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Terça-feira, Dezembro 3, 2024

Nos 50 Anos da Morte do Rei-Lagarto

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

Já meio-século, neste dia 7 de Julho, que se apagou, em Paris (já vamos ver onde), Jim Morrison, o Rei-Lagarto.

Eu era então um miúdo que vivia num 7º andar do Bd. Saint-Michel, bem em frente do Jardim do Luxemburgo e com um bar de jazz na cave do prédio. Há uns anos que era fan dos Doors (de facto, tinha começado a minha adolescência ao som do “roadhouse blues” e do “waiting for the sun”) mas, nesse meu ano em Paris, “a minha música era outra”.

De resto, a do Morrison também. Ele tinha abandonado os Doors, viera para Paris para reencontrar a namorada, que “agarrada” pela heroína tinha deixado para trás a Califórnia e se refugiara num anonimato parisiense. Poeta até à medula, o Rei-Lagarto dizia, porém, que viera para encontrar a poesia francesa e dedicar-se a escrever.

Nunca, portanto, me cruzei com ele apesar de vivermos por locais muito próximos e que se interseccionavam, mesmo.

Morrison estava alojado num apartamento na zona do Marais que “Zozo”, uma conhecida modelo da altura, lhe emprestava, ia comprar garrafas de branco a um cavista na rue Beautreillis, andava pela Place des Vosges, l’île Saint-Louis, cais dos “bouquinistes”, frequentava a anglo-americana “Shakespeare and Company” (poiso e apoio de amantes da poesia e de outras artes, algumas delas muito inconfessáveis mas grandes artes…) e ia beber uns copos ao seu café preferido, o “La Palette”, para os lados de Saint-Germain (o que se fosse a pé pela “rive gauche”, o levaria a passar em frente do meu poiso preferido na altura (que tinha boas sandes de paté, guinesses, óptima esplanada, boas companhias e um ‘express’ aceitável).

Hoje, o Jim mora (para sempre) no Père-Lachaise e a sua morte não foi o que na altura foi contado. Ele não morreu na banheira da sua casa, de paragem cardíaca, mas nos WC do “Rock’n’Roll Circus”, na rue de Seine (ninguém vá à procura porque há vários anos que não existe), com uma overdose.

Marianne Faithfull já garantiu, aliás, em entrevista que foi o seu “namorado” da altura, Jean de Breteuil, ‘dealer des stars’, que aviou a Morrison essa dose letal.

Em “Jim Morrison: la vérité” (éd. du Rocher), Sam Bernett afirma peremptoriamente que foi na casa de banho do “Rock’n’Roll Circus”, que ele mesmo dirigia, que Morrison deu o último suspiro.

Escreve ele que: “Son visage était gris, les yeux fermés, il y avait du sang sous son nez, une bave blanchâtre comme de l’écume autour de la bouche légèrement ouverte”.

Mas, por razões reputacionais e comerciais, a gerência não queria ninguém morto nos seus “toilettes”… Portanto, último milagre, Jim foi para casa, morrer convenientemente na sua banheira.

Há 50 anos.

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