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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 18, 2024

A fronteira da felicidade

Sonhava acordada com obscenidades e a seguir orava… mastigando suavemente uma penitência imposta por si. Os excessos imaginários cometidos por ela violavam repetidas vezes a doutrina que adubou a sua maturidade.

Cresceu num convento como afilhada das madres, cercada de regras e proibições, nunca nada lhe faltou, mas queria de tudo um pouco mais para além da cerca.

Estava preparada para a vida? Pensava no porquê…

Porque é que o outro lado da cerca era tão excitantemente proibido? Porquê negar o chamado da natureza? E aqueles seres diferentes que trajavam batinas longas…  e o que escondiam debaixo de tão longas vestimentas?

E voltava a orar intensamente determinando perdão pelas vezes que sua mente transgredia as leis atravessando a fronteira ilicitamente. E depois pensava nos mandamentos… queria saber o porquê das doutrinas… nunca perguntava, sob pena de lhe serem impostas mais penitências.

Uma vez em um táxi, ouviu uma música que falava de amor, entrega e tesão… será que existe amor sem ser o de Cristo??? E entrega… minha alma pertence a Deus! E  o corpo? Mas é tesão ou tensão?

No silêncio, cantava aquela canção que despertou os seus anseios.

Deixa-me tocar teu corpo
Beijar a tua emoção até te deixar louca de tesão
Dá-me o teu coração que para sempre serei tua razão
Vem que te levarei a conhecer o lado bom, bom, bom, bom… o lado bom da vida…

Queria experimentar cada verso que ouvira mas precisava entendê-la… e  como entender  sem perguntar àquele homem que a cantava sorrindo como se fora ele o autor… e este não usava batina e suas formas corporais causavam-lhe ainda mais interrogações… trocaram olhares, a seguir sorrisos e depois um toque suave na palma da mão… e alguém gritou lá de trás com voz angelical: – ficamos aqui…

Daí em diante ele passou a morar nas suas intenções e da janela gradeada procurava aquele rosto familiar em cada azul e branco que passava por aquele lugar distante empoeirando a sua saudade.

Um dia acordou renegando todos os sonhos, decidiu começar a viver cada um deles… sim cada interrogação que a torturava, tinha de ver para crer… instintivamente pegou em sua cruz e foi sacrificar-se pelo mundo a fora.

A autora escreve em PT Angola

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