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João de Sousa

Sábado, Setembro 14, 2024

Chegou ao fim a Al Jazeera America

 

aljazeera

 

Os pivots da estação, Richelle Carey e Antonio Mora, disseram “adeus” aos telespectadores na passada terça-feira, lembrou a organização cívica Democracy Now.

Com pouco mais de dois anos no ar, a estação televisiva sedeada no Qatar já tinha dado sinais em Janeiro de que estaria à beira do fim, conforme relatava a CNN.

Um membro da equipa relatou que “havia executivos em lágrimas”, perante a perspectiva de se perderem os 700 postos de trabalho. Al Anstey, CEO da empresa, enviou um memorando onde aplaudiu o trabalho feito pelo canal, “que criou grande jornalismo”, invocando “o compromisso sem rival e o excelente trabalho da nossa equipa”. Para o CEO, todos deveriam estar orgulhosos do trabalho feito.

Apesar da intenção, por parte da empresa, de expandir os serviços digitais existentes para os EUA, a parte da televisão terminou. Mesmo com vários prémios de jornalismo que destacaram as reportagens de investigação, as audiências mantiveram-se fracas desde o seu lançamento.

No horário nobre (prime-time), num dia normal, a média de audiência oscilava entre os 20 mil e os 40 mil telespectadores. As outras televisões (CNN, Fox News e restantes canais por cabo) conseguiam mais de dez vezes esse número.

Queda do preço do petróleo e baixas audiências

A queda do preço do petróleo (que chegou a custar menos de 30 dólares o barril esta semana, pela primeira vez em 12 anos) pode ser um dos factores que precipitou o fecho da Al Jazeera America. Uma vez que a estação televisiva é propriedade do Al Jazeera Media Group, propriedade do governo do Qatar, ambos os assuntos acabam por estar relacionados.

Uma fonte da sede da empresa em Doha admitiu: “tínhamos de fazer cortes, e em vez de os fazermos em outro lugar, decidiu-se pelo fim da Al Jazeera America”.

A Al Jazeera America foi lançada em 2013 depois da companhia sedeada em Doha adquirir a Current TV (propriedade de Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA) e outras estações por 500 milhões de dólares. O canal foi criado para ser uma alternativa sóbria ao rancor e sensacionalismo que estão na base de outros canais concorrentes. Por altura do seu lançamento, a estação televisiva era em simultâneo um sinal de esperança e objecto de troça no circuito dos media.

O facto de manter o seu nome com forte acento árabe causou surpresa a muitos, e executivos de estações rivais duvidaram que a marca noticiosa da estação fosse permanecer. Porém, desde o início, Al Jazeera America foi penalizada  por baixas audiências e problemas internos; dois ex-funcionários processaram a empresa sob acusações de anti-semitismo e sexismo na redacção.

“A filosofia subjacente da Al Jazeera America era que o jornalismo de qualidade iria superar tudo, mas pouca coisa do seu jornalismo era distintiva.

Junte-se a isso a ‘embalagem’ convencional, a distribuição através de um médium que envelhece, e o fraco reconhecimento da marca, e temos um canal por cabo a fechar a porta”, escreveu David Uberti para a Columbia Journalism Review (CJR).

O autor afirma que o jornalismo do canal agora encerrado não era sólido mas as suas produções de estilo tradicional “falharam em destacar-se de programas já existentes. Alguns deles pareciam-se com NewsHour da PBS”, acrescentou.

O redactor da Columbia Journalism Review, uma destacada revista académica norte-americana sobre jornalismo, lembra ainda que o mercado da televisão por cabo já estava muito preenchido e que o público do país tinha alguma desconfiança, perante um canal afiliado com o governo do Qatar. E a Internet é também um poderoso rival no que toca a audiências.

David Uberti falou ainda da gestão disfuncional da estação televisiva, o que apenas agravou a situação: “tudo se resumiu a um caldeirão de problemas para a Al Jazeera America, que tipicamente atraía uma audiência de dezenas de milhares”, em contraste com outras estações, que alcançavam as centenas de milhares ou mesmo os milhões de telespectadores.

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