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João de Sousa

Quinta-feira, Março 28, 2024

O xadrez internacional das ameaças à Venezuela

O governo constitucional do presidente venezuelano Nicolás Maduro é o ponto central de uma guerra da batalha geopolítica internacional. 

A China afirmou que está pronta para “prestar assistência técnica” à Venezuela, que sofre desde quinta-feira passada o pior apagão da sua história, no meio de uma grave crise política em mais uma ofensiva dos golpistas. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, afirmou que “se o governo venezuelano precisar de ajuda, a China a prestará da melhor maneira possível”.

Lu revelou que Pequim “está muito preocupado” com os apagões e expressou esperança de que a Venezuela “possa descobrir a causa desse problema e restaurar o fornecimento de eletricidade e a ordem social”. “A China está disposta a oferecer assistência e apoio técnico à Venezuela”, disse o porta-voz.

Questionado se Pequim planeja enviar “especialistas” para a Venezuela, em breve, para resolver o problema, Lu limitou-se a afirmar que “não há informações sobre o envio de especialistas”. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou que o apagão se deve a um ciberataque coordenado dos Estados Unidos. Maduro disse que iria pedir ajuda à ONU e aos seus aliados China, Cuba, Rússia e Irão, para investigar o “ataque cibernético”.

Arroubos típicos

Em 24 de janeiro passado, a China expressou o seu apoio ao governo democrático venezuelano, liderado por Nicolás Maduro, e condenou a “intromissão nos assuntos internos” do país pelos Estados Unidos, depois de Washington ter reconhecido o autoproclamado presidente Juan Guaidó.

Os Estados Unidos, por sua vez, prosseguem com os arroubos típicos de sua política externa, como fez Elliott Abrams, enviado especial do regime norte-americano a China. “Continuaremos a fazer esforços para trazer a China a bordo. Dissemos em vários lugares, dissemos aos chineses que pensamos que, se a preocupação deles é basicamente recuperar seu dinheiro, eles nunca vão recuperá-lo do regime falido de Maduro e de uma economia venezuelana basicamente destruiu”, trovejou Abrams.

Abrams também ameçou a Turquia aos dizer que os Estados Unidos continuarão a analisar o apoio ao governo constitucional de Maduro e à compra de ouro de Caracas. Ele acrescentou que Washington não exclui a possibilidade de impor sanções a Ancara. “O apoio da Turquia ao regime de Maduro é obviamente totalmente contrário à política dos EUA e é de pouca ajuda. Continuaremos a analisar as maneiras pelas quais esse apoio é realizado e no contexto das sanções do Departamento do Tesouro”, ameaçou Abrams.

Essa política arrogante da Casa Branca foi denunciada por Cuba, que classificou a ataque cibernético como um “ato terrorista, destinado a prejudicar a população indefesa de uma nação inteira, que é usada como refém na guerra não convencional desencadeada pelos Estados Unidos contra o governo legítimo”. 

Guerra não convencional

Uma matéria do jornal cubano Granma diz que “políticos americanos correram para celebrar um ato que priva a população de um serviço básico fundamental, deixa hospitais sem a energia necessária para operar, interrompe outros serviços elementares e essenciais à vida cotidiana, como alimentos, abastecimento de água, transporte, comunicações, segurança pública, comércio, transações bancárias e pagamento por cartões; afeta o trabalho em geral e impede o funcionamento de escolas e universidades”.

A sequência e a modalidade dos eventos lembram a sabotagem realizada à indústria do petróleo, em 2002, perpetrada então por uma empresa norte-americana proprietária e operadora do sistema automatizado de produção, refino, transporte e distribuição de produção, diz o jornal. “Também contribui para a implacável guerra econômica e financeira à qual a Venezuela está sujeita, com o objetivo claro de vencer por causa das carências e privações a vontade política e soberana de um povo que não se deixou abater”, analisa.

