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Quinta-feira, Abril 25, 2024

O emprego precário cresce no Brasil

Clemente Ganz Lucio, São Paulo
Clemente Ganz Lucio, São Paulo
Assessor do Fórum das Centrais Sindicais, professor universitário e sociólogo. Foi diretor técnico do Dieese e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e atuou no Comitê Gestor

Gerar empregos de qualidade com bons salários e condições de trabalho adequada é um objetivo central de uma dinâmica de crescimento econômico socioambiental sustentável, escolha em debate e disputa nas eleições de outubro, diante do abando desse caminho pelo atual governo.

Para tal, é necessária uma estratégia de incremento virtuoso da produtividade, com projeto de país coetâneo à revolução tecnológica em curso, à expansão das energias renováveis, às mudanças locacionais do sistema produtivo globalizado, às missões e vetores próprios da nossa expansão econômica e ao fundamento do direito de todos ao trabalho digno.

O Brasil abandonou esse caminho e tem se distanciado cada vez mais dessa visão estratégica. Os resultados que o país colhe são desastrosos. Vejamos o que ocorre no mundo do emprego.

O país tem gerado postos de trabalho de péssima qualidade, com desemprego de longa duração e enormes dificuldades para os jovens acessarem empregos de qualidade.

Os dados analisados pelo DIEESE(1) indicam que a força de trabalho ocupada no segundo trimestre deste ano (maio a junho/2022) foi de 98,2 milhões, superior em 4 milhões o contingente ocupado antes da pandemia, aqui considerado o quarto trimestre de 2019. Neste último ano (2º trimestre de 2022 comparado com o mesmo período de 2021) foram recuperados postos de trabalho no setor de serviços e comércio duramente afetados pela pandemia.

A economia retoma sua dinâmica de produção, comércio e serviços, com baixas taxas de investimento e com alguma demanda decorrente das rendas oriundas de transferências viabilizadas pelo governo no bojo da campanha eleitoral. É impossível a sustentação da atual estratégia para 2023 porque a base do investimento público está nos piores patamares, porque segue a desindustrialização, porque o rombo fiscal contratado para o próximo ano é enorme, a inflação segue alta, os preços da energia e combustíveis foram represados e os salários arrochados.

A dinâmica presente se expressa no mundo do trabalho em ocupações que exigem baixa escolaridade. Mais de 31% dos postos de trabalho gerados no último ano foram para trabalhadores sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo e 14% para quem tinha ensino médio incompleto. Para quem tem superior completo o aumento das ocupações foi de 3,6%, sendo que a maior parte para posto de trabalho que não exigiam essa qualificação, como balconistas, vendedor de loja e vendedores a domicílio.

A remuneração é impactada pelas altas taxas de inflação sobre salários que já são muito baixos, pela dificuldade que reposição salarial e a ausência de uma política de valorização do salário mínimo.

O solo da economia que gera bons empregos está para ser arado por uma política econômica e de desenvolvimento produtivo que mobilize, articule e coordene processos de investimento em infraestrutura, em inovação, em exportação de manufaturados, em agregação de valor, em incremento da produtividade  e na repartição correta do produto do trabalho de todos. Uma agenda para 2023!

 

Notas

(1) Os dados foram sistematizados pelo DIEESE no “Boletim Emprego em Pauta”, no. 23, setembro. Disponível em Ocupação cresce em posições menos complexas


Texto em português do Brasil

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