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Quinta-feira, Novembro 7, 2024

Festival de Valladolid: uma semana de cinema com nove dias

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

69ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid

A partir de hoje, e até sábado 26, decorrerá na cidade espanhola de Valladolid a edição de 2024 da SEMINCI – Semana Internacional de Cinema, o segundo maior festival do país vizinho. O certame está numa fase de crescimento (este ano com mais de duzentos filmes) e desta vez teremos uma semana de cinema que dura nove dias. Em rigor deverá referir-se que as edições anteriores já tinham oito dias.

A tendência a que temos vindo a assistir em muitas das mostras congéneres, um pouco por todo o mundo, é o aumento do número de filmes propostos sacrificando intervalos razoáveis entre as sessões e tornando o programa uma maratona em que os espectadores quase não têm tempo para ‘digerir’ as obras que vêem nem para ter grandes conversas sobre elas. Obviamente que cada um pode fazer o programa diário à sua medida ignorando alguns dos trabalhos que tem à sua disposição.

A secção oficial da SEMINCI tem, desta vez, 26 títulos dos quais 22 estão em competição! Uma tarefa ciclópica para o júri.

Como já foi referido em anos anteriores o facto de o certame não pertencer, ao contrário de San Sebastián, à principal categoria de festivais permite-lhe incluir na secção oficial obras premiadas noutras paragens. Assinalável o número de filmes que estiveram em Berlim, Cannes e Veneza.

Desta feita teremos em competição 5 produções espanholas e também filmes da China, Irão, EUA, França, Itália, Noruega, México, Grécia, Roménia, Singapura e Portugal. Algumas obras de realizadores consagrados e outras de cineastas em princípio de carreira. Muitos filmes feitos por mulheres. Uma selecção quase paritária.

São os seguintes os concorrentes à Espiga de Ouro:

  • ‘Black Dog’ do chinês Guan Hu, vencedor do prémio “Un Certain Regard” do Festival de Cannes;
  • ‘Bob Trevino Likes It’, da norte-americana Tracie Laymon;
  • ‘Christmas Eve in Miller’s Point’ da norte-americana Tyler Tormina, presente nos Festivais de Cannes e Deauville;
  • ‘Diamant Brut’ da realizadora francesa Agathe Riedinger, que competiu na secção oficial do Festival de Cannes;
  • ‘En la alcoba del sultán’ do realizador espanhol Javier Rebollo;
  • ‘Fin de Fiesta’, estreia na realização da produtora espanhola Elena Manrique;
  • ‘Harvest’, da secção oficial de Veneza, uma co-produção Reino Unido / Alemanha / Grécia / França / EUA realizada pela grega Athina Rachel Tsangari;
  • ‘Hors du Temps’, da secção oficial do Festival de Berlim, do celebrado cineasta francês Olivier Assayas;
  • ‘La Cocina’, também da secção oficial de Berlim, realizado pelo mexicano Alonso Ruizpalacios, o premiado autor de ‘Gueros’ e ‘Museo’;
  • ‘La Mitad de Ana’, estreia na realização da actriz espanhola Marta Nieto;
  • ‘Armand’ do norueguês Halfdan Ullmann, neto de Ingmar Bergman e Liv Ullmann, vencedor da ‘Câmara de Ouro’ do Festival de Cannes;
  • ’Misericordia’ do francês Alain Guiraudie, presente no Festival de Cannes, uma coprodução França / Espanha / Portugal (Rosa Filmes);
  • ‘My Favourite Cake’, co-produção Irão / França / Suécia / Alemanha, dos iranianos Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha, vencedor dos prémios FIPRESCI e Ecuménico no Festival de Berlim;
  • ‘Salve Maria’ da catalã Mar Coll, premiado no Festival de Locarno;
  • ‘September Says’ da actriz e realizadora grega Ariane Labed, presente na secção ‘Un Certain Regard’ de Cannes;
  • ‘Sex’, do bibliotecário, escritor e cineasta norueguês Dag Johan Hangerud, multipremiadao no Festival de Berlim;
  • ‘Stranger Eyes’, da secção oficial de Veneza, uma co-produção Singapura / Taiwan / França / EUA dirigida pelo cineasta de Singapura Yeo Siew Hua;
  • ‘Três Quilómetros para o Fim do Mundo’, do romeno Emanuel Pârvu, da secção oficial de Cannes e vencedor da ‘Palme Queer’;
  • ‘Vermiglio’ da italiana Maura Delpero, multi-premiado no Festival de Veneza com destaque para o Grande Prémio do Júri e o prémio para a melhor jovem actriz.

