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Sábado, Outubro 5, 2024

Jefferson, o selvagem, atira contra a PF e fere de morte a campanha de Bolsonaro

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

A campanha de Jair Bolsonaro sentiu ontem mesmo o tamanho do estrago causado pelas balas e granadas de Roberto Jefferson contra os policiais federais que foram tirá-lo da prisão domiciliar e conduzi-lo ao presídio, de onde não deveria ter saído. O próprio Bolsonaro avaliou a gravidade do fogo amigo e renegou o aliado, dizendo quer ele merecia “tratamento de bandido”. “Nem fotografia tenho com ele”. Muitas surgiram em poucos minutos na Internet.

Se achasse mesmo que o aliado do PTB devia ser tratado como bandido, Bolsonaro não teria escalado seu ministro da Justiça, Anderson Torres, para mediar a rendição. Um brasileiro comum que tivesse agido como Jefferson teria sido crivado de balas.

Bolsonaro não conseguirá tapar o sol com suas mentiras. O Brasil sabe que Jefferson é um guerrilheiro do bolsonarismo, defensor do armamentismo, pregador do ódio, do machismo e da misoginia. Ele personifica como ninguém o ideal de sociedade e de comportamento contidos no bolsonarismo: a barbárie e a vulgaridade. O desatino de ontem e o ataque que ele fez na sexta-feira à ministra Carmem Lúcia, do STF e do TSE, está sendo rechaçado até mesmo por bolsonaristas. Para muitos eleitores indecisos, será o empurrão para o voto em Lula.

Jefferson estava em prisão domiciliar, investigado no inquérito sobre milícias digitais, proibido de se manifestar em redes sociais, dar entrevistas e ter contato com outros investigados no mesmo inquérito. Na sexta-feira,  através da conta da filha, Cristiane Brasil, desfechou o ataque misógino, de vulgaridade, selvageria e violência impensáveis em qualquer país do mundo contra uma ministra da Suprema Corte.

Seus xingamentos merecem reprodução, mas peço desculpas à tão sóbria ministra Cármen para transcrevê-los porque, provocando náusea em que não havia lido,  dão a medida do tipo de gente que precisa ser banida na vida pública brasileira. “Fui rever o voto da Bruxa de Blair, da Cármen Lúcifer, na censura prévia à Jovem Pan, e não dá para acreditar. Lembra mesmo aquelas prostitutas, aquelas vagabundas, arrombadas, que viram para o cara e dizem: ‘Benzinho, no rabinho é a primeira vez’. Ela fez pela primeira vez. Abriu mão da inconstitucionalidade pela primeira vez. Bruxa de Blair, é podre por dentro e horrorosa por fora.”

O presidente do TSE, ministro Alexandre de Morais, determinou a volta de Jefferson ao regime fechado por ter ele ele infringido três das condições que lhe garantiam a prisão domiciliar: deu orientações a correligionários do PTB, concedeu entrevistas e compartilhou notícias falsas via redes sociais. E isso tinha que ser feito antes de terça-feira, quando passa a vigorar a norma pela qual eleitores só poderão ser presos em flagrante delito.

A campanha de Lula chegou a achar temerária a decisão de Morais. Jefferson iria se fazer de vítima e a extrema direita iria tumultuar a reta final da campanha com petardos contra o ministro, dobrando as acusações de ser parcial, ditador de toga e perseguidor de Bolsonaro e seus aliados. Não imaginava que o selvagem, tomado por seus “instintos mais primitivos”, expressão que ele usou em 2005 para tentar intimidar José Dirceu, iria atirar no pé de Bolsonaro.


Texto original em português do Brasil

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