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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Pearl Harbor, 75 anos depois

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Identificação de vítimas prossegue 75 anos após ataque de Pearl Harbor

Hoje, 7 de Dezembro, passam 75 anos sobre o ataque a Pearl Harbor e, apesar de ter sido há tanto tempo, continua a ser o momento marcante da nossa era. Continua a definir o modo como olhamos o mundo e o dia em que aconteceu aconteceu, bem como a dimensão da nossa resposta, redefiniram os Estados Unidos e é algo com que ainda nos confrontamos.

A origem do ataque foi um emergir extraordinário do Japão

Quando o comandante Mattew Perry obrigou o Japão a fazer trocas comerciais com os Estados Unidos em 1853, o Japão era uma sociedade baseada em anima e músculos humanos. Não havia máquinas a vapor, caminhos de ferro ou indústria.

Em 1905, a marinha japonesa derrotou os russos e o Japão surgiu como um importante poder industrial. Não tinha recursos minerais que era obrigado a importar. Para sustentar a sua indústria, tinha que negociar com os seus rivais, a China, as Índias Orientais Holandesas e a Indochina, todas sob controle de poderes europeus.

Com o tempo, tornou-se economicamente mais seguro e invadiu a China. Os Estados Unidos não queriam enfrentar um conflito com o Japão no Pacífico e apoiaram a resistência chinesa, mas o momento decisivo foi a ocupação da França e da Holanda pela Alemanha, em 1940. O Japão tinha acordos com ambos os países sobre entregas de minerais das suas colónias. Iriam as autoridades coloniais honrar esses acordos? Os Estados Unidos fizeram tudo para os quebrar.

O Japão invade a Indochina para garantir os recursos lá existentes, e os EUA  impõe-lhe um embargo. A reserva de petróleo da Japão daria para poucos meses. Os EUA exigiram que o Japão retirasse da Indochina e da China.

O Japão temeu, caso concordasse, que os Estados Unidos controlassem o seu futuro, os submarinos americanos ao largo das Filipinas bloqueariam as suas linhas de fornecimento. Ocupar as áreas pretendidas significava a guerra.

Os americanos anteciparam um ataque japonês nas Filipinas e decidiram lançar a sua frota a partir de Pearl Harbor. Forçariam a marinha japonesa a uma batalha decisiva para a destruir, reconquistando as Filipinas.

Planeamento e erros de cálculo dos EUA

Os Japoneses conheciam o plano e sabiam que, se os EUA escolhessem a data e o local do confronto,  poderiam perder. Então, fizeram o que os Estados Unidos pensaram ser impossível, atacaram Pearl Harbor, de norte, com porta-aviões. A frota americana foi destroçada e passou muito tempo até que pudesse preparar um ataque contra o Japão que,  entretanto, criou um império no Pacífico para evitar o inevitável contra-ataque.

Os japoneses pensaram que os Estados Unidos negociariam um acordo de paz, o que não aconteceu. Os Estados Unidos não podiam aceitar que tentassem tomar o controlo do Pacífico. E, no final, se os EUA aceitassem os custos de guerra, o seu poder industrial aumentaria.

Note-se, os Estados Unidos usaram uma estratégia que se tornou agora um lugar-comum, as sanções económicas, para tentar forçar outro país a alterar o seu comportamento. De salientar que aqui se revelou um problema. Não só o embargo pode não ser eficaz, como, em caso de embargo, o país-alvo pode preferir a guerra à capitulação. Assim, uma estratégia concebida para evitar guerra através de medidas económicas pode resultar em guerra.

Os Estados Unidos esperavam um ataque japonês, mas não em Pearl Harbor. Noutro local poderia ser revertido se a frota estivesse intacta

O erro de cálculo foi triplo. Primeiro, os Estados Unidos nunca pensaram que os japoneses arriscassem trazer a sua frota a 300 milhas do Hawai, no Inverno, atravessando as tempestades geladas do Pacífico. Segundo, não acreditaram que porta-aviões pudessem afundar os grandes navios de guerra (apesar do ataque semelhante britânico à marinha italiana). Terceiro, acreditava-se que Pearl Harbor era demasiado plano para ataques com torpedos. Os Estados Unidos subestimaram a ousadia do Japão, o seu poder naval e aéreo e a sua capacidade tecnológica.

Os EUA foram condescendentes a todos os níveis. A condescendência e a subestimação do inimigo penetraram todos os níveis do pensamento americano. (Acontecimentos não previstos podem acontecer a qualquer momento — isto é verdade, não só para o mundo em geral como para o investimento.)

Os Legados de Pearl Harbor

Depois da guerra, a complacência foi substituída por um estado de alerta obsessivo. No NORAD, North American Aerospace Defense Command, o alerta obsessivo tornou-se uma religião. O NORAD espera e observa, minuto a minuto, desde a Guerra Fria até hoje…

Nenhum cenário é demasiado absurdo, nenhum momento é totalmente seguro e qualquer ataque pode surgir a qualquer momento de qualquer direcção. Esta não é uma visão irracional. É também a corcunstância que mudou os Estados Unidos para sempre.

Pearl Harbor ensinou que os Estados Unidos podem ser destruídos por condescendência. Podem ser surpreendidos, como no 11 de Setembro, mas mantêm-se na expectativa, nunca mais tão seguros como a 6 de Dezembro

Existe outro legado, mais profundo. Após Pearl Harbor, os Estados Unidos tiveram que montar um vasto aparato militar para enfrentar, em simultâneo, a Alemanha e o Japão. Para isto, o governo teve que, virtualmente, nacionalizar a economia. A quantidade de material, a alocação de pessoal nas fábricas e o controle de produção de bens civis foram todos decididos pelo governo.

As liberdades cívicas — desde os direitos dos japoneses-Americanos à liberdade de expressão — foram banidos. Foi imposta uma religião de secretismo.  Os Estados Unidos vêm-se a lutar pela própria vida e poucos se opuseram à extensão do poder do governo federal. Mudou a sociedade americana até aos dias de hoje.

Reformular a Relação do Estado com o Seu Povo

Em muitos casos, o New Deal funcionou, mas, de facto, não atingiu o seu objectivo — o fim da Depressão e o aumento do poder federal, isso foi alcançado pela II Guerra Mundial, de um modo jamais imaginado. O governo federal mudou a sua relação com a sociedade. Houve uma guerra e, para a combater, foi inevitável a criação de um estado forte que deu um sentido de segurança. Continuou a ser um sempre presente árbitro do dia-a-dia e a nação não voltou a considerar a condescendência como opção.

Nunca mais as forças militares, o exército, os aviões seriam ineficazes. A  tecnologia não foi importada do sector privado para o sistema de defesa, mas sim exportada. O Manhattan Project demonstrou que o estado podia criar, e o microchip, a Internet e as bases de dados computorizadas surgiam para se tornarem produtos civis.

O aparato da segurança nacional permaneceu no centro da sociedade americana e o governo federal, que o controla, ganhou um poder enorme. Talvez mais importante, a ilusão, antes da guerra, que esta era marginal às nossas vidas mudou.

Pearl Harbor não é História Antiga , é algo que permanece na psique americana e está impregnada nas instituições nacionais. E, ao mesmo tempo que colocamos embargos ao nosso próximo adversário, é importante nunca esquecer Pearl Harbor

Os Estados Unidos adoptaram a estratégia da pronta resposta a qualquer desafio — Coreia, Vietname, Iraque, Afeganistão e, novamente, o Iraque. E o secretismo cobre as decisões que são tomadas. Alguns opor-se-ão, não entendem… Pearl Harbor aconteceu. O mundo é perigoso e o perigo advém de decisões imprevistas. Os Estados Unidos não criaram o mundo, foi o contrário. É assim!

A negação da realidade não é uma estratégia. 75 anos depois, os Estados Unidos mudaram para sempre devido a uma falta de imaginação, uma confiança na segurança e uma incapacidade para entender de que o inimigo é capaz. Resultou numa cultura de ansiedade, tanto quanto o poder nuclear russo, quanto os terroristas muçulmanos. A tendência, na altura, para minimizar os japoneses leva-nos, agora, a maximizar os nossos medos.

Pearl Harbor não é História Antiga , é algo que permanece na psique americana e está impregnada nas instituições nacionais. E, ao mesmo tempo que colocamos embargos ao nosso próximo adversário, é importante nunca esquecer Pearl Harbor.

Fonte: Mauldin Economics

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