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Quarta-feira, Novembro 13, 2024

Certame basco começa hoje tutelado pela figura do ‘ausente’ Javier Bardem

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Tem hoje início em San Sebastián, decorrendo até ao próximo dia 30, a 71ª edição do mais importante festival de cinema da Península Ibérica.

No cartaz oficial Javier Bardem, um dos mais prestigiadores actores espanhóis, com um percurso fortemente marcado pelo certame basco nos últimos trinta anos. Este ano iria receber o “Prémio Donostia”, o galardão de carreira atribuído pelo festival. Só que Bardem está abrangido pelas limitações impostas pela greve convocada pelo Sindicato de Actores dos Estados Unidos e, por esse motivo, só receberá o “Donostia” em 2024.

 

Miyazaki abre a secção oficial e recebe o “Prémio Donostia” de forma virtual

Para a abertura oficial foi selecionado (sendo exibido fora de concurso) um filme de animação: “Kimitachi wa do ikiru ka“ (O rapaz e a garça) do premiadíssimo cineasta japonês Hayao Miyazaki. O autor de “A Princesa Mononoke” (1997) e “A Viagem de Chihiro” (2001) – Urso de Ouro em Berlim e Oscar para o melhor filme de animação – vai juntar ao “Leão de Ouro” de Carreira que recebeu em Veneza em 2005, outro dos prémios “Donostia” de 2023. O galardão vai ser-lhe entregue virtualmente esta noite durante a gala de abertura do festival.

 

Dois filmes com produção portuguesa presentes na competição

Como é habitual a principal secção do certame apresenta vários filmes espanhóis ou de países de língua castelhana, obras de jovens autores em início de carreira e outros de cineastas presentes e/ou premiados em anteriores edições de San Sebastián.

Entre os trabalhos escolhidos para integrarem a principal secção competitiva do festival encontram-se dois filmes com produção portuguesa:

“O Corno”, filme passado na Galiza, realizado pela ‘donostiarra’ Jaione Camborda com fotografia do nosso Rui Poças. Uma co-produção de Espanha/Portugal/Bélgica em que a presença portuguesa foi assumida pela produtora ‘Bando A Parte’ / Rodrigo Areias. O filme estreou há dias no Festival de Toronto;

La Práctica” do argentino Martin Rejtman, uma co-produção Argentina/Chile/Portugal/Alemanha em que participa a ‘Rosa Filmes’ / Joaquim Sapinho e Marta Alves.

A lista dos 21 filmes que integram a secção oficial é a seguinte:

  • “Kimitachi Wa Do Ikiruka” / O Rapaz e a Garça de Hayao Miyazaki (Japão) – filme abertura, extra-concurso
  • “All Dirt Roads Taste of Salt” de Raven Jackson (E.U.A.)
  • “Chun xing” (Uma viagem na Primavera) de Tzu-Hui Peng e Ping-Wen Wang (Taiwan)
  • “El Sueño de la Sultana” de Isabel Herguera (Espanha/Alemanha)
  • “Ex-Husbands” de Noah Pritzker (E.U.A.)
  • “Fingernails” (Isto vai doer) de Christos Nikou (E.U.A.)
  • “Great Absence” de Kei Chika-Ura (Japão)
  • “Kalak” de Isabella Eklöf (Dinamarca/Suécia/Noruega/Finlândia/Groenlândia/Países Baixos)
  • “L’ Ile Rouge” (A Ilha Vermelha) de Robin Campillo (França/Bélgica)
  • “La Práctica” de Martín Rejtman (Argentina/Chile/Portugal/Alemanha)
  • “Le Successeur” (O Sucessor) de Xavier Legrand (França)
  • “MMXX” de Cristi Puiu (Roménia/Rep. da Moldávia/ França)
  • “O Corno” de Jaione Camborda (Espanha/Portugal/Bélgica)
  • “Puan” de María Alché e Benjamín Naishtat (Argentina/Itália/Alemanha/França/Brasil)
  • “The Royal Hotel” de Kitty Green (Austrália)
  • “Un Amor” de Isabel Coixet (Espanha)
  • “Un Silence” de Joachim Lafosse (Bélgica/França/Luxemburgo)
  • “La Mesías” de Javier Calvo e Javier Ambrossi (Espanha), extra-concurso
  • “They Shot the Piano Player” (Dispararam sobre o Pianista) de Fernando Trueba e Javier Mariscal (Espanha), extra-concurso
  • “Un Métier Sérieux” (Os Bons Professores) de Thomas Lilti (França), extra-concurso
  • “Dance First” de James Marsh (Reino Unido/Hungria/Bélgica) – filme encerramento, extra-concurso

 

No encerramento uma abordagem à vida de Samuel Beckett em “Dance First” de James Marsh

O filme da sessão de encerramento, a ter lugar na noite de sábado, 30 de Setembro, será “Dance First” do britânico James Marsh, o autor de “Teoria de Tudo” (Oscar para o melhor actor e mais quatro nomeações).

Em “Dance First”, Gabriel Byrne representa a figura do génio da literatura Samuel Beckett, homem que viveu uma vida com inúmeras facetas: “bon vivant” parisiense, membro da Resistência durante a 2ª Guerra Mundial, dramaturgo vencedor do Prémio Nobel, marido mullherengo, eremita…

 

Claire Denis preside ao júri oficial

A cineasta a escritora francesa Claire Denis, a quem o Batalha – Centro de Cinema dedicou uma retrospectiva no início deste ano, vai ser a presidente do júri que tem por missão avaliar os dezasseis filmes em competição na secção oficial. Em 2018 com ”High Life” ganhou o Prémio FIPRESCI em San Sebastián. Em 2022 recebeu o ‘Grand Prix’ do Festival de Cannes com ”Stars at Noon” e o Urso de Prata para a melhor realização em Berlim com “Avec amour et acharnement”.

Os outros elementos do júri são:

  • a actriz e produtora chinesa Fan Bingbing, vencedora da Concha de Prata para a melhor actriz em San Sebastián/2016;
  • Cristina Gallego, realizadora, produtora e escritora colombiana;
  • a fotógrafa francesa Brigitte Lacombe;
  • a actriz espanhola Vicky Luengo;
  • Robert Lantos, produtor de cinema húngaro-canadiano; e
  • o realizador e argumentista alemão Christian Petzold, premiado em Berlim e San Sebastián, um dos nomes maiores do cinema alemão dos nossos dias.

 

Grande Prémio FIPRESCI para “Folhas Caídas” do finlandês Aki Kaurismaki

A FIPRESCI – Federação Internacional de Críticos de Cinema atribui ao longo do ano os prémios da crítica em muitos festivais espalhados pelo mundo. Todos os anos elege também o melhor filme do ano que é galardoado com o Grande Prémio FIPRESCI que habitualmente é entregue em San Sebastián numa sessão especialmente programada para o efeito e que é um dos pontos altos dos primeiros dias do festival basco.

Em 2023 o Grande Prémio FIPRESCI distinguiu “Kuolleet lehdet” (Folhas Caídas) do finlandês Aki Kaurismaki, cineasta que há 30 anos vive metade do ano em Viana do Castelo.

Prémio do Júri do Festival de Cannes deste ano “Folhas Caídas” chegará às salas portuguesas no próximo mês de Novembro.

 

Nota: Este artigo deveria ter sido publicado em 22 de Setembro, não o tendo sido por motivos de ordem técnica

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