A exumação dos restos mortais de 52 pessoas – bala na nuca, algemas nos pulsos – em Porreres, em Novembro deste ano, terá sido a primeira em Maiorca depois da guerra civil. Só aqui, estimam-se em três milhares “os desgraçados suspeitos de pouco entusiasmo pelo movimento” assassinados.
A George Bernanos, autor destas citações, devemos o testemunho do massacre. Ele mesmo, simpatizante franquista, afastou-se do movimento nauseado pela sua gratuita barbaridade.
A mim impressionou-me sobretudo o cravo desoladamente caído que vi na vala comum já tapada; que só a “Confederação Nacional do Trabalho” estivesse institucionalmente presente com uma coroa de flores; que a lei em vigor continue a manter os crimes da guerra civil enterrados.
Não se trata de falar dos crimes de Franco em Espanha para esquecer os de Che Guevara em Cuba, que a obra de Pascal Fontaine revelou ao mundo. Trata-se de ter em conta que por cada cemitério que cismamos em não ver, outro lhe segue os passos. De Porreres a Aleppo, percorre-se um negro caminho desenhado pela cegueira humana, que só a Lua saberá por onde prosseguirá agora.
Maiorca, 2016-11-23