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Sexta-feira, Outubro 11, 2024

Petróleo: A “Basookada” Saudita

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica
Foto de Alex Bordalo

A Arábia Saudita começa a aperceber-se que deu uma “basookada” nos pés com a sua estratégia radical de baixa dos preços do petróleo. 

O ministro das Finanças de Rihad teve, agora, de sair a terreiro para  relativizar o corte que a Standard & Poor’s fez ao “rating” saudita, passando-o de AA- para A+ e avisando ainda para um horizonte de “outlook” negativo… Ninguém, porém, ‘comprou’ as explicações do ministro que classificou a decisão da S&P de “reaccionária” e provocada pelas “condições fluídas no mercado e não por quaisquer fundamentos económicos”. 

Ao mesmo tempo, o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros sentia-se na obrigação de garantir publicamente que “a situação é gerível”. Claro que é “gerível”! O problema é o que isso significa e onde leva, a longo prazo, esta dinâmica negativa. Líder da OPEP e senhora de uma incalculável fortuna colocada, sobretudo, em fundos e outros investimentos fora do país (que, curiosamente, começa a repatriar…), a Arábia Saudita está longe da insolvência. Não é essa a questão.

A notação da S&P, neste caso, foi gerada pelo facto de a Arábia Saudita estar a perder, semanalmente, muitos milhares de milhões de dólares nas suas trocas externas, pois são as receitas do petróleo que pagam as contas externas de um país que, além de petróleo, nada produz e importa… tudo. E de não se prever qualquer alteração nesta dinâmica de défice.

A actual situação (criada pela estratégia saudita que colapsou em mais de 60% o preço do ‘crude’…) está a deprimir os mercados petrolíferos (cada petro-Estado é obrigado a colocar mais petróleo para compensar a queda dos preços e assim vai ‘alimentando’ essa queda…) e deprime também os Estados totalmente dependentes dessas receitas (como Irão, Venezuela, Nigéria, Líbia, Equador e outros…). 

Estas circunstâncias não permitem vislumbrar, num horizonte previsível, qualquer subida significativa dos preços. E esse é o problema para todos os produtores. Até para os sauditas. 

Ao arrastar-se, esta conjuntura tem consequências devastadoras que também atingem em cheio os Estados da CPLP produtores de petróleo e gás: Brasil, Angola, Moçambique, Guiné Equatorial, Timor-Leste. E, consequentemente, atingem Portugal. 

Não seria pior se Governo e PR prestassem alguma atenção ao assunto…

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