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João de Sousa

Sexta-feira, Abril 19, 2024

Peace to Us in Our Dreams

Peace

 

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Exibido em estreia mundial, o ano passado na Quinzena de Realizadores, em Cannes, e mesmo depois de passado por Lisboa, no festival LEFEST, acabamos finalmente por ver o último trabalho de Sharunas Bartas em Istanbul, um dos pouquíssimos realizadores que se pode orgulhar de fazer um cinema verdadeiramente independente e sem concessões.

Quem o conhece bem é Paulo Branco, produtor de quatro dos seus filmes Few of Us (1995), A Casa (1997), Freedom (2000) e Seven Invisible Men (2005).

Durante as férias do verão, o pai (Sharunas Bartas), a sua companheira (Lora Kmielauskaite) e a filha de 16 anos (Ina Marija Bartaité, filha do realizador) passam uns dias na sua casa de campo perto de Vilnius.

peace cartazHá um vizinho que pesca, um grupo de rapazes e raparigas diverte-se bebendo cerveja e tomando banho no rio, um grupo de caçadores e um rapaz que aparenta ter a mesma idade da filha.

Depois de se apoderar de uma espingarda observa o mundo que o rodeia através da mira telescópica. Haverá ainda um casal desavindo que fará uma visita.

Esta calma estival esconde, contudo, uma certa inquietação surda entre estas personagens sem nome.

O tal desejo da paz nos nossos sonhos, evocado no título, acabará por ser confirmado em diversas conversas a dois entre estas personagens que irão tendo no decurso do filme.

Numa delas, a companheira do pai, fala com uma vizinha idosa, esposa do pescador desempregado, e compara a felicidade ao tempo de vida efémero de uma borboleta, ela que interrompera logo no início do filme uma brilhante performance de violino com um momento de depressão. Ela mesma que confrontará o companheiro com a falta de comunicação.

Mas este homem, que parece desconhecer o sorriso, terá com a filha talvez o diálogo mais relevante, ao procurar relativizar as suas dúvidas, reforçando que fazem parte da vida.

Esta é talvez a sequência central deste filme muito pessoal, onde acaba por ser evocada a mãe da jovem Bartaite (a antiga mulher de Bartas, a russa Katya Golubeva (Pola X), cuja causa de morte continua em 2011 a ser desconhecida) onde ambas aparecem juntas num filme caseiro que o pai lhe mostra.

Sem uma linha narrativa vincada, apenas centrado nestes diálogos improvisados e carregados de simbolismo filosófico, Bartas cria belos quadros humanos captados pela fotografia magnífica de Eitvydas Doshkus, capaz de penetrar na intimidade das personagens e ficar muito perto da alma.

Mesmo que às personagens seja dispensado o seu nome, que nem nos créditos é referido.

Nota: A nossa avaliação de * a *****

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