A ignorância dos brasileiros sobre a África é algo doloroso. Especialmente considerando que, num passado não muito remoto, éramos as duas margens de um rio chamado Atlântico, nos dizeres do Alberto da Costa e Silva.Li outro dia que um destes idiotas que faturam explorando a franchise do politicamente incorreto escreveu que o Zimbábue não tinha dado nenhuma contribuição à Humanidade.
É um idiota que mal sabe que existe toda uma literatura demonstrando como os brancos europeus de caso pensado desvalorizaram a África, um continente “de povo sem alma” (no dizer daqueles europeus), com o objetivo de justificar os crimes da ocupação usurpadora de terras e de riquezas.
O melhor exemplar desta literatura, em minha opinião, é Africa, A Biography of the Continent, de John Reader.
O autor contesta, por exemplo, a ideia de que o rio Nilo foi o corredor para que a “civilização” chegasse ao interior da África com alguns fatos, como a existência das ruínas do Grande Zimbábue lá no interior.
O que quero dizer é que existe toda uma produção europeia racista desqualificando a África e os africanos, que este povo do “politicamente incorreto” retoma apenas para poder expressar o seu racismo disfarçado.
Quando fiz parte da equipe do programa Nova África, na TV Brasil, escolhemos deliberadamente ouvir o povo, não as autoridades do continente, para desespero dos bate paus governistas, que preferiam um programa para fazer a política externa do governo Lula.
Sob a batuta da historiadora Conceição Oliveira, a gente se ligava especialmente no que dizia o povo dos países que visitávamos. Por que o ditador Mugabe tem ainda algum apoio popular, depois de tantos anos no poder? Porque, apesar de ter beneficiado a sua corja na reforma agrária, foi o único líder africano que realmente mudou a estrutura agrária herdada dos racistas.
Mugabe expulsou das terras os herdeiros de racistas brancos que ocupavam os lugares mais férteis do Zimbábue. Discutam quanto quiserem sobre se usou os métodos mais adequados, se fez isso para se perpetuar no poder, etc.
O fato é que nem Nelson Mandela fez isso, na África do Sul. Feito o Lula em 2002, Mandela teve de assinar uma espécie de Carta aos Sul Africanos quando assumiu o poder, preservando os principais interesses econômicos dos brancos ao mesmo tempo em que promovia a ascensão de uma classe média negra.
Portanto, a verdade inescapável é que, embora os brancos tenham abraçado Mandela como grande símbolo da luta contra o racismo, o ditador Mugabe fez mais que ele quando se tratava de, na prática, apagar a herança racista deixada na distribuição de terras férteis.
Por Luiz Carlos Azenha | Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado