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João de Sousa

Sábado, Abril 27, 2024

Steve Jobs: O homem por detrás da maçã

Classificação: ****

steve-jobs-movie-2015-holding“Têm de dizer-me onde fica a casa de banho, pois posso ter de ir vomitar a qualquer momento”. Quem o diz é Steve Jobs, não no filme de Danny Boyle que estreia esta semana, mas no documentário também deste ano, intitulado “Steve Jobs: The Man in the Machine”, da autoria de Alex Gibney. A ideia não era travestir este artigo puxando à liça um outro filme sobre o criador da Apple, mas tão só invocar a cena de abertura desse documentário, sobre os momentos que antecipam um directo televisivo. Do registo documental televisivo para a ficção documentada cinematográfica estamos até bastante próximo, pois no filme de Boyle vivem-se os momentos que antecedem o lançamento do Macintosh, o tal computador pessoal que acabou por ser man of the year e capa da revista Time, naquele ano orwelliano de 1984.

Na verdade, na vida e na carreira de Steve Jobs pouco, ou muito pouco, se terá feito por mero acaso. É que a sua mente brilhante, com tanto de génio como de louco, foi capaz de concretizar algo que fazia apenas parte do domínio onírico – algo tão simples como ter um computador em casa, guardar num sucedâneo de walkman portátil um milhar de músicas, engendrar um telefone com muitas das funcionalidades de um computador pessoal, simplesmente deslizar os dedos por um ecrã táctil para trabalhar ou dar largas ao entretenimento ou usar no pulso muitas dessas funcionalidades, ao mesmo tempo que consultamos as horas.steve-jobs-michael-stuhlbarg-michael-fassbender-kate-winslet.w750.h560.2x

Escrito com a verve de que só Aaron Sorkin parece conseguir retirar do confronto dos diálogos de diversas mentes inteligentes. Vimos o efeito final na série “The West Wing”/”Os Homens do Presidente” que nos envolveu nos meandros tão específicos da política americana, mas também da recriação de outro dos talentos do século XXI como Mark Zuckerberg, em “A Rede Social”, entre outros. Mas também com a visão de Danny Boyle, embora não com a solução inicialmente prevista de David Fincher, descartada devido às pretensões ousadas do realizador de “Os Homens Que Odeiam as Mulheres” e… “A Rede Social”.

No entanto, nenhum filme sobre Steve Jobs seria credível sem um actor capaz de se erguer à sua estatura. Razão pela qual Jobs, apenas apostado nas eventuais semelhanças de Ashton Kutcher revelou-se, digamos como elogio, insuficiente. Mesmo que Michael Fassbender não revele o lado mais imediato da proximidade física – algo que Boyle nunca tentou mimetizar -, podemos compreender que seria difícil alguém habitar semelhante personagem com maior intensidade.

É o autor híper-perfeccionista de todos estes produtos tecnológicos com uma elevada componente lúdica, como também uma inesperada invenção, uma menina que decidiu chamar Lisa, mas que durante muito tempo se recusou a assumir a paternidade, negando mesmo o adequado apoio alimentar. Um chip morto no ecrã luminoso de Jobs, que é recriado no filme com alguma intensidade pelas actrizes Katherine Waterston, como a ex-companheira Chrissan Brennan e a filha Lisa, interpretada por diferentes actrizes.

Kate-Winslet-Miachel-FassbenderO filme acompanha três momentos pivôs na carreira de Jobs. Desde a afirmação global com a apresentação do computador portátil Macintosh, em 1984, usando o célebre spot orwelliano, passando pelo fracasso do cubo negro NeXT, 1988, até à chegada do inovador iMac, em 1998. Pelo meio, as desavenças com Steve Wozniak (Seth Rogen), o administrador da Apple John Scully (Jeff Daniels), embora sempre temperadas pela indispensável assistente pessoal e responsável pelo marketing Joanna Hoffman (Kate Winslet), todos em equivalente e elevado contributo dramático.

Este é então o lado dos bastidores de Steve Jobs, o tal visionário que queria (e podia) mudar o mundo. Pensar diferente foi a solução. Foi esse o lema da companhia da maçã. Imagine-se então os momentos que antecederam  todos estes lançamentos que mudaram (o nosso) mundo. Sempre carregando parte de poeta louco, parte de mente brilhante. Tal como o tema de Dylan…

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Will be later to win

For the times they are a-changin’.

Bob Dylan

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