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Quarta-feira, Abril 24, 2024

Quais os benefícios das importações?

João Ricardo Costa Filho
João Ricardo Costa Filho
Professor do Mestrado Profissional em Economia da Fundação Getúlio Vargas/EESP e Professor da Faculdade de Economia da FAAP

Em tempos de uma virada protecionista por parte de importantes players globais parece ser importante dar um passo atrás e lembrar a importância do comércio internacional e, principalmente, dos benefícios das importações para uma economia. Em um artigo publicado na American Economic Review em 1993, Paul Krugman fez uma interessante análise sobre alguns princípios básicos relacionados ao comércio internacional: What Do Undergrads Need to Know About Trade? (O que os universitários precisam saber sobre importação?).

Empresas competem com empresas

Primeiro, é necessário compreendermos que o comércio internacional é fundamentalmente uma relação de troca mutuamente benéfica. Países não competem entre si, e sim as empresas competem com empresas. Essa diferença é extremamente importante para identificar que os ganhos do comércio internacional estão majoritariamente nas importações, e não nas exportações: importar produtos com uma tecnologia superior, ou intensivos em recursos menos escassos em outros países, por preços menores do que se fossem produzidos domesticamente. Quando o comércio se dá entre países semelhantes, podem ocorrer ganhos de escala nas duas direções.

Fechar-se ao comércio internacional é eliminar uma importante porta de acesso à tecnologia e a mercados maiores. Como diria Krugman, o comércio internacional é uma atividade econômica como outra qualquer, sujeita aos mesmos princípios de uma economia fechada. Assim, se os custos para trazer produtos da China são menores do que os de levar produtos de uma ponta a outra de um país, o problema está na infraestrutura do mesmo, e não no valor dos produtos chineses.

Progresso tecnológico e produtividade

Nesse contexto é fundamental entender o papel da produtividade. Para aumentar o padrão de vida das pessoas, faz-se necessária uma agenda genuína de produtividade. No longo prazo, o crescimento é ditado pelo progresso tecnológico. Este é direcionado pela inovação e pela educação. Para inovar, o arranjo institucional deve estimular a iniciativa privada a buscar as melhores soluções, em um ambiente econômico competitivo cujas regras são claras e estáveis. Aumentos de tarifas de importação para proteger empresas nacionais vão na contramão das prescrições da teoria econômica. Para ter uma indústria saudável, deve-se estimular a competição e proporcionar a ela a oportunidade de adquirir os melhores produtos de outros países, a preços baixos. Aí entra também a educação.

Não adianta ter os melhores processos de produção sem profissionais qualificados. Os países que fizeram as lições de casa nesse sentido colhem hoje os frutos de uma educação bem estruturada. Na outra ponta, países que postergaram essa agenda sofrem para competir e se veem tentados a escolher a saída mais fácil, mas que não resolve o problema.

Há sempre a questão do emprego. No curto prazo, a demanda agregada dita o nível de emprego, mas no longo prazo este se dá pela sua taxa natural. Portanto, o comércio internacional deve ser analisado sob a ótica dos incrementos à eficiência, e não somente sobre quantos empregos são criados ou perdidos. É claro que a política econômica deve objetivar a suavização dos ciclos de negócio mirando o pleno emprego. Mas aumentar tarifas de importação vai contra a criação de postos de trabalho. A proteção proporciona espaços para a prática de preços maiores. Com os produtos custando mais, as famílias demandam menos produtos e, portanto, há uma menor necessidade de mão de obra para produzi-los. Se a renda disponível diminuir, há também perda de demanda e emprego em outros setores.

Blindar a indústria é solução?

Nesse arranjo, o governo deve abster-se de auxiliar indústrias específicas. As políticas de campeões nacionais podem até ajudar alguns poucos selecionados, em detrimento de outras empresas que ficam em segundo plano na alocação dos recursos tão escassos. Mas o resultado líquido é insatisfatório. O governo deve regulamentar e fiscalizar, de maneira horizontal, proporcionando o melhor arranjo institucional possível. Criadas as condições ideais, o mercado fará o resto. Blindar a indústria da concorrência nacional parece uma solução fácil, mas um olhar atento revela que não é fácil, e muito menos, solução.

O Autor escreve em português do Brasil

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