Diário
Director

Independente
João de Sousa

Quinta-feira, Março 28, 2024

Pequenos pormenores ou grandes problemas?

J. A. Nunes Carneiro, no Porto
J. A. Nunes Carneiro, no Porto
Consultor e Formador

DIA 15, FALAMOS

A questão da imagem dos nossos deputados junto dos cidadãos há muito que se coloca e estes casos mais recentes apenas corroboram a ideia de que mais do que servir o país e os seus eleitores…

A comunicação social tem divulgado, nos últimos meses, um conjunto de factos e notícias sobre a falta de princípios éticos de diversos deputados à nossa Assembleia da República, designadamente: falsas declarações de residência para obter um subsídio, viagens para as regiões autónomas com recebimento indevido de apoio financeiro e a marcação de presenças por parte de um colega de bancada quando um deputado está ausente. Sempre com um qualquer tipo de benefício ilegítimo.

A questão da imagem dos nossos deputados junto dos cidadãos há muito que se coloca e estes casos mais recentes apenas corroboram a ideia de que mais do que servir o país e os seus eleitores, alguns (sublinho: alguns) deputados tratam da sua vidinha, das suas regalias e, obviamente, das suas bolsas…

A questão em si já é grave e devia, se se confirmar, conduzir à perda de mandato pois mentir, apropriar-se de valores que não lhe são devidos ou utilizar esquemas pouco claros para os obter não são, definitivamente, a melhor referência para qualquer um de nós e, menos ainda, para um deputado. Por isso, tem de ser sancionada sob pena de gerar uma sensação de impunidade.

Neste contexto, vale a pena falar destes supostos pormenores no sentido de os denunciar e de tentar, de alguma forma, mobilizar a opinião pública para que não se continuem a verificar.

Do meu ponto de vista, devíamos aproveitar estas questões para, com ponderação mas também com veemência, condenar todos os deputados que incorram nessas práticas ilícitas e, sobretudo, moralmente reprováveis.
Ao mesmo tempo, a Assembleia da República devia tomar as decisões que, no âmbito do seu quadro de gestão e de princípios de funcionamento, criassem condições claras e objectivas para que estas manigâncias não voltassem a repetir-se.

Infelizmente e de forma irresponsável, não é a isso que assistimos. Passaram já várias semanas e nada de relevante foi feito. Nada de significativo foi decidido: nem no parlamento, nem nos grupos parlamentares dos partidos.

A palavra de ordem foi investigar. Talvez nomear um grupo de trabalho, que produza um relatório cujas conclusões sejam debatidas e… entretanto, na sociedade, nas ruas, nos cafés, nas conversas o que continuamos a ouvir o desgastado mas eficaz discurso do “são todos iguais”, do “vão para lá é para roubar”, do “uma corja”…

O efeito corrosivo das práticas dos deputados na sociedade é muito grande. Os impactos na saúde da nossa democracia são enormes e tendem a aumentar.

A forma leviana como partidos, instituições, deputados e outros actores políticos encaram esta situação como se se tratassem de pequenos pormenores é mais do que preocupante. Se isso, daqui a algum tempo, facilitar uma deriva populista será um grande problema.

Finalmente, uma palavra de tristeza. A própria comunicação social em vez de continuar alerta e de persistir no tema, acaba por o deixar cair no esquecimento que é uma outra forma de cumplicidade.


Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante  subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Exit Costa

E agora Marcelo?

Governo Sombra?

A Lava Jato e seu epitáfio

Mais lidos

Exit Costa

E agora Marcelo?

Mentores espirituais

Auto-retrato, Pablo Picasso

- Publicidade -