É uma escalada na guerra não convencional liderada pelo governo dos Estados Unidos contra aquele país irmão que se desenvolve após o fracasso da provocação montada em 23 de fevereiro, com a tentativa de entrar à força uma suposta ajuda humanitária para a Venezuela, desafiando as autoridades legítimas do país, em violação do Direito Internacional e das normas e princípios da Carta das Nações Unidas, com o objetivo de causar mortes e violência em grande escala, como pretexto para uma “intervenção humanitária”, avalia o Granma.

A experiência da história de Cuba e de outros países da região mostra que essas ações são o prelúdio de atos maiores de violência, como a invasão armada pela Playa Girón, em 1961, adverte o jornal. “A comunidade internacional tem evidências suficientes para ser avisada”, afirma.

Campanha de propaganda

A ofensiva contra a Venezuela é acompanhada por uma feroz campanha de propaganda macarthista e mentiras, coordenada pelo Conselheiro Nacional de Segurança do país, John Bolton, como pretexto para a vigorosa aplicação da Doutrina Monroe, ativamente acompanhada pelo senador anticubano Marco Rubio, que com o uso frenético das redes sociais, evidencia sua atenção e envolvimento pessoal e conspiratório, nas manobras contra a Venezuela, diz a matéria.

John Bolton é um mentiroso reconhecido, com credenciais de longa data. Este funcionário foi o que em 2002 acusou Cuba de ter um programa de desenvolvimento de armas biológicas, uma falácia publicamente negada por quem era então seu chefe, o ex-secretário de Estado Colin Powell, e pelo ex-presidente James Carter. Essa mentira também fez com que Bolton fosse submetido a uma investigação pelo Congresso dos Estados Unidos, relata o Granma.

Bolton também esteve entre os promotores da mentira de que o governo do Iraque possuía armas de destruição em massa, em 2003, e um programa para desenvolvê-las, que, repetido em todos os níveis do governo dos Estados Unidos e amplificado pela grande mídia, serviu como pretexto para a agressão e ocupação militar daquele país do Oriente Médio pelos Estados Unidos, a um custo de cerca de um milhão de mortes e milhões de iraquianos deslocados, além de milhares de soldados norte-americanos mortos e feridos durante a campanha militar O objetivo também era o petróleo.

Quem também está trabalhando freneticamente no processo golpista na Venezuela é o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo. Ele culpou Rússia e Cuba por provocarem a crise política na Venezuela apoiando o presidente Nicolás Maduro, e disse que exortou a Índia a não ajudar Caracas comprando petróleo venezuelano. Os comentários foram feitos depois que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos impôs sanções ao banco russo Evrofinance Mosnarbank por ajudar a petroleira estatal venezuelana PDVSA a driblar restrições financeiras norte-americanas.

O mercado indiano é crucial para a economia da Venezuela, sendo historicamente o segundo maior cliente que compra o petróleo cru do país da Opep pagando em dinheiro, só ficando atrás dos Estados Unidos, que vêm cedendo o controle de grande parte dessa renda ao fantoche Guaidó por meio das sanções impostas à Venezuela.

Ações da Casa Branca

Pompeo disse que a gigantesca petroleira estatal russa Rosneft também está desafiando sanções dos Estados ao comprar petróleo da PDVSA, mas empresa disse que os contratos foram firmados antes da última leva de sanções norte-americanas ser adotada em janeiro e que pode procurar os tribunais para se defender se for necessário.

Num comunicado, a empresa russa Rosneft, que tem grandes interesses e vários projetos conjuntos nos países latino-americanos, refutou as acusações de Washington com uma declaração referindo que “não se dedica à política e tem atividades unicamente comerciais no interesse dos seus acionistas”. Na nota, a empresa enfatizou que os projetos conjuntos de fornecimento e extração de petróleo são regidos por contratos assinados “muito antes” de os Estados Unidos imporem “sanções unilaterais” contra a Venezuela.

