Trump fez da tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU) um palanque a mais de sua difícil campanha pela reeleição presidencial. Fez da China um bode expiatório de seu próprio fracasso.
A exacerbação da beligerância contra o gigante asiático, num discurso permeado de inverdades, beirando ao xingatório, mais do que pequenez estampou o declínio da hegemonia dos Estados Unidos da América.
Ou, dito de outro modo: a retórica exasperada de uma potência que depois de seu apogeu, de longeva supremacia, descreve um percurso de declínio econômico e político. Soou patético um Trump lunático a denunciar um complô contra o mundo formado por um conluio da China com a Organização Mundial de Saúde (OMS). O “vírus chinês” teria se espalhado no planeta, pela ação deliberada de Pequim, com a cumplicidade da OMS, segundo seu delírio.
Trump tenta, com essa argumentação fantasiosa, transferir aos chineses a responsabilidade pela tragédia de 200 mil mortes de cidadãos e cidadãs estadunidenses pelo novo coronavírus. Essa responsabilidade é inteiramente dele, que minimizou a gravidade da pandemia e desprezou o protocolo das autoridades sanitárias de seu próprio país. Em síntese: foi irresponsável e incompetente. O festival de mentiras do presidente brasileiro Jair Bolsonaro se assemelhou aos seu.
Trump se vangloriou do poder bélico dos Estados Unidos, enalteceu a política externa de seu governo marcada por ameaças e chantagens à soberania dos países. Repetiu seu bordão imperialista “América em primeiro lugar” à custa, como já se demonstrou, da pilhagem das riquezas de outros povos.
Já a fala do presidente da China, Xi Jinping, teve forma e conteúdo antagônicos. Em vez da virulência, a serenidade. No lugar de sofismas, a verdade dos fatos. Em resposta às ameaças, um chamado renovado à cooperação e a processos de intercâmbio entre países soberanos que resultem em ganhos recíprocos. Pedindo uma cooperação reforçada sobre a pandemia, enfatizou que a China não tem intenção de lutar “nem na Guerra Fria nem na quente”.
O embaixador da China nas Nações Unidas, Zhang Jun, também alertou para a irresponsabilidade de Trump ao dizer que enquanto a comunidade internacional está lutando arduamente contra a Covid-19, os Estados Unidos preferem espalhar “um vírus político”. “Devo enfatizar que o barulho dos Estados Unidos é incompatível com a atmosfera geral da Assembleia Geral”, acrescentou Zhang Jun.
Xi Jinping havia dito, antes da Assembleia Geral, que a ONU deve se opor ao unilateralismo, à intimidação ou a qualquer país que atue como “chefe do mundo”. Segundo ele, nenhum país tem o direito de dominar os assuntos internacionais, controlar o destino dos outros, ou manter todas as vantagens do desenvolvimento para si próprio. Menos ainda deve ser permitido que ele faça o que deseja e seja hegemônico, intimidador.
É imperativo, afirmou, que a representatividade e a voz dos países em desenvolvimento sejam aumentadas para que a ONU possa ser mais equilibrada na reflexão dos interesses e vontades da maioria dos países no mundo. Cabe à ONU, disse, defender o Estado de direito internacional e impedir que o mundo seja governado por aqueles que mostram o punho para os outros.
É a retórica da potência que se projeta, que busca se credenciar entre o conjunto das nações prometendo exercer outro tipo de protagonismo internacional, antípoda ao imperialismo.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado