Hoje, 7 de Dezembro, passam 75 anos sobre o ataque a Pearl Harbor e, apesar de ter sido há tanto tempo, continua a ser o momento marcante da nossa era. Continua a definir o modo como olhamos o mundo e o dia em que aconteceu aconteceu, bem como a dimensão da nossa resposta, redefiniram os Estados Unidos e é algo com que ainda nos confrontamos.
A origem do ataque foi um emergir extraordinário do Japão
Quando o comandante Mattew Perry obrigou o Japão a fazer trocas comerciais com os Estados Unidos em 1853, o Japão era uma sociedade baseada em anima e músculos humanos. Não havia máquinas a vapor, caminhos de ferro ou indústria.
Em 1905, a marinha japonesa derrotou os russos e o Japão surgiu como um importante poder industrial. Não tinha recursos minerais que era obrigado a importar. Para sustentar a sua indústria, tinha que negociar com os seus rivais, a China, as Índias Orientais Holandesas e a Indochina, todas sob controle de poderes europeus.
Com o tempo, tornou-se economicamente mais seguro e invadiu a China. Os Estados Unidos não queriam enfrentar um conflito com o Japão no Pacífico e apoiaram a resistência chinesa, mas o momento decisivo foi a ocupação da França e da Holanda pela Alemanha, em 1940. O Japão tinha acordos com ambos os países sobre entregas de minerais das suas colónias. Iriam as autoridades coloniais honrar esses acordos? Os Estados Unidos fizeram tudo para os quebrar.
O Japão invade a Indochina para garantir os recursos lá existentes, e os EUA impõe-lhe um embargo. A reserva de petróleo da Japão daria para poucos meses. Os EUA exigiram que o Japão retirasse da Indochina e da China.
O Japão temeu, caso concordasse, que os Estados Unidos controlassem o seu futuro, os submarinos americanos ao largo das Filipinas bloqueariam as suas linhas de fornecimento. Ocupar as áreas pretendidas significava a guerra.
Os americanos anteciparam um ataque japonês nas Filipinas e decidiram lançar a sua frota a partir de Pearl Harbor. Forçariam a marinha japonesa a uma batalha decisiva para a destruir, reconquistando as Filipinas.
Planeamento e erros de cálculo dos EUA
Os Japoneses conheciam o plano e sabiam que, se os EUA escolhessem a data e o local do confronto, poderiam perder. Então, fizeram o que os Estados Unidos pensaram ser impossível, atacaram Pearl Harbor, de norte, com porta-aviões. A frota americana foi destroçada e passou muito tempo até que pudesse preparar um ataque contra o Japão que, entretanto, criou um império no Pacífico para evitar o inevitável contra-ataque.
Os japoneses pensaram que os Estados Unidos negociariam um acordo de paz, o que não aconteceu. Os Estados Unidos não podiam aceitar que tentassem tomar o controlo do Pacífico. E, no final, se os EUA aceitassem os custos de guerra, o seu poder industrial aumentaria.
Note-se, os Estados Unidos usaram uma estratégia que se tornou agora um lugar-comum, as sanções económicas, para tentar forçar outro país a alterar o seu comportamento. De salientar que aqui se revelou um problema. Não só o embargo pode não ser eficaz, como, em caso de embargo, o país-alvo pode preferir a guerra à capitulação. Assim, uma estratégia concebida para evitar guerra através de medidas económicas pode resultar em guerra.
O erro de cálculo foi triplo. Primeiro, os Estados Unidos nunca pensaram que os japoneses arriscassem trazer a sua frota a 300 milhas do Hawai, no Inverno, atravessando as tempestades geladas do Pacífico. Segundo, não acreditaram que porta-aviões pudessem afundar os grandes navios de guerra (apesar do ataque semelhante britânico à marinha italiana). Terceiro, acreditava-se que Pearl Harbor era demasiado plano para ataques com torpedos. Os Estados Unidos subestimaram a ousadia do Japão, o seu poder naval e aéreo e a sua capacidade tecnológica.
Os EUA foram condescendentes a todos os níveis. A condescendência e a subestimação do inimigo penetraram todos os níveis do pensamento americano. (Acontecimentos não previstos podem acontecer a qualquer momento — isto é verdade, não só para o mundo em geral como para o investimento.)
Os Legados de Pearl Harbor
Depois da guerra, a complacência foi substituída por um estado de alerta obsessivo. No NORAD, North American Aerospace Defense Command, o alerta obsessivo tornou-se uma religião. O NORAD espera e observa, minuto a minuto, desde a Guerra Fria até hoje…
Nenhum cenário é demasiado absurdo, nenhum momento é totalmente seguro e qualquer ataque pode surgir a qualquer momento de qualquer direcção. Esta não é uma visão irracional. É também a corcunstância que mudou os Estados Unidos para sempre.
Existe outro legado, mais profundo. Após Pearl Harbor, os Estados Unidos tiveram que montar um vasto aparato militar para enfrentar, em simultâneo, a Alemanha e o Japão. Para isto, o governo teve que, virtualmente, nacionalizar a economia. A quantidade de material, a alocação de pessoal nas fábricas e o controle de produção de bens civis foram todos decididos pelo governo.
As liberdades cívicas — desde os direitos dos japoneses-Americanos à liberdade de expressão — foram banidos. Foi imposta uma religião de secretismo. Os Estados Unidos vêm-se a lutar pela própria vida e poucos se opuseram à extensão do poder do governo federal. Mudou a sociedade americana até aos dias de hoje.
Reformular a Relação do Estado com o Seu Povo
Em muitos casos, o New Deal funcionou, mas, de facto, não atingiu o seu objectivo — o fim da Depressão e o aumento do poder federal, isso foi alcançado pela II Guerra Mundial, de um modo jamais imaginado. O governo federal mudou a sua relação com a sociedade. Houve uma guerra e, para a combater, foi inevitável a criação de um estado forte que deu um sentido de segurança. Continuou a ser um sempre presente árbitro do dia-a-dia e a nação não voltou a considerar a condescendência como opção.
Nunca mais as forças militares, o exército, os aviões seriam ineficazes. A tecnologia não foi importada do sector privado para o sistema de defesa, mas sim exportada. O Manhattan Project demonstrou que o estado podia criar, e o microchip, a Internet e as bases de dados computorizadas surgiam para se tornarem produtos civis.
O aparato da segurança nacional permaneceu no centro da sociedade americana e o governo federal, que o controla, ganhou um poder enorme. Talvez mais importante, a ilusão, antes da guerra, que esta era marginal às nossas vidas mudou.
Os Estados Unidos adoptaram a estratégia da pronta resposta a qualquer desafio — Coreia, Vietname, Iraque, Afeganistão e, novamente, o Iraque. E o secretismo cobre as decisões que são tomadas. Alguns opor-se-ão, não entendem… Pearl Harbor aconteceu. O mundo é perigoso e o perigo advém de decisões imprevistas. Os Estados Unidos não criaram o mundo, foi o contrário. É assim!
A negação da realidade não é uma estratégia. 75 anos depois, os Estados Unidos mudaram para sempre devido a uma falta de imaginação, uma confiança na segurança e uma incapacidade para entender de que o inimigo é capaz. Resultou numa cultura de ansiedade, tanto quanto o poder nuclear russo, quanto os terroristas muçulmanos. A tendência, na altura, para minimizar os japoneses leva-nos, agora, a maximizar os nossos medos.
Pearl Harbor não é História Antiga , é algo que permanece na psique americana e está impregnada nas instituições nacionais. E, ao mesmo tempo que colocamos embargos ao nosso próximo adversário, é importante nunca esquecer Pearl Harbor.
Fonte: Mauldin Economics