Ainda na secção oficial, mas fora de concurso, serão exibidos dois filmes de duas actrizes espanholas, agora realizadoras. Da sevilhana Paz Vega, ‘Rita’, e da madrilena Carolina África, ‘Verano em Diciembre’.

Também extra-concurso ‘La Plus Précieuse des marchandises’, da selecção oficial de Cannes e com a voz de Jean-Louis Trintignant, uma experiência no cinema de animação do francês de origem lituana Michel Hazanavicius, o ‘oscarizado’ autor de ‘O Artista’.

 

“Grand Tour“ de Miguel Gomes é candidato à ‘Espiga de Ouro’

“Grand Tour” de Miguel Gomes

Um destaque especial merece a presença, em competição, de “Grand Tour” o filme do cineasta português Miguel Gomes. Actualmente em exibição nos cinemas portugueses conquistou o Prémio para o Melhor Realizador no Festival de Cannes e é o candidato português aos Oscares de 2025.

A acção do filme decorre em 1918, na Birmânia (colónia britânica), onde um funcionário público (interpretado por Gonçalo Waddington) abandona a noiva no dia dio casamento e viaja sozinho pelo continente asiático: o “Grand Tour”.

Recorde-se que Miguel Gomes foi o Presidente do Júri Oficial da SEMINCI em 2018.

“The Brutalist” de Brady Corbet

Também vencedor do Prémio para o Melhor Realizador, e do Prémio FIPRESCI, mas na Mostra de Veneza, outro dos competidores: ‘The Brutalist’ do actor, produtor e realizador norte-americano Brady Corbet. Ao longo de mais de 3 horas e meia, Adrien Brody (o excepcional intérprete de ‘O pianista’ de Polanski) encarna a figura de um arquitecto húngaro que depois de acabada a 2ª Guerra Mundial vai da Europa, com a mulher, para os Estados Unidos à procura de um suposto ‘El Dorado’ mas que pode transformar-se num pesadelo.

 

‘Polvo Serán’, um filme espanhol na abertura, e o norte-americano ‘Sing Sing’ no encerramento

“Polvo Serán” de Carlos Marques-Marcet

O filme de abertura desta 69ª SEMINCI é ‘Polvo Serán’ que será hoje exibido no Teatro Calderón, na gala inaugural do festival. É o primeiro dos competidores a ser projectado e trata-se de um trabalho do catalão Carlos Marques-Marcet (o autor de ‘10000 kms’) com uma trama em que a eutanásia e amor incondicional são os temas principais de uma história protagonizda pela grande actriz espanhola Angela Molina.

“Sing Sing” de Greg Kwedar

Daqui a uma semana, e já fora de concurso, teremos no encerramento ‘Sing Sing’ do norte-americano Greg Kwedar, uma história de resiliência e humanidade protagonizada por um grupo de presos que encontra no teatro a forma de superar as dificuldades da sua vida no cárcere. Curiosamente este também é o tema do filme que encerrou a edição da SEMINCI em 2020: “Un Triomphe”, do francês Emmanuel Courcol, em que um grupo de presos representava ‘À Espera de Godot’ de Samuel Beckett.

 

Júri Internacional

O Júri Oficial da 69ª SEMINCI, responsável pela atribuição da ‘Espiga de Ouro’ para o melhor filme e das ‘Espigas de Prata’ de realização, interpretação, direcção de fotografia, guião e montagem será constituído por:

  • Sofia Exarchou, realizadora grega, autora de ‘Park’, prémio ‘Novos Realizadores’ em San Sebastián em 2016;
  • Aida Folch, actriz espanhola, protagonista dos filmes de Fernando Trueba “El embrujo de Shanghái”, “El artista y la modelo” e “Isla perdida”;
  • Ingmar Trost, produtor alemão de “Los Colonos e “El Agente Topo”;
  • Luis López Carrasco, realizador e escritor espanhol; e
  • Devika Girish, crítica norte-americana, programadora do Festival de Nova Iorque.

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