Segundo a Rosneft, alguns analistas acreditam que as ações da Casa Branca contra o setor de energia da Venezuela podem ser ditadas pelo objetivo de “monopolizar” o mercado para o benefício de empresas próximas da administração dos Estados Unidos. “A Rosneft vai estudar as consequências das declarações feitas por representantes dos Estados Unidos e, caso se sinta lesada, tem a intenção de defender os seus direitos de acordo com as normas do direito internacional”, diz o comunicado.

Atitudes cointagiosas

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, respondeu com dureza à provocação de Pompeo ao dizer que um “pequeno grupo de países” liderado pelos Estados Unidos elabora um conjunto de regras para o seu próprio benefício. “Não é coincidência os nossos colegas norte-americanos e de outros países não usarem mais o termo ‘direito internacional’”, disse Lavrov. 

“Isso faz parte do direito internacional? De forma nenhuma”, declarou Lavrov, vinculando a compra de petróleo venezuelano às regras de concorrência promovidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Além disso, denunciou que tais atitudes podem ser “contagiosas”, referindo que o fantoche Guaidó defendeu que Caracas deve parar de vender petróleo a Cuba. 

Outro episódio relevante na geopolítica da crise foi a saída de todos os funcionários da embaixada dos Estados Unidos na Venezuela. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que enviar tropas para a Venezuela é uma das opções. A decisão pode ser interpretada como mais um passado da escalada golpista, que não descarta ações externas. 

A ideia foi rejeitada por Federica Mogherini, alta representante da Política Externa e Segurança da UE, que falou no Conselho de Segurança da ONU e avaliou a situação na Venezuela “É inaceitável para nós qualquer tipo de intervenção militar, tanto no país e no exterior na Venezuela”, disse ela. 

Doutrina Monroe

A vice-Presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, anunciou recentemente, após uma reunião com Lavrov em Moscou, que o escritório da PDVSA em Lisboa foi transferido para a capital russa, com o argumento de que a Europa não garante a defesa dos ativos do país. Ela tem razão. O Parlamento Europeu (PE) considerou que o acordo de parceria entre a União Europeia (UE) e a Rússia não está sendo cumprido devido às violações do direito internacional, devendo ser reavaliado, e admite novas sanções.

Num relatório hoje aprovado na sessão plenária do PE, ocorrida em Estrasburgo, França, lê-se que “a Rússia já não pode ser considerada como um parceiro estratégico da UE”, desde logo pela “ocupação ilegal e a anexação da Crimeia, uma região da Ucrânia” e pela “participação direta e indireta deste país nos conflitos armados no Leste da Ucrânia e a sua persistente violação da integridade territorial da Geórgia e da Moldávia”, uma calara opção política de apoio às forças que lutam por interesses contrários à soberania russa.

O PE manifestou também posições arbitrárias típicas do regime de Washington ao dizer que a Rússia tem ligações com partidos e governos de extrema direita, populistas e nacionalistas da UE e com o “apoio contínuo a regimes e países autoritários, como a Coreia do Norte, o Irão, a Venezuela, a Síria, Cuba e a Nicarágua”.

Discurso conhecido

É um discurso bem conhecido, como destaca uma matéria de Rachel Rivero numa matéria da agência de notícias cubana Prensa Latina. “O governo dos Estados Unidos impulsiona uma agenda ingerencista e de dominação na América Latina, que tem Venezuela e Cuba como alvos principais dessa agressividade. “A Venezuela enfrenta o mesmo processo de hostilidade que Cuba passou desde o triunfo revolucionário de 1 de janeiro de 1959, e agora Washington o recrudesce ainda mais contra ambos países, sublinhou a deputada da Assembleia Nacional do Poder Popular, Mariela Castro Espín, relata amatéria.

Em declarações à Prensa Latina, ela advertiu que os Estados Unidos retomam publicamente o discurso da Doutrina Monroe: “América para os americanos”, um argumento de dominação regional que nunca abandonou e somente sobrepôs por um curto período. De acordo com Castro Espín, a atual administração da Casa Branca sente-se abertamente dona do mundo e tem demonstrado sua disposição de cometer qualquer barbaridade contra a irmã nação bolivariana.


Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado


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