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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Robotização e desemprego

Jorge Fonseca de Almeida
Jorge Fonseca de Almeida
Economista, MBA, Pos-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança, Auditor do curso de Prospectiva, geoeconomia e geoestratégia, Doutorando em Sociologia

Robotização e desemprego

No entanto não são estes factores que contribuem para a falta de emprego mas sim a forma como a sociedade está organizada em torno de um único objectivo: o lucro.

Muitas actividades, desde o simples fritar hambúrgueres até ao diagnóstico médico, passando por muitas tarefas administrativas, podem ser substituídas com vantagem social por máquinas.

Os testes com carros que não precisam de condutor já começaram, ameaçando taxistas e motoristas de autocarros e camiões. Mas os carros também ameaçaram os condutores de carroças sem que o emprego total tivesse diminuído.

No final dos anos 80 em que a crise assolou as economias ocidentais o receio da robotização surgia nas primeiras páginas das principais revistas de gestão. Hoje assiste-se a fenómeno semelhante.

Sem dúvida que a tecnologia permite produzir a mesma quantidade em menor tempo, o que significa que pelo mesmo salário se poderia trabalhar menos horas. Algumas sociedades estão a ir por esse caminho.

No entanto se o objetivo for exclusivamente a maximização do lucro a nova maquinaria pode levar à simultânea redução do emprego, aumento das horas de trabalho e redução de salários. Daí a necessidade de regulação, de reforço da intervenção sindical e de negociação social.

A maquinaria permite, ao exigir menos trabalho para a produção de um bem, baixar o preço dessa mercadoria alargando o seu mercado a mais pessoas.

Este efeito tende a aumentar a produção e a requerer mais horas de trabalho. O que pode ser conseguido aumentando o horário de trabalho ou contratando mais trabalhadores.

Novamente a regulação é essencial, nomeadamente estabelecendo limites aos horários e mínimos de pagamento para as horas extraordinárias. Se dominar o liberalismo serão as horas extraordinárias não pagas a imperar como já se verifica em Portugal em alguns sectores.

A fonte do valor e do lucro é o trabalho. Uma produção que não exigisse trabalho humano, não poderia gerar qualquer lucro. Uma sociedade sem trabalho poderá sem dúvida existir mas não será uma sociedade capitalista como a actual.

Nesse sentido as elites económicas resistem a uma evolução nessa direcção, procurando pelo contrário desenvolver novas actividades em que o trabalho possa ser usado, de forma mais intensiva, e maiores lucros gerados.

Assim aconteceu aquando da crise dos anos 80 que levou a uma grande expansão da utilização do trabalho através da mundialização do sistema económico.

Muitas áreas em que a mecanização e a robotização poderiam ser usadas para produzir os bens que fazem falta a milhões de seres humanos, como na indústria farmacêutica, ela não avança porque não seria gerada a taxa de lucro suficiente para os investidores. É o que alguns economistas designam por contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais de produção.

Os dois países mais robotizados do mundo são os Estados Unidos e o Japão

Ambos estão actualmente muito próximo do pleno emprego. Como se vê, o interesse das elites económicas é alargar cada vez mais o número de trabalhadores.

Com regulação dos mercados e com incentivos corretos aos diversos parceiros envolvidos, é possível modernizar o tecido produtivo sem lançar o caos no mercado de trabalho, nem a miséria nas classes assalariadas e sem beliscar as regalias sociais dos trabalhadores.

Em conclusão: a tecnologia pode gerar desemprego? Sim e não. Espontaneamente sim, mas essa tendência pode ser contrariada. Depende essencialmente da força que os trabalhadores e a sociedade derem aos sindicatos e das estratégias económicas seguidas pelos governantes.

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