPD…) são provas da incapacidade do eleitorado para decidir e do risco que corre a democracia ao deixar esse poder nas mãos de “deplorables”, como, muito artisticamente, a senhora Clinton os designou. Ou seja, feita Marie Antoinette, a “esquerda” está a perder a cabeça na guilhotina das eleições. Mas perde-a porque, tal como a Marie Antoinette, tem a cabeça vazia ou, o que é o mesmo, cheiínha de tretas.
No texto que se segue (publicado no Verão passado mas que eu não conhecia e que só agora um amigo dos EUA se lembrou de me enviar), Edward Luttwak explica minuciosamente a lógica interna do processo que levou à vitória de Trump, a burrice da Clinton (que, diz ele, nem devia saber em que país estava a concorrer à presidência…) e ainda como, excepto contra Bernie Sanders, a vitória de Trump era inevitável. Ou seja, Luttwak mostra aqui as razões que levam a que seja o consultor de estratégia mais bem pago do mundo. Deliciem-se com a análise dele…
PS. Não ter conhecido logo na altura da sua publicação este texto de Luttwak foi uma falta imperdoável. Ter-me-ia confortado bastante numa certa “solidão” que estava a sentir, depois de em Maio de 2016 ter começado a escrever sobre os factores que estavam a tornar inevitável a entrada de Trump na Casa Branca e a derrota da deplorável Clinton (há vários desses textos publicados no “Tornado” e outros no blog Intelnomics onde também escrevo regularmente). Mas o ter deixado passar o artigo de Luttwak provoca-me ainda uma triste saudade. Se o Manuel Ricardo Ferreira ainda fosse deste mundo (ele que, nestas matérias, me fazia as “dobras” todas e não deixava que uma única “bola” passasse) ter-me-ia enviado logo uma mensagem “vê o Luttwak, neste link”… Tantas saudades, Manel!
E agora, sim, deliciem-se com a análise do Lutwak.
Why the Trump dynasty will last sixteen years
EDWARD N. LUTTWAK | TLS | JULY 25, 2017
Could a Trump dynasty in the White House survive for three more elections?
The major cause of last November’s electoral outcome has remained mostly unexplored, even undiscovered. That is not due to intellectual laziness, but rather reflects the refusal of almost all commentators to contend with the political economy that determined the outcome of the election.
An abandoned factory in Detroit, Michigan | © Cynthia Lindow/Alamy
In Washington DC, post-electoral stress disorder has generated a hysteria still amply manifest after eight months: the “Russian candidate” impeachment campaign implies that any contact with any Russian by anyone with any connection to Donald Trump was ipso facto treasonous. The quality press is doing its valiant best to pursue this story, but it is a bit much to claim “collusion” – a secret conspiracy – given that, during the election campaign, Trump very publicly called on the Russians to hack and leak Hillary Clinton’s missing emails. And it did not seem especially surprising when the latest target, Donald Trump Jr, promptly released all his emails to and from the Russians to confirm that he did indeed try to help his dad by finding dirt on the other guy. As for the other impeachment track underway, triggered by the ex-FBI director James Comey’s accusation of attempted obstruction of justice, Comey’s failure to accuse Trump until he was himself fired will make it easier for the Republicans who control the House to dismiss an otherwise plausible accusation as a naive error.
For all its vacuity, however, the hysteria is certainly understandable, because President Trump has defied all expectations by actually trying to do what he promised that he would try to do. But another reason is that the major cause of last November’s electoral outcome has remained mostly unexplored, even undiscovered. That is not due to intellectual laziness, but rather reflects the refusal of almost all commentators to contend with the political economy that determined the outcome of the election.
(…)
Edward Luttwak
(Texto completo em IntelNomics – Why the Trump dynasty will last sixteen years)
Exclusivo Tornado / IntelNomics