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Segunda-feira, Março 18, 2024

Juros continuam aumentando nos EUA, mas inflação não cai

O Federal Reserve insiste em aumentar a taxa apesar do resultado pífio. Quedas de preços estão mais relacionadas com empobrecimento e endividamento dos americanos.

Os preços ao consumidor subiram 8,3% em agosto em relação ao ano anterior, mostram dados divulgados em 13 de setembro de 2022 pelo Federal Reserve, o Banco Central dos EUA. Embora esse ritmo esteja abaixo do ganho anual de 8,5% registrado em julho, ainda é superior ao que alguns economistas esperavam.

O Federal Reserve havia elevado as taxas de juros em 0,75 ponto porcentual em meados de junho, seu maior movimento desde 1994, e acima do 0,5 ponto do último ajuste e do que era suposto pelo mercado. A meta de inflação do Fed é de 2% ao ano.

O aumento ocorre apesar dos “esforços” do banco central para conter o aumento do custo de vida, aumentando repetidamente as taxas de juros básicas para desacelerar a economia. A ortodoxia econômica apela para este recurso simples, mas doloroso para a economia, para tentar derrubar o aumento de preços, embora muitos questionem sua eficácia. A ideia é reduzir o crédito e, portanto, o consumo, gerando mais oferta e preços mais baixos. Mas o mecanismo tem seus limites.

O efeito dos combustíveis

A falta de ideia do governo Biden parece empurrar o Fed a optar por um terceiro aumento consecutivo da taxa de juros de 0,75 ponto percentual quando se reunir de 20 a 21 de setembro. As sugestões dos formadores de taxas em aplicar os freios da economia de forma mais agressiva – por meio de um salto total de 1 ponto percentual, no entanto, deveria dar mais tempo ao tempo.

Em uma base mensal, as categorias de alimentação e moradia tiveram alguns dos ganhos mais acentuados. Os preços dos alimentos aumentaram 0,8% em agosto, com “comer fora” saltando a uma taxa maior do que comprar mantimentos. Embora isso decepcione os consumidores que esperam ver uma queda nos preços dos alimentos, os dados de agosto pelo menos mostram que a taxa de aumento está diminuindo – abaixo dos ganhos de mais de 1% nos últimos meses.

O mesmo não acontece com a moradia, que subiu 0,7% em agosto, o maior aumento em um mês desde 1990.

Por si só, esses aumentos seriam motivo de preocupação para o Fed – sugerindo que as tentativas de esfriar a inflação por meio de aumentos de taxas não funcionaram. Mas em outros lugares há um grande indicador de que a inflação geral pode em breve estar indo para baixo: os preços de combustíveis. O problema é querer automaticamente associar esta queda à taxa de juros.

O índice da gasolina caiu 10,6% em agosto, uma das maiores quedas mensais de todos os tempos, após uma queda de 7,7% em julho. No Brasil, embora se associe as quedas de preços na gasolina a supostas medidas do governo de Jair Bolsonaro, a Petrobras pode estar aplicando a redução de preços por motivos internacionais, tanto quanto aplicava aumentos.

A queda no preço dos combustíveis nos EUA, por exemplo, é provavelmente o resultado de uma série de fatores, tanto globais na forma de uma flexibilização nos problemas de fornecimento que elevaram os custos, quanto nacionais, com os americanos mudando seus hábitos de viagem e dirigindo menos para minimizar os efeitos dos aumentos anteriores do preço da gasolina. Esta mudança de comportamento se traduziu em menor demanda e contribuiu para uma queda geral dos preços.

E a questão em torno dos preços de combustíveis é que qualquer mudança tem um efeito indireto sobre os preços de outras commodities. Os preços mais baixos de diesel devem significar que o custo do transporte de mercadorias, incluindo alimentos, diminuirá com o tempo. Isso deve eventualmente reduzir as contas de supermercado.

Da mesma forma, os preços mais baixos de combustíveis acabarão sendo filtrados nos custos de energia. Contas de energia mais baixas podem ser um alívio para locatários e proprietários. Quanto à inflação dos aluguéis, isso é mais complicado para o Fed administrar. Mais aumentos nas taxas de juros devem amortecer o mercado imobiliário, mas dificultar a compra de casas significa que a demanda por unidades de aluguel aumenta – algo que pressionaria mais os aluguéis. Tudo isso coloca o Fed em uma situação muito complicada.

Globalmente, o índice de preços ao consumidor aumentou a um ritmo mais lento do que nos últimos meses. E dado que os preços de gasolina caíram, o Fed provavelmente vai querer esperar e ver que efeito isso tem sobre a inflação antes de decidir se tornar mais agressivo com aumentos de taxas.

Efeitos no Brasil

O resultado com as taxas de juros elevadas nos EUA é um estresse global. No caso do Brasil, há uma maior sensibilidade. A instabilidade nos EUA aumenta o risco, o que gera ainda mais aversão dos investidores ao Brasil. Para investir aqui, o mercado vai exigir taxas muito mais altas que nos EUA. Considerando que os investidores sempre buscam maior segurança e rentabilidade, a decisão de aumento das taxas de juros nos EUA é um estímulo maior para investidores buscando proteção das carteiras de ativos. Em outras palavras, juros altos nos Estados Unidos costumam significar dólar saindo do Brasil e, portanto, derrubando o preço do câmbio.

A pressão na taxa de câmbio do Brasil e real mais desvalorizado é um panorama inflacionário pior para o país, considerando que dólar mais alto frente ao real aumenta os preços das importações de insumos para as empresas. Além disso, com o dólar mais caro, os preços das commodities e mesmo o combustível ficam mais pressionados. Os exportadores de alimentos vão preferir vender para fora, o que também encarece os alimentos aqui.


por Cézar Xavier  |   Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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